É inevitável ouvir Jim Morrison sussurrar a frase que batiza o maior épico dos Doors à medida que começo a digitar. É a última Impressão Digital que assino, um mês após ela completar três anos. A coluna, que começou no Caderno 2 em 2010, era o último vínculo que tinha com este centenário jornal. Agora encerro a jornada que comecei em 2007.
(Minha relação com o Estado, contudo, é anterior ao Link. Durante os anos 90, colaborei com o extinto caderno Zap! e em sua versão reduzida, o Caderno Z. Foi ali que publiquei minha primeira matéria num grande veículo, ao comemorar o cinquentenário do gênio psicodélico Syd Barrett. Portanto, o fim da Impressão Digital talvez seja o encerramento do meu segundo ciclo na casa, não minha despedida final.)
Comecei a trabalhar no Link em maio de 2007, após sair da gravadora Trama. Em abril, o antigo editor-assistente do Link, Guilherme Werneck, me chamou para conversar. Ele estava saindo para dirigir a redação da revista Trip. Perguntou se eu toparia assumir seu cargo. Gostei da ideia - já acompanhava o caderno por atuar na cobertura de tecnologia desde o início da década passada.
Era outra época. O Orkut ainda era forte, o Facebook não existia fora dos EUA, o iPhone acabara de ser lançado, a Lei Azeredo pairava cogitando a obrigatoriedade de se digitar o CPF para acessar a internet, a internet via celular ainda era WAP, Rafinha Bastos e Danilo Gentili eram estrelas do YouTube.
Quando o Ilan Kow, que hoje ocupa o cargo de diretor de projetos da casa, assumiu a gestão dos suplementos do jornal, ele achou que eu funcionaria melhor como editor do Link. Foi aí, em maio de 2009, que comecei a mudar a forma como o caderno funcionava.
Transformei a seção de tecnologia do portal Estadão.com.br no site do Link. Ao procurar alguém para ser meu editor-assistente, Ilan e seu braço direito Luiz Américo Camargo me sugeriram a Heloisa Lupinacci, que trabalhava no caderno de Turismo da Folha de S. Paulo. No primeiro almoço que tive com Helô ela disse que não conhecia muito de tecnologia. "Não importa", frisei, "você tem que entender de jornalismo", antes de repetir um dos meus mantras: essa é das poucas profissões em que você é pago para aprender.
Com Helô como copilota, reestruturei a equipe que ficara desfalcada. Chamei Tatiana de Mello Dias, que já havia trabalhado comigo na Trama e estava na IstoÉ, o amigo Fred Leal para ser o "personal nerd" e Ana Freitas, que havia acabado de terminar o estágio no portal. O Filipe, repórter, tornou-se o editor do site do Link e, no ano seguinte, todo mundo ganhou sua coluna.
Estas mudanças atingiram a pauta de tal forma que o Link logo tornou-se referência não apenas entre os veículos que cobrem tecnologia, mas no jornalismo brasileiro. Na época a Helô, que hoje é editora-assistente do caderno Paladar, dizia que o Link não era um caderno, era um experimento jornalístico.
Ao fim de 2012, recebi o convite para dirigir a redação da Galileu. Mas o diretor de redação do Estado, Ricardo Gandour, queria manter meu vínculo no jornal e me propôs continuar com esta coluna. Filipe Serrano, que tornou-se o editor-assistente após a saída da Helô, assumiu a edição do caderno, cargo que ocupa hoje.
Nesta nova fase do Link, a Impressão Digital chega ao fim. Foram 152 colunas ininterruptas. Parece motivo de tristeza, mas é bom que as coisas terminem. Encerro meu segundo ciclo na centenária redação com uma pontinha de saudade e um enorme orgulho. Sei do bom trabalho que fiz e como foi bom conhecer todos que conheci - e são dezenas de pessoas, de velhos amigos que reencontrei a novos conhecidos que tornaram-se chapas, amigos e confidentes. Despeço-me de todos aqui - mas a vida continua e com certeza nos encontraremos por aí. Quem sabe, num futuro, até mesmo nas páginas deste jornal.
E não se esqueçam: só melhora!
Um abraço e tudo de bom.
*Alexandre Matias é diretor de redação da Revista Galileu