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O lado livre da internet

É possível ter um PC para jogos sem um sistema operacional proprietário?

Será que dá para usar jogos no Linux hoje?

Por CCSL
Atualização:
 Foto: Estadão

Por Alfredo Goldman*

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Hoje vou contar a saga para comprar um computador para meu filho, um pré-adolescente de 12 anos. Como estamos atualmente morando nos EUA, onde os preços são bem interessantes, comecei a minha busca procurando notebooks com bom desempenho. Após uma pesquisa nos principais distribuidores locais, descobri que seria possível comprar um notebook com uma configuração razoável por pouco menos de uns 500 dólares.

Mas nem tudo aqui nos EUA é tão fácil: comecei a ir de loja em loja, procurando uma opção que não viesse com o Windows pré-instalado. Não foi realmente de uma escolha ligada ao preço, pois as versões OEM (que vem instaladas nos computadores novos) nem são tão caras. O que eu desejava era poder instalar um Linux, provavelmente a versão Ubuntu, sem problemas. Infelizmente, devido a diversas mudanças recentes no padrão do firmware ("BIOS") dos computadores, isso não é mais tão imediato como antigamente, pois agora há uma espécie de "proteção" (secure boot, ou "boot seguro") que evita que sistemas não assinados sejam instalados facilmente. Essa proteção supostamente existe para evitar a propagação de vírus de computador, mas seu maior resultado prático é dificultar a instalação de sistemas não assinados (leia-se: sistemas que não o MS-Windows). Em geral é possível desabilitar essa proteção ou contorná-la de outras formas mas, como não é algo trivial, concluí que a forma simples de se ter um notebook com linux no sul da Califórnia seria encomendando pela Internet.

Mantive a minha teimosia em querer poder escolher e a alternativa viável que apareceu foi montar um computador. Foi aí que pedi auxílio aos "universitários", isso é, meus alunos de mestrado e doutorado, e fui à luta.  Descobri o quão fácil é montar um computador hoje: basta comprar as diversas peças (elas tem que ser compatíveis, mas isso não é complicado) e montar. Nesse momento, mais uma vez, foi possível fazer outra escolha por um produto que não é lider de mercado: o processador equivalente da concorrente custava cerca de um quarto do processador líder de mercado. Finalmente, fui também aconselhado a pegar uma boa placa gráfica, achei uma em oferta e pronto, tínhamos todas as peças.

Montar foi fácil e, em cerca de 1 hora, todos os componentes estavam no lugar. Bastou ligar e instalar uma imagem do Ubuntu, previamente baixada em um pendrive USB, e pronto, o computador estava funcionando! Para termos acesso aos jogos que usam recursos gráficos 3D, bastou instalar a versão do Steam para linux. Ele não é software livre, mas sim uma plataforma para jogos bem poderosa e que não está restrita a um sistema operacional específico. Hoje, o computador funciona bem, com dois monitores (seria possível ligar até quatro) e quase sem "lag" (sim, o meu filho joga com as resoluções, texturas, etc, tudo no máximo). Além disso, ele já começou a comprar jogos, após se divertir com as alternativas gratuitas mas não livres como Robocraft.

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Mas uma nuvem negra se aproxima para ameaçar essa história: uma tendência comum hoje é jogar e falar com os companheiros de jogo ao mesmo tempo. Em alguns jogos há essa possibilidade de forma nativa, mas em outros não. Nesses casos, ele usa o Skype. Foi uma pena saber, depois da compra, que a Microsoft aparentemente deixou de dar suporte aos usuários do Skype no Linux. Isso simplesmente não faz sentido, pois novos lançamentos continuam sendo feitos para Android, mas é claro que a Microsoft deve ter suas razões. Agora é a vez de a comunidade dos usuários optar por algum sistema mais aberto, como o WebRTC (que já está instalado na sua máquina se você utiliza Firefox ou algum dos navegadores não-livres compatíveis, como o Google Chrome e o Safari).

* Alfredo Goldman é Professor de Ciência da Computação no IME/USP e diretor do CCSL-IME/USP

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