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O lado livre da internet

Uma visita às startups de Israel

Por Fabio Kon*

Por CCSL
Atualização:

Acabei de retornar de Israel, onde passei quatro meses pesquisando sobre Empreendedorismo e Startups de Software. A região de Tel-Aviv parece ser a maior concentração de startups por habitante do planeta e eu pude notar que, além da alta quantidade de startups lá criadas, muitas delas possuem alta qualidade e são extremamente inovadoras. Tive a felicidade de visitar 25 startups com produtos muito interessantes e empreendedores apaixonados e entrevistar mais de 40 pessoas envolvidas na cena de inovação tecnológica de Israel.

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Um dos objetivos de minha pesquisa era analisar o papel do Software Livre nesse ecossistema. De um lado, o Software Livre pode ser usado como ferramenta e plataforma básica sobre a qual produtos inovadores são criados. Por exemplo, em 1998, um produto inovador, chamado Google, foi construído utilizando Linux e outras ferramentas livres. De outro lado, o próprio produto inovador pode ser distribuído como software livre e os ganhos da empresa são obtidos por meio da oferta de serviços em torno daquele software. Por exemplo, WordPress é a plataforma comercial de blogs mais famosa do planeta e seu código é distribuído como software livre.

Antes de embarcar, eu me fiz duas perguntas: Qual parcela das startups de software israelense usa software livre? Qual parcela distribui seus produtos como software livre? Eu esperava que a resposta à primeira pergunta seria em torno de 50%. Meu chute para a segunda pergunta era algo em torno de 5 a 10%, ou seja, uma pequena parcela das startups de software distribuiria seu produto como software livre.

No entanto, a realidade me surpreendeu. Absolutamente todas as 25 startups que visitei usam software livre de forma fundamental para seus negócios. Desde o ambiente de desenvolvimento utilizado pelos programadores (eclipse, compiladores), até as tecnologias que são combinadas para montar o produto (arcabouços web, bibliotecas) e os sistemas utilizados para oferecer os serviços aos usuários-finais (Linux, sistema Web Apache/Tomcat, bancos de dados PostgreSQL), a grande maioria dos componentes são software livre. Dezenas de CTOs, CEOs e desenvolvedores das startups me contaram que, sem o software livre, suas startups simplesmente não existiriam.

Isso demonstra que o desenvolvimento de um conjunto de ferramentas tecnológicas acessíveis livremente a toda a sociedade tem um potencial enorme para alavancar a inovação e a geração de negócios. Hoje, com a grande quantidade de software livre de alta qualidade, a barreira de entrada para novos empreendimentos é muito menor. O empreendedor pode se concentrar em inovar e não precisa gastar enorme esforço reinventando a roda ou comprando caras licenças de programas desenvolvidos por mega-corporações. Ele pode ir direto ao cerne da inovação e implementar um protótipo funcional de sua ideia de forma muito mais ágil. Se, antigamente, demorávamos alguns anos para implementar um novo sistema, agora demoramos alguns meses.

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Por outro lado, não encontrei nenhuma startup que tenha como produto principal um software livre. Não sei muito bem a causa disso, uma vez que na Europa, Rússia e Estados Unidos conheço vários casos. Talvez eu não tenha procurado o suficiente ou tenha tido azar em minhas buscas. Ou talvez a comunidade de software livre de Israel não seja organizada o suficiente para dar o suporte necessário para que se busquem modelos de negócios rentáveis em torno de um produto livre.

Meu período em Israel me levou a novas perguntas: Qual tipo de negócio comercial em torno de software pode ser feito de forma rentável e sustentável com software livre e qual não pode? Quais as características de uma startup de software que são apropriadas para um negócio baseado em software livre e quais não são? Taí um tópico para pesquisas futuras, um bom tema para um mestrado ou doutorado. Quem se habilita?

*Fabio Kon é Professor Titular de Ciência da Computação do IME-USP, onde pesquisa sobre Software Livre, Empreendedorismo e Sistemas Distribuídos, é vice-diretor do CCSL-IME/USP.

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