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Inovação e cultura maker contada por mulheres

Por que as tecnologias livres são fundamentais para a equidade de gênero

Hoje tirei um tempo em silêncio para pensar no que iria falar na mesa sobre "Gênero na Ciência e Tecnologia" - organizado pelo 1º Encontro Brasileiro de Hardware Aberto e Livre - que fosse diferente daquilo que habitualmente vemos nos debates de mulheres na TI. Zapeando artigos, vendo apresentações no slideshare, acabei caindo na apresentação da Karen Sandler, diretora executiva da Software Freedom Conservancy. Em sua palestra, Karen mostra como o interesse das empresas está descasado com o interesse de seus consumidores.

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Por Carine Roos
Atualização:

A ativista de software livre conta que quando ela estava grávida, ela levou dois choques do seu desfibrilador implantado no coração. A razão disso ter acontecido é que os corações de grávidas batem de forma diferente, acelerando de vez em quando, o que confundiu o software do desfibrilador, que não foi projetado levando em conta essas diferenciações do organismo feminino.

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O número de mulheres que tem desfibriladores implantados no coração e que simultaneamente engravidam é muito baixo. Como engenheira e já antecipando o risco de levar um choque porque o projetista não previu o seu caso, Karen recorreu às empresas para obter acesso ao código fonte do seu desfibrilador e assim contratar especialistas que pudessem fazer uma auditoria independente e eventuais adaptações ao software para o seu caso em particular. O seu direito ao acesso ao código foi negado, mas por sorte Karen não morreu e o seu filho está bem. E é ai que caiu a ficha: em uma sociedade em que a produção técnica do conhecimento está essencialmente nas mãos de homens, é fundamental que as mulheres tenham acesso aos códigos dos programas de computador para poderem fazer as adaptações necessárias.

Intel Free Press  Foto: Estadão

 

Realidade do mercado:

- O objetivo do Twitter para 2016 é que 16% da sua equipe técnica seja composta por mulheres e 35% de sua equipe global seja do sexo feminino;

- Em números divulgados esse ano, o Facebook revelou que 17% do seu pessoal técnico e 33% de sua força de trabalho global são ocupados por mulheres;

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- 19% do pessoal técnico do Google e 31% de seus funcionários globais eram mulheres em seus últimos números referentes à Janeiro de 2016;

- Na Microsoft, 16,9% de seu pessoal técnico e 26,8% de toda a empresa era composta por mulheres em 2015;

- Apple diz que 32% de sua força de trabalho global é do sexo feminino e que 37% das pessoas que contratou em 2016 até agora têm sido as mulheres.

*Fonte: BBC News

Enquanto esse reequilíbrio do conhecimento acontece a passos ainda lentos, ter a autonomia para modificar programas de computador passa ser a condição sine qua non para que mulheres exerçam o seu direito corrigindo o viés de gênero na tecnologia e em artefatos técnicos.

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Porque temos o direito de não correr risco de vida como o que aconteceu com a Karen. Porque queremos lutar contra todas as ameaças de estereótipos. Porque queremos uma democratização dos serviços em escala global.

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