A ativista de software livre conta que quando ela estava grávida, ela levou dois choques do seu desfibrilador implantado no coração. A razão disso ter acontecido é que os corações de grávidas batem de forma diferente, acelerando de vez em quando, o que confundiu o software do desfibrilador, que não foi projetado levando em conta essas diferenciações do organismo feminino.
O número de mulheres que tem desfibriladores implantados no coração e que simultaneamente engravidam é muito baixo. Como engenheira e já antecipando o risco de levar um choque porque o projetista não previu o seu caso, Karen recorreu às empresas para obter acesso ao código fonte do seu desfibrilador e assim contratar especialistas que pudessem fazer uma auditoria independente e eventuais adaptações ao software para o seu caso em particular. O seu direito ao acesso ao código foi negado, mas por sorte Karen não morreu e o seu filho está bem. E é ai que caiu a ficha: em uma sociedade em que a produção técnica do conhecimento está essencialmente nas mãos de homens, é fundamental que as mulheres tenham acesso aos códigos dos programas de computador para poderem fazer as adaptações necessárias.
Realidade do mercado:
- O objetivo do Twitter para 2016 é que 16% da sua equipe técnica seja composta por mulheres e 35% de sua equipe global seja do sexo feminino;
- Em números divulgados esse ano, o Facebook revelou que 17% do seu pessoal técnico e 33% de sua força de trabalho global são ocupados por mulheres;
- 19% do pessoal técnico do Google e 31% de seus funcionários globais eram mulheres em seus últimos números referentes à Janeiro de 2016;
- Na Microsoft, 16,9% de seu pessoal técnico e 26,8% de toda a empresa era composta por mulheres em 2015;
- Apple diz que 32% de sua força de trabalho global é do sexo feminino e que 37% das pessoas que contratou em 2016 até agora têm sido as mulheres.
*Fonte: BBC News
Enquanto esse reequilíbrio do conhecimento acontece a passos ainda lentos, ter a autonomia para modificar programas de computador passa ser a condição sine qua non para que mulheres exerçam o seu direito corrigindo o viés de gênero na tecnologia e em artefatos técnicos.
Porque temos o direito de não correr risco de vida como o que aconteceu com a Karen. Porque queremos lutar contra todas as ameaças de estereótipos. Porque queremos uma democratização dos serviços em escala global.