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Tudo sobre o ecossistema brasileiro de startups

Tendências para 2018 em startups no Brasil

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Foto do author Felipe Matos
Por Felipe Matos
Atualização:
 Foto: Estadão

Imagem: Pixabay

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Os primeiros dias de 2018 começaram agitados para as startups com a notícia do primeiro unicórnio recente do país, após a aquisição do aplicativo de transporte 99 pela gigante chinesa Didi. Com ela, vêm alguns elementos das tendências que deverão acompanhar o ano. Separei algumas delas nesse post.

Crescimento do O2O

O2O é a sigla para offline to online, caracteriza aplicações que digitalizam processos que aconteciam offline, trazendo para o online. Aplicativos como a 99, que mudam a forma de pedirmos um táxi ou nos transportarmos de carros particulares é um ótimo exemplo disso. A grande base de smartphones conectados no país e a provável retomada do crescimento econômico vão acelerar o surgimento de novas aplicações e o crescimento das atuais. Acredito que o próximo unicórnio brasileira também virá dali: o iFood, da brasileira Movile, deve ser o próximo a bater a marca. E possivelmente, o PagSeguro com seu IPO - abertura de capital na bolsa de valores - pode chegar perto (senão da cifra do bilhão de dólares, provavelmente da do bilhão de reais).

Crypto tokens para tudo

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Você sabe o que é um crypto token? É uma espécie de arquivo digital registrado em uma blockhain - a mesma tecnologia das criptomoedas: descrentralizada, imutável, segura, verificável e associável a "contratos digitais inteligentes". Tokens podem ser usados para validar todo tipo de transações, com potencial para mudar como funcionam cartórios, contratos comerciais, o sistema financeiro, eleições, processos de compra e venda, registros de saúde e o que mais você imaginar. Cada vez mais aplicações vão aparecer para a tecnologia, que deve começar a ganhar muito espaço no Brasil.

A evolução do crowdfunding: ICOs

Um dos usos dos criptotokens se aplica a investimentos para novas empresas. Ao invés de emitir ações públicas que podem ser compradas e vendidas em um mercado aberto por qualquer um, dando liquidez a investidores, a startup emite cryptotokens. A diferença é que no primeiro caso, apenas empresas muito grandes poderiam fazer um IPO (initial public offer) em bolsa de valores, tendo que seguir diversas regulamentações, enquanto a emissão de tokens pode ser feita por qualquer empresa por uma ínfima fração do custo de um IPO, com a vantagens que tokens podem ser adquiridos sem burocracia por qualquer pessoa do mundo com alguns cliques. Esse é o chamado ICO (initial coin offer). Segundo o site especializado Coindesk, só no primeiro semestre de 2017 as ICOs levantaram mais de US$ 1,2 bilhão e seguem em crescimento acelerado. Toda essa euforia ainda não chegou com força no Brasil, mas isso deve mudar em 2018, quando muitos novos ICOs devem acontecer também por aqui, de todo tipo de negócio, inclusive esquemas e fraudes, como tem acontecido no mundo todo (por isso, tenha cuidado ao investir na área). O crescimento dos ICOs pode significa um aumento da capitalização de novos negócios B2C (direcionados a consumidores finais), que tipicamente tem mais dificuldade em levantar investimentos no Brasil.

Eu mencionei crypto?

E claro, com o bitcoin batendo recordes e um monte de novas criptomoedas sendo emitidas a todo momento, é esperado que em 2018 o uso desse tipo de moeda digital se popularize. É difícil prever o quanto a onda de valorização ainda vai e muitos dizem que há uma bolha especulativa por trás dela - e eu concordo. O ponto é que, apesar do volume imenso transacionado, ele ainda é baixo perto do potencial, especialmente no Brasil, o que em tese, dá bastante espaço para crescimento ainda. Certamente, muita gente vai ganhar dinheiro - e muitos outros perder - em 2018 por conta do bitcoin e outras moedas digitais.

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Mais dinheiro para startups

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O IPO da PagSeguro, a aquisição da 99 e a provável retomada do crescimento econômico, mais o efeito dos ICOs, darão uma injeção de ânimo para o mercado. Esse efeito será potencializado pela colheita dos frutos de bons investimentos feitos lá atrás. Tem muita startup boa crescendo bastante e elas devem despontar mais esse ano. Em 2018 completam-se 7 anos do início da retomada do crescimento do ecossistema de startups, 2011. Esse é o tempo mínimo para que investimentos de fundos valorizem-se e gerem boas saídas. Vamos começar a ver algumas dessas saídas esse ano na forma de aquisições.

Vários fundos novos também devem ser anunciados, renovando o ciclo (se depender da quantidade de projetos em captação que vi em 2017, vem muito fundo novo por aí). Como todo esse movimento, mais startups surgirão, mais ameaçadas estarão as grandes empresas, que devem responder com aquisições, investimentos e programas de relacionamento. Tudo isso junto deve trazer um efeito de alta na valorização das startups e sustentar certa euforia, principalmente na primeira metade do ano. A incerteza das eleições deve arrefecer um pouco esse efeito e, dali para frente, tudo pode mudar, de acordo com o resultado das urnas, ainda bastante incerto nesse momento.

Consolidação - e diversificação - das Fintechs 

Outra área que tem crescido muito nos últimos anos, com empresas como a Nubank, deve se sofisticar ainda mais em 2018, tanto com uma maior entrada das fintechs no universo dos bancos, como com a diversificação delas. Vamos começar a falar mais de alguns tipos específicos de fintechs, como as insuretechs (fintechs do setor de seguros), paytechs (de pagamentos), dois setores nos quais eu aposto para o novo ano.  Com isso, as grandes empresas do setor também devem redobrar seus investimentos. O CUBO do Itaú vai triplicar de tamanho, o Bradesco deve lançar seu Habitat e ampliar muito as iniciativas na área e com isso, os demais bancos  e grandes empresas de pagamento, vão invevitavelmente seguir um caminho semelhante.

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Indústrias low tech entram no jogo

Existe um efeito de rede da consolidação das fintechs, que ajuda a transbordar os impactos para outras indústrias. Isso porque o setor financeiro presta serviços para todos os outros e essas empresas tem seguido com a estratégia de levar inovações digitais que surgem naturalmente com seus programas de apoio a startups para seus clientes corporativos, de todas as áreas da economia. Isso será reforçado pelo chamado fenômeno da transformação digital, que está modificando todo tipo de negócio.

As empresas que não se mexerem para se adaptar e abraçar o novo mundo digital correm o risco de se tornarem obsoletas rapidamente, como aconteceu com ex-gigantes como Kodak, Blockbuster e Nokia.  Vamos ver várias iniciativas de inovação e investimento em startups de setores consideradas tradicionais e com pouco uso de tecnologias digitais, como agronegócio, construção civil, setor imobiliário, energia, logística, setor jurídico, turismo, indústrias de manufatura. Como o grande tendência de digitalização não perdoa nenhuma área, essas empresas terão que se mexer para não serem mortas por alternativas digitais mais eficientes. Até o setor público deve se mexer, ainda que de forma mais tímida, nessa direção.

Chat apps, chatbots e e volta das web apps

Como já vem acontecendo na China a algum tempo com o WeChat, os aplicativos de bate-papo estão se tornando plataformas. O Facebook Messenger já vem se integrando com robôs, muito usados para atendimento, mas o setor deve ganhar força com a entrada do WhatsApp nesse jogo. Eles chegaram a anunciar em 2017 testes com a chamada "conta business", que deve permitir usos específicos para empresas. Esse tendência associada à anterior pode ser muito poderosa e mudar o jogo do mercado de pagamentos.

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Basta olhar para como, na China, há estabelecimentos que nem aceitam mais dinheiro, só WeCash, o aplicativo de pagamentos via smartphone integrado ao WeChat. Mas há inúmeras outras aplicações para chatbots. Quem quiser ter uma prévia pode baixar o Telegram e dar uma olhada em alguns bots e apps já disponíveis por lá. O meu favorito é um que transcreve as mensagens de áudio recebidas num grupo e as converte em mensagens de texto.

Esse é só um dos exemplos de aplicações que vem com tudo por aí - e o Facebook tem (mais) uma oportunidade de ouro nas mãos para explorar e provavelmente deve começar com cautela. Eu acredito que o Brasil pode ser um mercado de teste estratégico para essa tecnologia, por uma série de razões e espero ver várias novidades na área em 2018. Vale mencionar também o fenômeno das apps web não nativas (que não precisam ser instaladas), e que devem ganhar força com novas tecnologias incorporadas aos navegadores - aposta do Google para o ano com as chamadas progressive apps.

Inteligência Artificial como serviço

O avanço dos algoritmos de inteligência artificial deve colocar no mercado um mundo de soluções para todo tipo de aplicação. Eu acredito que algumas novas plataformas vão surgir, permitindo que startups incorporem essa tecnologia mais facilmente em seus produtos, num movimento que estou chamado de AIaaS (artificial inteligence as a service). Vai ficar cada vez mais simples incorporar algoritmos de predição, organização e cruzamento automático e inteligente de informações, dentre outros. Talvez os efeitos não sejam sentidos imediatamente, mas o ganho de eficiência e produtividade dessa disrupção será enorme.

Bom, essas são as minhas apostas para 2018. No final do ano, vamos voltar juntos a esse post para ver se elas se concretizaram. Excelente ano novo para todos, será sem dúvida uma no de muito trabalho! Até a próxima!

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