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Como incentivar a tecnologia a partir do zero

Vale do Silício surgiu sem capital do governo

Por Filipe Serrano
Atualização:

Vale do Silício surgiu sem capital do governo 

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* Publicado no 'Link' em 26/11/2012.

Há anos que o governo brasileiro discute maneiras de incentivar a produção de alta tecnologia no País. Um dos passos para isso seria a implantação de uma fábrica de semicondutores - material usado em componentes eletrônicos, que têm de ser importados para a produção de computadores, tablets e todo tipo de aparelho em território nacional.

Uma fábrica de semicondutores criada pelo governo federal, a Ceitec, já opera em Porto Alegre e seu principal projeto é um chip de rastreamento para gado. E, na semana passada, mais uma notícia nesse sentido foi divulgada: o financiamento federal para a Six Semicondutores. A empresa, do grupo de Eike Batista, dividirá a participação com o BNDES, a IBM - que detém as patentes - e com outros investidores menores, em mais uma tentativa de estimular a produção interna de microprocessadores e outros componentes.

Foi a produção de equipamentos assim que deu origem à região do Vale do Silício, quando um grupo de cientistas liderado por William Shockley decidiu fundar lá, em 1956, uma fábrica de transistores chamada Shockley Semiconductor Laboratory. Porém, é curioso rever que pouco da história que se seguiu teve - ou nem sequer precisou - da participação do governo do país, ao contrário do que se tenta fazer por aqui.

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Logo depois de criar a empresa, oito colegas de Shockley não estavam satisfeitos com a condução dela e queriam fundar a própria fabricante. Entre eles estavam Gordon Moore e Robert Noyce, fundadores da Intel, e Eugene Kleiner, que mais tarde criaria com o sócio Tom Perkins um dos primeiros fundos de investimento do Vale do Silício, a Kleiner Perkins Caufield & Byers.

O grupo dos "oito traidores", como ficou conhecido, porém, não tinha dinheiro para criar uma empresa, nem havia quem pudesse financiá-los. Afinal, na época, o mercado de tecnologia nem existia. Eles assinaram uma carta em conjunto explicando o seu problema e a ideia, e enviaram-na para banqueiros e empresas em Nova York. Arthur Rock, então um funcionário numa empresa de investimento, recebeu a carta. Ele sabia que seus chefes não poderiam fazer nada por eles, mas ficou comovido e decidiu ajudá-los.

Rock então colocou o grupo de cientistas em contato com Sherman Fairchild, que tinha uma empresa de tecnologia para a área militar. O empresário decidiu criar uma divisão de semicondutores para acomodar os cientistas, que foi transformada na Fairchild Semiconductor. A empresa funcionou bem pela próxima década, produzindo componentes eletrônicos e fazendo grandes avanços na área. Mas depois passou a sofrer mais concorrência e problemas internos apareceram. Foi quando Gordon Moore e Robert Noyce decidiram sair para fundar a Intel, outra vez com investimento de Arthur Rock.

Um dos que fizeram dinheiro apostando no crescimento da Fairchild e da Intel foi Mike Markula. Aos 32 anos ele já havia se "aposentado" com o lucro que teve com as ações das empresas. Pouco depois, em 1977, o investidor Don Valentine apresentou Markula a dois jovens que queriam produzir computadores pessoais, Steve Jobs e Steve Wozniak. Valentine não queria investir neles, mas achava que Markula deveria conhecê-los. Ele decidiu dar US$ 250 mil a eles e desenvolver o plano de negócios. Em troca, teria um terço da Apple.

Toda essa história é contada em detalhes no documentário Something Ventured (2011), pelos próprios investidores e empreendedores que, ao logo de mais de seis décadas, ajudaram a desenvolver o mercado de tecnologia, com consequências para o mundo todo.

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Foi um momento histórico único, em que as relações entre esses investidores ajudaram a criar novas empresas. Não é algo que se pode replicar em outro país, em um período totalmente diferente. Hoje há muitos empreendedores e investidores pensando em novos projetos também no Brasil, da internet comercial à produção de equipamentos industriais. É certo que o País tem potencial e mercado para a área, mas é preciso pensar se é apenas o setor de semicondutores que fará diferença no futuro.

- o Coluna anterior12/11: Os novos programas de escritório na era da mobilidade

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