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O benefício da internet supera os seus efeitos negativos

Passar muito tempo online não emburrece

Por Filipe Serrano
Atualização:

Passar muito tempo online não emburrece

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* Publicado no 'Link' em 01/4/2013.

Já faz quase cinco anos que o escritor Nicholas Carr publicou o artigo "Is Google Making Us Stupid?" (O Google está nos deixando burros?, em tradução livre), que foi a base para o seu livro A Geração Superficial, de 2010.

No texto publicado pela revista The Atlantic em 2008, Carr dizia que as longas horas que ele tinha passado na internet estavam modificando sua forma de pensar (e seu cérebro), de modo que ele já não conseguia mais manter a atenção a leituras longas e aprofundadas. Ao começar a ler um texto, Carr relatava que logo se distraía e sua mente era levada a outros temas. Segundo ele, essa distração incontrolável era consequência da internet e do hábito multitarefa que a tecnologia nos impõe. Consequentemente, as longas horas conectado estavam o acostumando a esta forma de pensamento em hipertexto, em que vamos de uma indagação a outra.

"Mesmo quando não estou trabalhando, também sinto a necessidade de ler e escrever e-mails, olhar as manchetes e posts de blogs, ver vídeos e ouvir podcasts, ou apenas de passear de link em link", escreveu Carr em 2008. Muitos leitores se identificaram com os relatos, sentindo que a tecnologia também os estava deixando mais distraídos e menos habituados ao pensamento linear, profundo e crítico.

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Na época, alguns neurocientistas já haviam identificado pequenas modificações no funcionamento do cérebro de pacientes diagnosticados com "vício em internet". Outros estudos publicados desde então chegaram a conclusões parecidas. Mas as pesquisas se baseiam em casos extremos, de pessoas que sentem uma ansiedade incontrolável quando não estão conectadas.

Não há comprovação científica de que a mudança provocada pela rede esteja deixando toda a sociedade mais superficial, distraída ou burra. Ninguém deixa de ser inteligente por passar muito tempo online. Talvez aquilo que nos define seja mais o que fazemos com o tempo que passamos online.

Não há dúvidas de que um longo trabalho de pesquisa traga um ganho intelectual. Se fazemos pausas para conversar com alguém no Facebook, mandar mensagens no WhatsApp ou assistir a um vídeo, não nos tornamos menos inteligentes. O problema, segundo os pesquisadores, surge quando deixamos de fazer outras coisas (como ler um livro, estudar ou fazer uma pesquisa) para simplesmente ficarmos procurando por uma distração.

Escrevo estas linhas em uma folha de papel, à caneta (coisa que não fazia desde o colégio), depois de passar dois dias sem acesso à internet durante uma viagem ao exterior.

Não é porque fiquei este tempo desconectado que me sinto menos ou mais distraído. Mas a falta de ter um recurso à mão para poder me localizar em um mapa digital, buscar informações sobre um lugar ou mesmo sobre a previsão do tempo foi para mim a pior sensação. Nem sempre as pessoas que você encontra sabem dar a informação correta e a indicação adequada. E outras mídias, como televisão e jornais, não estão em todo lugar. O benefício de ter internet disponível supera de longe os seus efeitos comportamentais negativos. O Google, muitas vezes apontado como ícone dos malefícios da rede, não nos deixou mais burros nos últimos cinco anos. Pelo contrário, ele facilita o acesso às informações de que precisamos. Desde que exista uma conexão disponível.

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Uma observação: nos dois dias desconectado, o que me salvou foi o aplicativo Trip Advisor, que reúne avaliações de viajantes sobre hotéis, restaurantes e passeios. Diferentemente de outros serviços, o app não exige conexão. Você pode baixar antes o guia das cidades que vai visitar e consultá-los mesmo sem internet. O mapa é precário, mas ajuda em situação de necessidade. Fora isso, todo o resto funciona. Ele é gratuito e em inglês. O app é um exemplo de que as empresas de tecnologia têm de oferecer serviços úteis mesmo quando não há internet. Muitas vezes é quando elas mais precisam de informação.

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