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O efeito social ultrapassa os limites do Facebook

Pioneirismo do criador do Orkut não bastou

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Por Filipe Serrano
Atualização:

* Publicado no 'Link' em 3/9/2012.

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Pioneirismo do criador do Orkut não bastou

Enfim comecei a ler a biografia do Facebook escrita por David Kickpatrick, O Efeito Facebook. O livro é de 2010 e apesar de dois anos terem se passado, o momento não poderia ser mais oportuno para rever a história da rede social. Hoje, as ações do Facebook valem metade do seu valor inicial, na abertura de capital em maio. E depois de um crescimento extraordinário em todo o mundo, ele enfrenta desafios maiores (leia mais aqui e aqui).

Digo isso porque nos primeiros capítulos Kickpatrick conta a história de outras redes sociais que já existiam no momento em que Zuckerberg e amigos de faculdade passavam a se dedicar ao Thefacebook, lançado em fevereiro de 2004. É curioso observar hoje como ele superou os concorrentes, apesar de não ter sido o primeiro a surgir.

No início de 2004, Friendster e MySpace já se expandiam e faziam sucesso além dos limites das faculdades - foco inicial do Facebook. Porém, o primeiro site a usar o modelo de perfis para se relacionar era bem mais antigo. Chamava-se SixDegrees e foi lançado em 1997 pelo advogado Andrew Weinreich. Seu modelo de unir pessoas em volta de amigos era pioneiro, mas, com uma conexão lenta e poucas câmeras digitais, era impossível subir fotografias no site. Kickpatrick conta que o site considerou a ideia de receber fotos por correio para que fossem escaneadas e publicadas nos perfis dos usuários.

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Quando Friendster e MySpace surgiram, em 2002 e 2003, o problema das imagens tinha se resolvido. O Friendster foi a primeira rede social a ter mais de 1 milhão de usuários. Ele também exigia que todos usassem nomes reais. Seu problema foi a instabilidade do serviço, que fez as pessoas se desencantarem. Já o MySpace cresceu permitindo liberdade total. Qualquer nome era aceito e mais tarde, por uma brecha no código-fonte que foi incorporado, os usuários descobriram como enfeitar seus perfis, alterando fonte, layout, cores, fundo de tela, música e, mais tarde, vídeos. A poluição visual tornou os perfis irritantes e, sem amigos necessariamente reais, a socialização ficou em segundo plano.

O Facebook não foi nem mesmo a primeira rede social criada para universitários. A marca é de um site chamado Club Nexus lançado em 2001 pelo cientista da computação turco Orkut Buyukkokten (sim, ele mesmo), que cursava o doutorado em Standford. O site se restringia à universidade, que fica no Vale do Silício. O Club Nexus, escreve Kickpatrick, "provavelmente foi a primeira rede social de verdade lançada nos Estados Unidos". Ele conta que a rede permitia bater papo, convidar amigos para eventos e procurar pessoas com interesses em comum. Chegou a ter 2,5 mil usuários entre os 15 mil estudantes da universidade.

Orkut se juntou a um colega para tocar o negócio até ser contratado pelo Google. Já na companhia, mostrou a ideia à vice-presidente de produtos de busca, Marissa Mayer, que a aprovou. Virou o Orkut que conhecemos.

Toda essa história é para mostrar que não é exatamente necessário ter uma ideia única e pioneira para fazer uma startup crescer. Muitas vezes a ideia já existe e é aprimorada por outras empresas que seguem uma tendência iniciada por outros. Persistência e decisões acertadas mais tarde se revelariam indispensáveis para o crescimento do Facebook. É por isso que usamos a rede de Zuckerberg e não o SixDegrees, Friendster, MySpace ou o Orkut.

Mas a mesma tendência não se encerra no Facebook. Se há 15 anos não era fácil publicar fotos online, devem surgir tecnologias para compartilhar coisas que nem imaginamos. Tanto que Zuckerberg almeja que tudo possa ser compartilhado automaticamente: filmes a que assistimos, músicas que ouvimos, lugares que visitamos, pratos que comemos, livros que lemos. Já existem redes específicas para todo tipo de coisa.

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Não será surpresa, portanto, se em algum futuro próximo o Facebook vier a lançar um óculos digital como o que o Google está desenvolvendo, o Project Glass. E não precisa ser o Facebook ou o Google, mas outra empresa que facilite o compartilhamento de qualquer coisa que vemos e vivemos no dia a dia.

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