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No arranque

Para empreender online, é preciso sair do filtro pessoal

Contato com a web estimula novas ideias

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Por Filipe Serrano
Atualização:

* Publicado no 'Link' em 2/4/2012.

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Em uma passagem do livro The FIlter Bubble (O Filtro Invisível, ed. Zahar), Eli Pariser discorre sobre a origem de grandes ideias que, de tão inovadoras, abrem caminho para outros tipos de pensamento. A discussão não é nova e já foi até tema do livro de Steven Johnson De Onde Vêm As Boas Ideias, de 2010. Para Pariser, é o contato com experiências de vida diferentes, com outras visões e opiniões, que estimula outras formas observar e interpretar o cotidiano e, assim, faz que a pessoa saia da sua linha de visão tradicional.

O argumento de Pariser é que hoje estamos menos sujeitos a viver essas experiências diferentes. E, na internet, temos menos contato com outras formas de pensamento senão as nossas próprias e as de pessoas próximas, que tendem a ser parecidas conosco. A situação, segundo ele, ocorre por causa de filtros de personalização criados por Google, Facebook, Amazon, Netflix e outros que buscam adivinhar o que o usuário quer, baseado nas suas escolhas anteriores e nas de outros usuários com gostos semelhantes.

O argumento de Pariser, correto ou não, faz refletir como o crescente interesse por novos negócios na internet brasileira e mundial tem ocorrido muito mais por causa de uma profusão e uma intensa troca de novas ideias do que apenas por um simples "boom" de startups.

Um passeio pela lista de novos negócios de internet da Associação Brasileira de Startups, a Abstartup, revela isso. Mais do que um novo empreendimento, cada uma das mais de 219 empresas cadastradas representa uma ideia. Boas ou não, são ideias em busca de destaque e de apoio para que elas se desenvolvam ou continuem em crescimento.

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No meio dessas empresas, há por exemplo um site chamado Busca Sela. Ainda em versão de teste, ele serve como um buscador de produtos para montaria. Pode parecer estranho, mas para os interessados no tema, como é o caso de um parente meu, a ferramenta digital facilitaria muito a busca por produtos do tipo, muitas vezes difíceis de encontrar em cidades menores.

Além da associação, aceleradoras que fazem os primeiros investimentos em pequenos negócios de internet também têm o papel de alavancar estas novas ideias. Recentemente, no Rio, a aceleradora 21212 organizou seu primeiro evento para "lançar" as startups que passaram pelo seu programa de investimento inicial. Os vídeos das apresentações estão disponíveis no Vimeo (http://vimeo.com/by21212com). E é possível notar como há ideias incríveis, que propõem novos modelos de negócios online, em crescimento no Brasil por causa de iniciativas como essa.

Em muitos casos, as ideias não são novas, mas baseadas em modelos de negócios que já se estabeleceram nos Estados Unidos ou na Europa. De qualquer maneira, o potencial de o Brasil desenvolver novas grandes empresas de internet em um ou dois anos é enorme e maior do que jamais houve.

O que fez surgir este momento então? A ideia de Pariser de que estamos perdendo a capacidade de inovar não é verdadeira ao menos nesta área do empreendedorismo digital, nem no Brasil, nem em países desenvolvidos.

Meu palpite é de que é exatamente a geração que cresceu com a internet, teve oportunidades de conhecer novas experiências exatamente por causa da abertura e do crescimento econômico do País nos últimos anos, que deu origem a este movimento.

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Desconheço se há pesquisa que indique isto, mas o que se vê hoje são empreendedores de 35 , 30 anos, ou menos, que vieram principalmente de cursos de administração e de MBAs, com boas ideias e vontade de ter um negócio próprio e diferente. Isso porque perceberam uma oportunidade de negócio exatamente porque conheceram experiências diferentes das que estavam acostumados e, muitas vezes, entraram em contato com elas exatamente por causa de ferramentas digitais presentes na internet. Ainda estamos longe de ter um ambiente de inovação digital estabelecido, mas o caminho está traçado. Basta não se fechar na rede.

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