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Máquinas e aparelhos

O baile da pirataria

Cena de Boyhood. FOTO: Divulgação

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Por Camilo Rocha
Atualização:

Toda semana ele está lá. Um pouco depois das barracas de tomate, antes de chegar nas folhas verdes. Sobre um quadrado de madeira, o homem dispõe uma porção de DVDs com capas xerocadas. "Tenho todos do Oscar, qual você precisa?" Não é mentira. Boyhood, Birdman, Whiplash, estão todos ali, na feira, por alguns reais.

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Em janeiro de 2015, a pirataria de filmes está com tudo. Bancas como a descrita acima continuam ativas Brasil afora, ofertando cópias ilegais de filmes sem problemas.

Já em países onde uma banquinha de DVDs piratas operando em plena luz do dia seria impraticável, se expande o fenômeno Popcorn Time, site onde se pode fazer streaming de filmes que estão no cinema, tipo um Netflix pirata. Tem mais: acaba de voltar ao ar o Pirate Bay, o mais popular endereço para baixar conteúdos diversos sem pedir licença.

Em 2011, a Netflix norte-americana dizia que estava vencendo a pirataria. A tiracolo, um gráfico de tendências do Google que mostrava que a procura por "torrent" (arquivo com dados para compartilhamento e acesso a arquivos muito usado para downloads não-autorizados) registrava queda, ao passo que buscas por "Netflix" subiam.

Quatro anos depois, o tom é menos vitorioso. "A pirataria continua a ser um dos nossos maiores competidores", diz um documento enviado aos acionistas da empresa, que aponta o crescimento do Popcorn Time como motivo de preocupação.

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Se procedimentos mais complicados como baixar um torrent e procurar legendas já atraem milhões, imagine quando se tem uma ferramenta prática como o Popcorn Time.

Os piratas oferecem algo que a Netflix não tem: filmes fresquinhos. Quem usa o serviço sabe de suas limitações. Lá não tem Boyhood ou Relatos Selvagens. A maior parte do catálogo é mais antiga.

Já locadoras digitais como iTunes ou Google Play têm mais alternativas recentes. Mas nem de longe o espectador encontra a atualização ou a variedade presentes nos sites de torrent ou nas bancas de calçada.

A culpa disso não é da Netflix, iTunes ou qualquer serviço de filmes online e, sim, das donas do conteúdo, produtoras de filmes ou séries. É hora desss empresas repensarem radicalmente sua lógica de distribuição, revendo cronogramas, que fazem serviços online esperar meses por filmes, e a restrição de territórios, que não permite que espectadores do Brasil vejam uma série que acabou de sair nos EUA.

"O modelo atual é quase o mesmo desde quando começaram a transmitir filmes na televisão, no começo dos anos 70", disse Ted Sarandos, chefe de conteúdo do Netflix.

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Aos poucos, surgem acordos para lançar filmes próximos de suas temporadas no cinema, como no caso da estreia de A Entrevista na Netflix em janeiro (só para EUA e Canadá).

Mas há muito o que avançar. Basta olhar para a indústria musical, que através do streaming tem afastado da pirataria um número crescente de ouvintes. Quando se acessa um dos vários serviços de transmissão musical, como Spotify ou Deezer, podem ser encontrados ali lançamentos atuais e relevantes, além de uma fartura de alternativas menos badaladas e até obscuridades cult. Tudo à mão, tudo fácil.

Quando os filmes conseguirem algo equivalente, será a hora de contar vantagem em relação à pirataria.

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