Foto do(a) blog

Máquinas e aparelhos

Você moraria dentro de um aplicativo?

Se antes, navegar pela internet significava desbravamento, hoje a ordem é concentrar

PUBLICIDADE

Por Camilo Rocha
Atualização:

Os mais velhos se lembrarão de como era navegar na internet no começo da década passada. O espírito predominante na época era de exploração, de desbravamento.

PUBLICIDADE

Um artigo de 2012 do escritor Evgeny Morozov compara o espírito desse tempo com o dos "flâneurs" que exploravam solitários a Paris do século 19. Sem rumo nem roteiro, seu objetivo era observar, conhecer e se surpreender pelo caminho. Nos tempos pioneiros da internet, o nome "navegador" não podia ser mais apropriado. Descobria-se novos mares e avistava-se novas terras com muito mais frequência e entusiasmo.

O Google deu o primeiro passo para mudar consideravelmente esse ambiente ao nos trazer um buscador que trabalhava com muito mais eficiência do que havia antes. Graças ao Google Search passamos a perder muito menos tempo buscando uma informação ou site, ficando menos sujeitos às ofertas do acaso.

Daí veio o Facebook, que se tornou gigante e mudou hábitos de pessoas e empresas. Ele se tornou nosso endereço por default na internet, a "home" de todo mundo, uma convergência de comunicação,informação e vida social cuja influência só aumenta.

Mas isso tudo ainda se refere apenas a PCs e laptops. Como qualquer um sabe, cresce a passos largos o número de pessoas que acessa à internet via celular no Brasil. Segundo levantamento do Ibope de janeiro, esse total foi de 40% para 66% dos usuários entre 2013 e 2014.

Publicidade

A lógica do celular e de sua tela menor forçou um redesenho da experiência de uso da internet. Os browsers e sites tradicionais deixam de fazer sentido. Em seu lugar, entrou a experiência dirigida dos aplicativos, acessos diretos ao serviço desejado, com seu desenho adequado à tela pequena e ao deslizar do dedo.

Cabeças do Vale do Silício não param de pensar em como concentrar ainda mais essa experiência.

OFacebook, é claro, está na vanguarda da concentração. A rede social quer dar um jeito, por exemplo, nos links para notícias que aparecem na sua timeline. Cada vez que você clica em um link, digamos, do Estado no seu feed, é jogado para fora do Facebook e tem que esperar uma página carregar.

O Facebook acha isso ruim e conversa desde o ano passado com empresas como BuzzFeed e The New York Times para pensar em meios de abrigar seus conteúdos dentro do Facebook. A receita publicitária seria dividida entre as partes, mas os veículos de mídia deixariam de ter os dados gerados pelo tráfego daquele usuário.

A nova versão do aplicativo Messenger do Facebook é outra manobra na direção da concentração, ao incorporar apps de outras empresas. Agora será possível acrescentar efeitos em vídeos, GIFs, fazer reclamações a empresas e acompanhar notícias de esporte sem sair do aplicativo.

Publicidade

O Snapchat, que teria recebido investimento de US$ 200 milhões do conglomerado chinês Alibaba, é outro nome de peso criando menos oportunidade para a navegação a esmo. Do ano passado para cá, passou a oferecer conteúdo de veículos como National Geographic, CNN e ESPN e,mais recentemente, a possbilidade de associar músicas do Spotify e iTunes a mensagens enviadas pelos usuários.

Pode ser bem mais prático, mas é sem dúvida bem mais chato.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.