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Inovação e Tecnologia

A Europa contra o Vale do Silício

Reuters

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

Há pouco mais de dois anos, eu me mudei para os EUA para fazer um mestrado. Uma amiga também saiu do país na mesma época, mas para estudar na Europa.

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Uma das coisas mais interessantes nesse período foi observar em nossas conversas a diferença na abordagem de temas relacionados à tecnologia. A Europa era a antítese de tudo que eu via nos EUA.

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Enquanto no Vale do Silício o foco era na inovação de ruptura, que revoluciona o mercado com soluções completamente novas, sem pensar muito nas consequência para não atrapalhar o progresso -- mova-se rápido e quebre coisas é um dos lemas do Facebook -- na Europa a discussão era focada na privacidade e proteção de dados.

Esse antagonismo Europeu ao Vale do Silício atingiu o seu ápice na última semana, quando o Facebook enfrentou o que parece ser a pior crise da sua história depois da publicação de reportagens sobre o vazamento de dados de usuários pela Cambridge Analytica, uma empresa de análise de dados que trabalhou na campanha do presidente dos EUA, Donald Trump.

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Os cidadãos norte-americanos se viram em meio a um novo escândalo de exploração dos seus dados pessoais e, dessa vez, o vilão foi o Vale do Silício. Já a Europa e sua lei de proteção de dados pessoais que antes era vista com receio agora é tida como exemplo a ser seguido. E se tem algo que norte-americanos não fazer facilmente é admitir que alguém faz algo melhor do que eles.

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O tema regulação, antes tão temido pelas empresas de tecnologia dos EUA, começa a ser tratado como algo não apenas inevitável, mas também desejável. A imprensa local tem dado destaque ao tema. O próprio fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, afirmou que a pergunta não é se deve haver regulações, mas quais.

Quem não vive de modelo de negócio baseado em anúncio já está capitalizando com a tendência. A Apple fez questão de ir contra o Facebook. Tim Cook, CEO da empresa, tem repetido em todos lugar que a privacidade é um direito fundamental e que a Apple escolheu proteger os seus usuários mesmo sabendo que poderia estar ganhando milhões se escolhesse monetizar os seus usuários.

A estratégia é marcar um posicionamento claro que a diferencie do Facebook. A Apple quer ser vista como uma empresa consciente -- e quer aproveitar a carona para tentar apagar da memória do público o escândalo que levou a empresa a admitir que reduziu a velocidade dos iPhones com baterias antigas.

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Se antes existia um temor de que a abordagem europeia fosse paralisante, agora os EUA parecem concordar que seu modelo de economia digital precisa ser repensado (ao menos em partes).

É aquela coisa que todo mundo já sabe -- os dados pessoais são o novo petróleo. E agora que a internet está dominada por empresas gigantes que exploram esses dados, a Europa tem a chance de influenciar o mundo com um novo modelo de economia digital, mais focado no compromisso social do que o modelo do Vale do Silício.

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