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Inovação e Tecnologia

Novas plataformas tentam acabar com polarização na internet

Contra a divisão que toma conta das redes sociais e comentários da internet, novas plataformas tentam ajudar quem tem opiniões diferentes a conversar

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Divulgação

 

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Na semana passada, enquanto eu assistia aqui em Chicago ao debate republicano na CNN, minha atenção estava dividida com o smartphone. A cada afirmação feita por Donald Trump, os meus dedos corriam agitados para escrever uma mensagem no celular. Do outro lado estavam partidários do candidato, que tentavam me explicar por que eles querem que Trump seja o novo presidente dos EUA, enquanto eu defendia o lado dos latinos, que Trump quer manter longe dos EUA construindo um muro na fronteira com o México.

Tudo isso aconteceu enquanto eu testava o Verona, um app que pretende derrubar muros virtuais e construir pontes em uma época em que as opiniões na web estão tão divididas. Como o app faz isso? Colocando pessoas que pensam diferente para conversar!

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Funciona assim: ao entrar no app, o usuário pode escolher representar um dos lados de uma disputa. Estão disponíveis para debate até agora Israel x Palestina, Apoiadores de Trump x Latinos e Democratas x Republicanos.

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Depois do usuário escolher o lado que melhor o representa, o app funciona nos moldes do Tinder. Você vê a foto e um perfil de cada pessoa e diz se quer ou não conversar com ela. Se os dois lados disserem sim, o app oferece uma janela para o bate-papo. Os filtros permitem escolher se você quer falar só com homens, mulheres ou os dois sexos.

A proposta é que o usuário use o app para conversar com pessoas que tenham opiniões opostas às suas com o objetivo de gerar algum entendimento e empatia - e não para determinar se há um lado certo e outro errado ou fazer os dois lados concordarem. "Nossa meta é oferecer uma plataforma para um novo tipo de conversa. Verona é o app para pessoas que querem superar divisões", diz o site oficial.

Reprodução

 

Resolvi testar o sistema durante o debate, embora o app possa ser usado a qualquer hora do dia. Conversei primeiro com um republicano de 34 anos que dizia apoiar o Trump porque ele seria a pessoa certa para tornar o Partido Republicano mais progressista. "Eu sou a favor de muros desde que eles tenham portas" ele me disse, enquanto tentava me convencer de que todas as afirmações extremistas e racistas do candidato, como banir a entrada de latinos e muçulmanos nos EUA, eram apenas para ganhar atenção e apoio dos eleitores mais radicais. "Ele não vai fazer nada contra pessoas como você que estão aqui legalmente", dizia, tentando me consolar.

Outro, de 21 anos, declarou o seu amor pelo Brasil e a América Latina enquanto dizia que nada do que o Trump afirmava sobre latinos ou muçulmanos era sério. Ele dizia apoiar o candidato por ser o único político nessas eleições que ele considera ter um posicionamento mais ao centro, como o dele.

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As conversas foram interessantes, sobretudo para satisfazer minha curiosidade sobre o que faz Trump receber tanto apoio, apesar dos seus comentário perigosos, e ver que alguns dos seus apoiadores parecem menos radicais do que o candidato e estavam dispostos a ouvir minhas argumentações.

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No entanto, confesso que fiquei com uma sensação estranha. Enquanto as conversas foram muito saudáveis e respeitosas, no fundo eu fiquei frustrada por ver aquelas pessoas concordarem com propostas que vão contra os valores nos quais eu acredito.

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Quantos amigos assim eu e você não temos nas redes sociais? Aquelas pessoas que se tornaram próximas por dividir algo em comum e que em algum momento revelam ter um ponto de vista completamente diferente do seu em uma questão crucial. E quantas vezes não saímos soltando indiretas nas redes sociais de que vamos deletar pessoas que pensam de um jeito x ou y?

Mas será que precisamos deletar mesmo da nossa vida as pessoas que pensam diferente da gente? Um pouco de provocação às nossas convicções não faz bem? E qual o limite do aceitável? Uma visão política diferente da nossa deve ser julgada com o mesmo rigor que um comentário declaradamente racista ou que desafia algum direito humano?

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Ao mesmo tempo em que a internet nos tira da ignorância em que vivíamos sobre alguns temas, ela nos coloca novos dilemas e desafios nas interações sociais. Seria a raiva que expomos na rede um reflexo automático da perda da ignorância ou da dificuldade de filtrar informações no mar de conteúdo disponível na web?

A polarização na internet está tão intensa não só no Brasil, mas no mundo todo, que recentemente Tim Berners-Lee, o famoso pai da internet, reclamou do Twitter e das redes sociais e pediu que sejam construídas na web plataformas que produzam críticas construtivas e harmonia, em vez de estimular a negatividade e o bullying - o que seria o caso das redes sociais, na opinião dele.

Mais amor, por favor

Reprodução

 

Além do Verona, uma outra solução que já está em teste em prol de uma internet mais empática é a plataforma Civil Comments, que pretende melhorar a qualidade do debate nos comentários das matérias de sites da internet.

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A proposta é simples: antes de poder escrever qualquer coisa na caixa de comentários, o leitor é convidados a dar uma nota a dois outros comentários aleatórios que leitores postaram no site. Esses comentários são avaliados com base em dois critérios: qualidade da argumentação e civilidade. Só então o sistema permite que o leitor escreva e publique seu comentário. Ao terminar, o usuário é convidado a fazer uma avaliação do que ele próprio escreveu com base nos mesmos critérios anteriores. Se achar que o texto está inapropriado, ganha o direito de editá-lo ou deletá-lo.

Fico otimista em ver soluções como essas sendo testadas. Parece que há algo precioso, uma conexão mais profunda, humana e que gera empatia, que se perde na frieza do mundo online, fazendo com que o caminho mais extremo se torne a primeira opção de muitos quando se veem diante de algo que desafia suas convicções. Ainda bem que estamos começando a pensar em como usar a tecnologia e as redes para criar uma internet e um mundo menos extremista e mais tolerante.

Mas se você não concordar com isso, tudo bem. É só explicar com jeitinho e de uma forma construtiva o seu ponto de vista na caixa de comentários abaixo para colaborar com o debate. E você, acha que a internet está precisando de mais amor e que esses serviços podem ajudar a trazer mais tolerância para a web?

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