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Inovação e Tecnologia

O que é mais importante: manter a privacidade ou espionar pessoas para evitar crimes?

Sob justifica de identificar e evitar crimes, governos tentam obter mais acesso aos nossos dados, mas qual o limite da espionagem?

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:

 

O que é mais importante para você: saber que governos espionam pessoas para evitar possíveis crimes ou preservar a sua privacidade?

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A questão é tão atual nos EUA quanto no Brasil. Enquanto aqui nos EUA se discute até que ponto a vigilância é válida sob a justificativa de combater o terrorismo, no Brasil a liberação do áudio de escutas de conversas entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, feitas como parte da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, tem gerado uma série de discussões sobre a legalidade e validade dessa ação e a espionagem, já que as gravações teriam ocorrido após o pedido de grampo ter sido suspenso pela PF.

É preciso cuidado quando se aborda temas como a vigilância. Especialmente porque assuntos que mexem com o nossos brios como a corrupção podem nos levar a apoiar medidas extremas que, aplicadas em massa, afetam nossas liberdades individuais.

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Olhe para o aparelho que está neste momento no seu bolso ou na sua mão. O smartphone é um dos maiores alvos de vigilância dos nossos tempos. Nossas conversas, nossos passos e nossos trajetos, tudo está armazenado no aparelhinho e pode ser usado tanto serviços úteis, como o Google Now, que aprende as rotas que você faz todos os dias para indicar o melhor caminho, quanto para monitorar os seus passos e saber onde você esteve.

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Aqui nos EUA, o debate se acalorou por causa da recusa da Apple de criar um programa para que o FBI pudesse invadir um iPhone que pertencia aos terroristas atiradores de São Bernardino, na Califórnia, e que está protegido por senha.

O FBI quer que a Apple crie uma maneira de permitir que aparelhos telefônicos de suspeitos sejam invadidos para ajudar nas investigações desse e de outros crimes de terrorismo, enquanto a Apple se recusa dizendo que o programa colocaria em risco a privacidade de outros milhares de usuários do aparelho que não têm motivos para serem vigiados pelo governo.

Como lidar com essas situações?

O programa 60 Minutes, da CBS, abordou o tema nesta semana. O entrevistado foi Pavel Durov, criador do Telegram, um aplicativo de mensagens como o WhatsApp que tem como principal atrativo a criptografia, que torna impossível interceptar conversas.

Por causa disso, o Telegram tem sido muito usado pelo Estado Islâmico (ISIS), o que gera pressão para que a empresa afrouxe seu sistema de segurança.

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Na entrevista, Durov, que apoia a decisão da Apple de não ceder ao FBI, disse trabalhar ativamente para desativar as contas associadas ao ISIS, mas afirmou que essas são apenas uma fração pequena em comparação a todos os usuários que usam o app da maneira "certa".

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Por isso, mesmo sabendo que seu app é usado por terroristas para planejar ataques como os ocorridos em Paris, Durov diz que não vai afrouxar o seu sistema de segurança para que ele possa ser monitorado pelo governo americano. "Você não pode abrir uma exceção para aplicação da lei sem colocar em risco a comunicação de centenas de milhares de pessoas, porque ou a criptografia é segura ou não é", diz.

Há sempre quem argumente que "quem não deve, não teme" e que há limites para a liberdade. Mas o que acontece quando somos ativamente vigiados e espionados em nossas atividades na internet, especialmente por governos?

A nova temporada da série House of Cards traz uma boa ilustração sobre isso.

(ATENÇÃO: Se você ainda não passou do sexto episódio da quarta temporada, o texto contém spoiler)

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Somos apresentados ao Pollyhop, um sistema de buscas como o Google que é usado pelo rival de Frank Underwood, Will Conway, para espionar cidadãos norte-americanos.

Conway tem acesso à base de dados do Pollyhop e a partir dela consegue identificar hábitos de pesquisa, temas de interesse e outros dados sobre seus eleitores.

Sua campanha é toda baseada nessas informações para manipular pessoas e conquistar o apoio delas. O candidato usa as informações do Pollyhop para se tornar a melhor versão possível do que as pessoas querem. Um perfeito manipulador de massas. Underwood, por outro lado, resolve usar dados da NSA, a agência de segurança nacional, para tentar combater o inimigo.

Há mais questões envolvidas na vigilância do que o simples "quem não deve, não teme". É hora de refletirmos melhor sobre a questão, lembrar do passado e pensar a respeito dos precedentes que queremos abrir, especialmente em um momento em que estamos desenvolvendo tecnologias para conectar nossas casas e somos monitorados em tempo integral nos nossos smartphones.

Aqui nos EUA, o governo não está nada feliz com a resistência das empresas de tecnologia (e é importante ressaltar que essas empresas também coletam uma montanha de dados dos usuários), mas, por enquanto, companhias como WhatsApp, Facebook e Google estão preferindo a cautela e aumentar seus sistemas de segurança contra espionagem.

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