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Inovação e Tecnologia

Receita para um detox digital

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

Faz um mês que não apareço por aqui. Uma doença na família tornou esse começo de ano difícil, tirou a rotina do eixo e me fez questionar a vida. Principalmente essa vida tão digital que a gente leva.

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Morar nos EUA me coloca em contato direto com a tecnologia de uma forma mais intensa do que no Brasil. Não só porque o país é líder no desenvolvimento de novas tecnologias, mas também porque é por meio da tecnologia que eu mantenho contato com os meus familiares e com o Brasil.

O problema é que a minha ansiedade andava em uma crescente. Em um tempo de notícias tão assustadoras por todos os lados, as notificações constantes dos apps de notícia no meu celularme deixavam em estado de alerta. E a culpa era minha. Meu smartphone me oferece controles para decidir como eu quero me relacionar com a tecnologia. Por que eu estava deixando a tecnologia decidir por mim?

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Outro problema para mim eram as redes sociais. Houve um tempo no qual as redes sociais eram um ambiente para relaxar. Era o "bar virtual" para falar com os amigos e fugir do mundo real. Nos últimos tempos, porém, me sentia inundada de problemas cada vez que abria as redes sociais. Por vezes me vi sem concentração no trabalho porque olhei as redes sociais no meio do dia e depois não conseguia parar de pensar na última polêmica do momento ou em algum comentário que li no post de um amigo.

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O que mais me incomodava era não ter tempo para digerir tudo que eu lia e via. Era não escolher voluntariamente dedicar um momento para aquela rede virtual e o que estava acontecendo por lá. Eu só sentia que a cada vez que abria o aplicativo estava absorvendo os problemas do mundo e não dava conta de entender tudo.

Há duas semanas, estive em São Paulo e me distanciei da internet. Um distanciamento que já estava em andamento há algum tempo. Foi um distanciamento para viver um momento que me pedia atenção, um distanciamento para viver a vida real. Não que eu não tenha entrado na internet. Eu apenas entrei de forma seletiva. Quando eu quis, tive tempo, por pouco tempo e para ver aquilo que eu escolhi ver.

Desde então, estou em uma dieta digital progressiva que só tem me trazido benefícios. Me sinto mais calma e com mais controle da minha vida. Me sinto cada vez menos com o tal FOMO (Fear of missing out, o tal medo de estar perdendo algo que você nem sabe o que é).

:::LEIA TAMBÉM: A tecnologia pode aumentar a nossa empatia?:::

Aqui nos EUA, as pessoas têm se preocupado cada vez mais em repensar a sua relação com a tecnologia também. Oestresse pós-eleições gerou uma sensação de cansaço coletivo no país e só se fala em meios de buscar bem-estar e reduzir o efeito das notícias e conteúdos (alguns falsos e sensacionalistas) que rondam a web.

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A minha certeza de que precisamos todos de um detox digital para retomar o controle sobre as nossas vidas - e smartphones - só aumentou quando li nesta semana uma entrevista com Yuval Harari na revista Wired. Ele é um historiador e autor do livro "Homo Deus: Uma breve história do amanhã". Harari diz que a espécie humana está condenada à irrelevância porque caminhamos para um futuro no qual o nosso valor será baseado apenas nos dados que geramos.

:::LEIA TAMBÉM: O que muda na sua vida quando você aprende a programar:::

Dados são a nova moeda de troca

Harari explica que a nossa dependência de ferramentas digitais, como mapas, por exemplo, está fazendo com que a gente perca a capacidade de encontrar um caminho por conta própria. Da mesma forma, sentimos que uma experiência só faz sentido se tiramos uma foto e compartilhamos no Instagram. Quando você não compartilha suas experiências, é como se elas nunca tivessem existido e, em um mundo cada vez mais baseado em dados, isso torna o ser humano irrelevante, explica Harari.

Por mais que eu seja entusiasta da tecnologia, as experiências de vida me mostram cada vez mais que as conexões humanas que construímos são mais importantes do que qualquer interação virtual (e um estudo da Universidade de Harvard, publicado esta semana, confirma que a minha percepção está certa. Segundo o estudo, conduzido ao longo de 75 anos, a receita da felicidade está no amor e nas relações que construímos ao longo da vida).

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:::LEIA TAMBÉM: Realidade virtual para a terceira idade:::

Neste retorno ao blog, quero compartilhar algumas dicas simples que coloquei em prática para fazer a minha dieta digital. É impressionante como pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida.

Você precisa de um motivo mais forte? Neurologistas fizeram um estudo e descobriram que quando estão desconectadas da tecnologia, as pessoas melhoram até a postura.

Receita para uma dieta digital 

1. Desative as notificações do celular. Mantenha apenas o que for essencial, como o seu aplicativo de notícias preferido. Todo o resto pode esperar você ter tempo e vontade de entrar no aplicativo para ver o que está acontecendo. Notificações me dão muita angústia e vontade de acessar o app para retirar o alerta da tela imediatamente. E, claro, essas notificações foram engenhosamente desenhadas para causar exatamente essa reação. Portanto, diga para os seus aplicativos que quem manda neles é você. E não se preocupe. Você não vai perder nada fazendo isso. O que é importante sempre chega até você.2. Delete as redes sociais do seu smartphone. Está viciado em redes sociais? Você já percebeu que abre o aplicativo da sua rede favorita diversas vezes por dia e fica rolando a tela até cansar? Você faz isso antes de dormir e vira e mexe se paga preocupado ou com dificuldade de se concentrar depois de participar de algum debate nas redes sociais? Crie coragem e delete a rede que mais te atormenta do seu celular. Vai ser difícil deletar, eu sei. Mas é incrível como o app não faz falta uma vez que você tem coragem de deletá-l0. Eu confesso que tive até uma sensação de alívio. Tinha tempo para ler outras coisas como notícias e livros salvos no meu celular. As redes sociais trazem benefícios, mas viciam. E muito. Que tal acessá-las somente quando você tiver tempo livre para ver o conteúdo com calma e processar tudo que você ler por lá?3. Baixe aplicativos que permitem a leitura de textos offline. Aplicativos como o Pocket permitem que você salve links de páginas da internet para ler offline. Basta enviar o link de um artigo legal para o Pocket que o app faz o download do conteúdo e salva para você ler quando quiser. Sabe aquele aplicativo de redes sociais que você deletou? Que tal substituir o tempo gasto com ele pela leitura das notícias do dia e textos de qualidade?4. Selecione e organize os seus grupos de WhatsApp. Será que você precisa mesmo participar de 15 grupos diferentes no WhatsApp? E você precisa ler as mensagens que chegam nesses grupos na mesma hora em que elas são enviadas? Primeiro, faça uma limpeza nos seus grupos e elimine os que geram mais barulho do que benefícios. Com exceção de grupos que podem ser usados para a troca de mensagens urgentes, desative as notificações da maior parte dos grupos. Mais uma vez, a meta é ter controle sobre o seu uso da tecnologia. Em vez de pegar o celular para ler as mensagens cada vez que o telefone apita, você pode escolher o melhor momento do dia para abrir o Whatsapp e checar as mensagens na caixa de entrada. Aquela piada que seu amigo de colégio enviou no grupo pode esperar.5. Separe momentos para o ócio. Toda vez que viajo de avião e passo horas sentada na poltrona percebo que algo interessante acontece: tenho diversas ideias e insights para aplicar no meu trabalho e vida pessoal. O vício no smartphone hoje deixa pouco tempo para o ócio. Sentimos que precisamos saber de tudo que está acontecendo. Opinar rapidamente sobre o assunto do dia. Usar o tempo em que estamos em uma sala de espera ou no transporte público para ficar no celular. Mas que tal usar esse tempo para fazer nada? Apenas olhar em volta, observar as pessoas, pensar na vida. Quando vivemos na velocidade da tecnologia, falta tempo para absorver e digerir as coisas que experimentamos, lemos e vivemos. Na pressa de emitir uma opinião, nos falta tempo para entender o que de fato acontece no mundo e ter empatia com os outros. Que tal se dar mais tempo para pensar no que quiser e contemplar o mundo? A diferença é gritante. Diminui a ansiedade, o estresse e aumenta a produtividade.6. Espere cada experiência vivida acabar antes de postar fotos nas redes sociais.  Você pode até tirar uma foto para guardar uma lembrança de um momento especial, mas em vez de correr para postar nas redes sociais, que tal guardar o telefone e viver o momento? Escolha uma pessoa que estiver no local e, em vez de se engajar no seu telefone, aprofunde uma conversa com ela. Se ao fim do evento ou no dia seguinte der vontade de postar a foto, vá em frente. A meta é reduzir a sensação de que algo só é válido e real quando está nas redes sociais e ganha muitos likes. Antes de compartilhar nas redes, entenda o que cada momento significa para você. Sobretudo, viva o momento na vida real e não nas redes sociais.

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Se você tentar algum dos passos acima, não deixe de voltar aqui para contar como foi a sua dieta virtual. Tem outras dicas? Comente!

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