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O jogo de Mad Max é (quase) tão bom quanto o filme

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Por João Coscelli
Atualização:

Quem foi aos cinemas no primeiro semestre e assistiu a Mad Max: Estrada da Fúria provavelmente vivenciou uma das maiores experiências cinematográficas do ano. Não somos especializados em crítica de filmes, mas quem é fã de filmes de ação sabe bem do que estamos falando. Em setembro, chegou a hora de levar essa experiência para quem joga videogame. E embora a criação da Avalanche Studios não tenha se destacado tanto quanto o longa, reproduz com um bom nível de qualidade e fidelidade a obra de George Miller, ainda que o processo de adaptação tenha limado aspectos que seriam interessantes na proposta de mundo aberto de Mad Max.

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O que está proposto aqui é uma comparação entre o filme e o jogo, e não uma avaliação qualitativa. Disso, outras publicações dão conta - ou mesmo o Metacritic do game, para quem ficar curioso sobre as notas dos reviews, que são bastante pessoais e refletem a experiência que tão somente o crítico em questão teve com o jogo. O que queremos é analisar a relação entre longa e game e o quanto eles se aproximam ou se distanciam em questão de temática, personagens e outros elementos.

O primeiro ponto a notar é a total desconexão entre as narrativas. Mad Max não é o jogo do filme, mas sim uma obra inspirada em outra, e isso nem de longe é um aspecto negativo. Pelo contrário - permitiu à Avalanche criar uma história completamente nova, ainda que aproximada do que se vê no longa. O Max do game, que não é Tom Hardy e nem Mel Gibson, se propõe a montar um carro - o Magnum Opus - para então buscar um pouco de paz em um lugar lendário do deserto pós-apocalíptico, um objetivo um tanto quanto diferente daquele que percorre a Estrada da Fúria. Isso, porém, não tira a graça do jogo - é uma nova experiência a ser vivida no universo de Mad Max, seus lugares ermos e sua cultura automobilística.

Os carros, aliás, são um elemento que aproximam jogo e filme, assim como o combate automotivo. Pode-se dizer que o protagonismo da série é exercido pelas máquinas, e o jogo faz jus a esse aspecto. Construir o veículo é o principal objetivo e uma das mais prazerosas atividades de Mad Max, ainda mais quando se leva o possante para o deserto já preparado para o combate contra um comboio. Sim, as espetaculares cenas do filme são reproduzidas nas areias do game, com direito a explosões, caminhões-tanque blindados e doses cavalares de adrenalina. As sequências de tirar o fôlego não são tão elaboradas no jogo, mas é extremamente gratificante mandar todo um grupo de guerra inimigo pelos ares com seus "brinquedinhos" automotivos novos.

O trabalho da Avalanche também foi fantástico no que diz respeito aos cenários e à atmosfera do deserto. Os warboys do filme são igualmente lunáticos. As paisagens são belíssimas num misto de cores, desolação, e areia, muita areia. E tudo - desde a escassez de água e comida até a arquitetura das refinarias e fortes - faz parecer com que o filme de George Miller fosse recriado e estivesse pronto para ser assistido novamente, mas sob a perspectiva de um novo personagem.

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Neste aspecto, porém, há um pecado capital. Enquanto a sobrevivência no filme parece extremamente árdua, para quem quer que seja, ela é menos áspera no jogo. Claro este é o objetivo das mecânicas de pilhagem, mas o efeito carece de intensidade. A partir do momento em que Max atinge determinado nível no jogo e o próprio jogador compreende como tudo funciona, o deserto - ou wasteland, como chamam os americanos - deixa de ser um grande obstáculo. Max passa a dominá-lo, quando na realidade deveria ser um desafio em constante transformação, sempre com novas e pouco agradáveis surpresas. No filme, por outro lado, há poucos momentos para respirar, uma vez que o grupo está sempre em apuros, seja pela natureza do mundo caótico, seja pela ação de seus habitantes.

Quanto aos personagens, os do jogo carecem da profundidade que os do filme apresentam. O game é centrado em Max e conta com a aparição de algumas figuras excêntricas, mas a única mulher da história é Hope (que não por coincidência significa "esperança" em inglês), que desempenha um papel secundário. Em contrapartida, o filme tem a imponente presença de Furiosa, interpretada por Charlize Theron, personagem responsável por levar adiante toda a narrativa - e um das melhores surpresas do filme, tanto pelo papel quanto pela atuação. Nesse ponto, falta algo - o game poderia trazer personalidades mais fortes que certamente dariam algo a mais à narrativa.

Nessa comparação, as falhas são poucas. A proposta é outra, claro, mas é inegável que jogo e filme dialoguem. O jogo, apesar de alguns pontos que deixam a desejar, é quase tão bom quanto o longa. Mas o veredicto é claro - se Mad Max: Estrada da Fúria te fez perder o fôlego no cinema, o Mad Max jogável não vai decepcionar quem ficou com vontade de ver a história continuar no deserto pós-apocalíptico.

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