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Quem joga, sabe

A experiência cinematográfica de 'The Last of Us'

Um dos melhores jogos de PlayStation 3 volta remasterizado para o PS4 e se torna o melhor jogo do console até agora

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:
 Foto: Estadão

"Que filme é esse? Qual seriado você está assistindo?" Estas foram as perguntas que mais ouvi de colegas enquanto jogava a versão remasterizada de The Last of Us para PS4. "É jogo", respondi inúmeras vezes, sabendo de antemão que seria questionado sobre como um game desta geração poderia ser tão similar à sétima arte. E nem dava para rir dos comentários: os jogos chegaram a um patamar de entretenimento muito semelhante ao dos filmes.

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Depois do sucesso estrondoso e das inúmeras premiações, os fãs puderam apreciar gráficos melhorados de The Last of Us em seus PS4 neste ano - desta vez, disponível em resolução 1080p. Mesmo para quem já havia explorado cada canto obscuro do suspense que mais se parece com alguma temporada da série The Walking Dead, repetir a jogatina é uma das experiências mais divertidas e interessantes - assim como assistir ao filme pela segunda vez para captar novos detalhes. Este, como poucos, consegue prender o jogador num universo complexo de maneira tão forte que, ao final, a saudade dos personagens faz com que o replay ocorra com mais facilidade do que em qualquer outro jogo linear (sem mundo aberto para exploração).

A história é aquela já conhecida por todos (e até batida como trama principal de inúmeros jogos e filmes): a humanidade foi infectada por uma espécie de fungo que transforma o mais gentil dos rapazes em um faminto zumbi assustador. Pouco a pouco, as formas de vida começam a desaparecer da Terra, até que os pequenos grupos que continuaram vivos começam a se degladiar em busca de comida, armamentos e abrigo. Apesar da grande leva de zumbis de todos os tipos, logo o jogador perceberá que outros humanos são seus piores inimigos.

 Foto: Estadão

Na maior parte do tempo, controla-se Joel, um sobrevivente que perde a filha logo no início da trama. Ao longo da história ele se encontra com Ellie, uma adolescente que precisou amadurecer antes do tempo para sobreviver ao fim do mundo. Sarcástica e bem humorada, a jovem conquista o protagonista durão e seco a cada cena.

Um dos pontos mais interessantes no enredo do game é a forma como as falas foram colocadas. Durante a caminhada entre um ponto e outro, os personagens dialogam sobre suas vidas, contam curiosidades e até coisas sem importância. Foi uma ótima sacada dos roteiristas: geralmente em áreas muito grandes ou complexas - aquelas em que todo mundo fica entediado - somos agraciados com pequenos flashes da vida dos personagens. Joel, por exemplo, diz que sabe cantar. Em outro momento, conta que foi casado. Em um mundo devastado pela solidão e por cenários infinitamente vazios, ouvir uma voz amiga acaba sendo uma das sensações mais reais do game.

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 Foto: Estadão

A ação de The Last of Us é muito semelhante a outra franquia bastante conhecida da Naughty Dogs - a trilogia Uncharted. Os primeiros minutos do game fazem lembrar imediatamente o controle de Drake na terceira edição do game. Personagem em terceira pessoa, golpes corpo-a-corpo e um arsenal de armas coletadas ao longo da história. A furtividade (stealth) é um fator divertido: é possível passar por diversos cenários sem entrar em guerra com todos os inimigos, mas matando um a um com facas ou tiros na cabeça, por exemplo.

Passar de um cenário a outro não traz dificuldade - os obstáculos são bastante óbvios e nunca há mais de um caminho para se chegar ao objetivo. Em alguns locais, chega a irritar a forma como foram inseridos "desafios" sem sentido. Muitas vezes, é preciso levar uma escada do ponto A ao B, sendo que seria possível subir sem o objeto, mas o jogador é obrigado pela mecânica de progressão do game. As ações na água são horrorosas, como praticamente em todo jogo.

 

As batalhas são bastante inovadoras e podem ser superadas de inúmeras maneiras - outro ponto fortíssimo de The Last of Us. Se assim não o fosse, o jogo perderia seu brilho, já que boa parte dele ocorre no campo de guerra. É possível atrair todos para um só lugar e jogar uma granada, atirar uma bomba de fumaça e fugir, sair metralhando à la Rambo ou ainda matar todo mundo na porrada com um pedaço de madeira. Dá até para usar arco e flecha. A boa quantidade de armamentos e a possibilidade de unir objetos encontrados pelos cenários reforçam este quesito. Ao combinar uma tesoura e um taco, por exemplo, obtém-se uma espécie uma arma que perfura a cabeça dos zumbis e os mata com apenas um ataque.

Nos níveis fáceis o jogo pode ser terminado praticamente sem mortes. Mas vale a pena testar o modo mais desafiador do game. As armas desaparecerão do cenário e quase sempre será preciso fugir dos monstros sem matá-los, o que torna a ação frenética e até assustadora: prepare-se para tomar muitos sustos. Mais do que naqueles filmes de terror trash do Netflix.

 Foto: Estadão

Quebrando a cabeça

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Talvez a parte mais chata de The Last of Us sejam os puzzles. Pode ser apenas questão de gosto, mas depois de inúmeras cenas de ação e com a história em pleno vapor, torna-se insuportável descobrir como abrir uma porta qualquer enquanto o jogador poderia simplesmente estourá-la com um chute - ou com os tantos revólveres e pistolas que ele guarda na mochila.

Conforme os fatos são colocados ao espectador, a vontade de jogar só aumenta. Mesmo quem não tem o controle na mão quer ficar próximo - exemplo destes colegas que me perguntaram qual filme eu assistia. E depois que tudo acaba e os créditos sobem na tela?

 Foto: Estadão

The Last of Us: Left Behind

É aí que entra uma pequena vantagem do PS4: foi disponibilizada uma "side story" de Ellie. No pequeno episódio,o DLC Left Behind, dividido em dois momentos distintos, o jogador descobre como a garota foi mordida por um dos zumbis - mas não ficou infectada. A jogabilidade é a mesma, mas com enfoque na exploração do cenário e da história, com menos momentos de tiroteio.

O primeiro deleséuma experiência quase contemplativa - o jogador atuará bem menos que na aventura principal. Ellie e sua amiga Riley circulam por um shopping desativado depois de fugir do quartel do exércitoe têm poucos minutos da vida que toda menina de 13 anos deveria ter. Há uma sequência de mini-games que exploram o lado "teenager" das personagens, como brincar em um carrossel ou fazer selfies em uma máquina. É o contexto de quem já passou por toda a história de The Last of Us que faz do DLC uma atividade sensacional - o próprio jogo recomenda que só se parta para esta fase depois de zerar a trama principal.Uma das cenas, talvez a mais comovente, mostra Ellie de olhos fechados fingindo que joga um fliperama desativado, enquanto Riley narra o "movimento" dos personagens.Há ainda um "mata-mata" entre as duas com arminhas de água.

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A segunda ação ocorre entre as partes "outono" e "inverno" da história principal - aquela em que Joel está gravemente ferido.Foi uma boa resposta ao intervalo perdido desta parte do game, que não mostra exatamente como ele se recuperou e de onde a garota tirou remédios para curá-lo em uma cabana no meio do nada.Nesta, as batalhas são frenéticas, principalmente a última - são inimigos por todos os lados em um cenário enorme.

Valeu a pena?

The Last of Us foi um dos melhores jogos do PS3 e já deve estar garantido na estante de muitos sortudos com um PS4. Com o baixo número de lançamentos até agora, pode-se até dizer que figura como a melhor experiência dos detentores do console da nova geração por um bom tempo, que nem Watch Dogs supera.

//www.youtube.com/embed/AaOWRvmtEFQ

Título: The Last of Us e The Last of Us: Left BehindDesenvolvedora: Naughty DogPlataformas: PS3 e PS4Preço: R$ 100 (The Last of Us/PS3) e R$ 31 (Left Behind)

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/Luiz Fernando Toledo

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