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Quem joga, sabe

Review: Assassin's Creed Syndicate

Na versão londrina de Assassin's Creed, a Ubisoft comete um jogo melhor que o do ano passado, mas coloca sua principal franquia em uma encruzilhada.

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Por Bruno Capelas
Atualização:

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 Foto: Estadão

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por Bruno Capelas

Lá e de volta outra vez: assim como Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e o verão, parece que todo ano temos um jogo de Assassin's Creed. Pelo menos tem sido assim desde 2007, quando a Ubisoft criou a franquia que coloca o jogador no meio da briga milenar entre Assassinos e Templários em algum lugar no espaço-tempo da história mundial. Dessa vez, em Assassin's Creed Syndicate, é a vez de nos divertirmos com carruagens, socos ingleses, relógios chamados Ben e dois irmãos chamados Jacob e Evie Frye, no meio de uma Londres vitoriana com cheiro de chá por todos os lados.

As boas novidades do jogo começaram por aí: a presença de uma mulher como protagonista e a ambientação inglesa são dois acertos iniciais de Syndicate. Afinal, não é todo dia que você pode trocar ideia com gente como Alexander Graham Bell, Charles Dickens, Charles Darwin e Karl Marx como se estivesse em um boteco qualquer.

Leia também:Novo Assassin's Creed traz Londres moderna e mulheres em destaque

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Evie Frye, por sua vez, é uma personagem interessante: muito interessada em manter o legado de seu pai, outro assassino, Evie tem um estilo de combate mais discreto e uma personalidade bacana, tornando-se uma das principais protagonistas da série até aqui. Sua presença pouco sexualizada (lembre-se dos shortinhos de Lara Croft!) também é outro momento no qual a Ubisoft marca pontos, refletindo as recentes preocupações da indústria de games com questões de gênero.

E tem mais: o jogo tem um personagem transgênero, Ned Wynert, que aparece com muito bom humor. No entanto, pode parecer um pouco exagerado pensar em uma Londres de 1868 em que mulheres podiam andar livremente por qualquer lugar como Evie faz. Apesar da relativa liberalidade da época, há aqui algum exagero histórico - mas nada que não seja fora da curva em um jogo que te deixa saltar de grandes alturas direto para uma caixa de feno.

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Encruzilhada. Já Jacob Frye, por sua vez, se não inova em termos de história, traz certo frescor à jogabilidade de Assassin's Creed Syndicate ao mesmo tempo em que põe a franquia em uma encruzilhada. Verdadeiro valentão inglês, como se tivesse saído de um filme de Guy Ritchie, Frye passa longe de ser um assassino à moda antiga. No lugar da discrição, Jacob adora mesmo é uma boa briga - e acha que seu melhor argumento é, de fato, seu punho.

Para quem não tem muita paciência com a experiência de furtividade de Assassin's Creed, (em que basicamente ficar escondido e ir matando os inimigos de forma silenciosa resolve tudo, mas na qual qualquer erro é fatal), é uma ótima saída. Afinal de contas, apertar botões para ver sangue voando pelos lados é uma estratégia vencedora na catarse dos games desde que o primeiro jogo de luta apareceu em um arcade de rodoviária.

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No entanto, ao adotar o combate mano a mano, Assassin's Creed faz uma parte de sua essência desaparecer: em nome de uma jogabilidade cada vez mais acessível, a série se esquece do que fez de fato pelos games - houve um momento, logo após o sucesso dos dois primeiros AC, em que todo jogo parecia querer incorporar características de stealth em sua jogabilidade. Agora, a Ubisoft parece ir contra isso.

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Outra característica que reforça a encruzilhada de Assassin's Creed nesse momento é a narrativa em si: desde o final de Assassin's Creed III, a "história por trás da história" se tornou praticamente irrelevante na franquia. Já o roteiro sobre os dois irmãos Frye, por sua vez, é interessante, mas toda vez que promete ir atém das faíscas, acaba sendo evitado - boas piadas ou um clima de maior tensão poderia dar o tom a Syndicate. Apesar da boa proposta de sequências - que investigam como os Templários se apossaram de diferentes setores da economia da Londres vitoriana, a narrativa das missões principais acaba sendo frustrante, resumindo-se a sequências mais ou menos aleatórias de "leva-traz-mata-sequestra-saqueia-e-volta-pra-casa".

No que diz respeito ao gameplay em si, há novidades interessantes: além do já citado combate mais pegado, há a presença do gancho, que te permite sobrevoar pelos telhados ingleses, e o roubo de carruagens. Em uma livre inspiração tirada de Grand Theft Auto III, você pode roubar qualquer carruagem ou charrete na rua para percorrer os becos e vielas londrinos de forma mais rápida. É divertido, ainda que manobrar cavalos nem sempre seja fácil. É nessas horas que dá vontade de chamar Syndicate de GTC: Grand Theft Carruagem.

Vale a pena? Syndicate tem alguns méritos: colocou questões de gênero na ordem do dia nos jogos blockbusters, trouxe novidades divertidas para a série e, mais do que tudo, reabilitou a franquia após o fracasso de Assassin's Creed Unity. Para fãs da série, tudo pode funcionar como a canção dos Rolling Stones: "é só Assassin's Creed, mas a gente gosta". Para o jogador comum, no entanto, Syndicate pode ser só mais um passatempo (divertido, sim) no final do ano. É pouco para uma franquia milionária e cheia de fãs. Mais do que isso, é um sinal de que a Ubisoft precisa parar e entender o que, de fato, precisa fazer com sua principal franquia.

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