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A regulamentação da mídia

Incentivos à banda larga e à produção audiovisual para a internet funcionariam melhor que regulamentação da mídia

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Por Renato Cruz
Atualização:
 Foto: Estadão

Em sua posse, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, apontou como uma das prioridades de sua pasta a "regulamentação econômica da mídia", com o objetivo de democratizar a difusão de conteúdo. A legislação da radiodifusão (rádio e TV aberta) é realmente anacrônica. As regras do setor são definidas pelo Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), de 1962.

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Há duas décadas vêm sendo discutidas propostas para atualizar essa lei. E as propostas acabam esbarrando na oposição do Congresso, onde existe uma "bancada dos radiodifusores", suprapartidária, avessa a qualquer mudança. Para se ter ideia dos desafios nessa área, a Constituição proíbe que deputados e senadores sejam donos de concessões públicas, mas não se consegue fazer cumprir nem mesmo a Constituição.

Um dos problemas de se propor uma "regulamentação econômica da mídia" é definir do que se trata. O governo quer impor regras à concentração de faturamento nos grupos de mídia? Se for esse o caso, como mexer nisso sem criar regras de conteúdo? Porque faturamento, na radiodifusão, está diretamente ligado a audiência, e audiência depende de conteúdo. Como regular conteúdo sem colocar em risco a liberdade de expressão?

Atualmente, não dá para tratar do mercado de radiodifusão como se ele fosse isolado. O Google tem o segundo maior faturamento publicitário do Brasil, segundo o antecessor de Berzoini, Paulo Bernardo. Está atrás da Globo, mas à frente de Record e SBT. Um risco de se impor novas regras é enfraquecer grupos nacionais em benefício de empresas estrangeiras.

Ou a regulamentação trataria de propriedade cruzada, impondo limite ao número de emissoras que cada grupo pode ter? Quando comecei a escrever neste jornal, em 2001, o então ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, colocou em discussão um anteprojeto de Lei de Comunicação Eletrônica de Massa.

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Naquele ano, durante evento em Brasília, reguladores internacionais destacaram que seus países tinham regras contra propriedade cruzada. Também mostraram que a radiodifusão ficava sob responsabilidade de um órgão técnico, uma agência reguladora, diferentemente do Brasil. O anteprojeto não chegou nem a ser enviado ao Congresso.

De lá para cá, o mundo mudou. A radiodifusão passa por um momento de ruptura, resultado do crescimento das opções de vídeo via internet. Se o objetivo é democratizar a difusão da informação, acredito que duas medidas seriam muito mais efetivas que a regulamentação da mídia. Uma delas é a ampliação da banda larga, usando todos os meios disponíveis, inclusive tecnologias sem fio. Outra é o financiamento do audiovisual para a internet. Atualmente, as linhas públicas de fomento são voltadas principalmente para cinema e televisão.

Fibra

O plano Banda Larga para Todos prevê a instalação de acessos de fibra óptica em 90% dos domicílios brasileiros até 2018, com velocidade mínima de 25 megabits por segundo. A meta é bastante ambiciosa. Em 2013, somente 42% das residências tinham internet, sendo que 10% delas ainda usavam acesso discado. O antecessor Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) era mais modesto e não foi concretizado.

Democratização

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Uma grande oportunidade de democratização da mídia foi perdida em 2006, quando foram definidas as regras para o lançamento da TV digital no Brasil. Os europeus aproveitaram a transição para licitarem novas redes. Por aqui, o governo reservou para si quatro canais digitais, no lugar de oferecê-los ao mercado, ocupando todo o espectro em cidades como São Paulo e Rio e impendido o lançamento de novas redes nacionais.

No Estado de hoje ("A regulamentação da mídia", p. B8).

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