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Clay Shirky e o futuro do jornal

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Por Renato Cruz
Atualização:

Clay Shirky (foto) foi chamado por Chris Anderson, editor da Wired, de "pensador proeminente dos efeitos sociais e econômicos das tecnologias da internet". Recentemente, teve publicado no Brasil o livro Cultura da participação (em inglês, Cognitive surplus), pela Jorge Zahar. Entre outros pontos, ele mostra no livro que as pessoas podem produzir conteúdo relevante se dedicarem a isso uma fração do tempo que gastam vendo TV.

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Professor da Universidade de Nova York, desde o fim de 2010 passou a fazer parte do corpo docente do Instituto de Jornalismo Arthur L. Carter. Ele chegou hoje a São Paulo, já teve uma experiência bem ruim com o trânsito da cidade e dará uma palestra amanhã por aqui. Na sexta-feira, conversei com Clay Shirky por telefone sobre jornalismo, televisão e geração Y.

O jornalismo, como atividade profissional, está morrendo?

Não acho que esteja exatamente morrendo. Obviamente, a maneira como financiamos e suportamos a atividade está mudando. Ingressei no programa de jornalismo na Universidade de Nova York. Tenho estudantes de graduação e pós-graduação. Quando converso com jovens, eles ainda consideram importante que a sociedade tenha um grupo de pessoas que revelem a verdade e que contem histórias. Em muitos casos, esses são os empregos que eles procuram quando estudam jornalismo. O que não sabemos é como serão suportados, porque está claro que o modelo antigo, principalmente de jornais impressos, com o monopólio local da publicidade, não existe mais. A sociedade precisa de pessoas cujo trabalho seja dizer a verdade e existem jovens que querem assumir esse trabalho. O jornalismo não é uma profissão como a de fabricantes de chicotes, que sumiu quando os automóveis surgiram. O jornalismo é uma necessidade profunda da sociedade, e nossa geração precisa descobrir como mantê-la.

Qual é sua opinião sobre a transição dos jornais? Vi alguns números mostrando que o Washington Post perdeu US$ 5 em anúncios impressos para cada dólar digital que ganhou.

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Esse é o mecanismo pelo qual os jornais estão sofrendo. Nos Estados Unidos, chamamos de problema de dólares físicos e centavos digitais. Mas acho que isso é real. Não é um problema temporário. Um leitor de uma publicação impressa realmente vale mais, já que existe menos competição por esse leitor. No caso de jornais, a principal tarefa dos administradores é controlar custos.

Imagino que, se radiodifusores lerem seu livro, não ficarão muito felizes. O que eles podem fazer nesse novo cenário de colaboração?

Eles podem não ficar felizes se continuarem no mesmo padrão do século passado, em que os consumidores somente consomem. O que eu diria para os radiodifusores é que hoje as pessoas podem consumir, produzir e compartilhar. Uma das coisas sobre as quais as pessoas gostam de conversar a respeito é o que eveem na televisão e o que ouvem no rádio. Os radiodifusores que encontrarem maneiras de permitir esse comportamento ganharão a lealdade do público.

Como fez uma série como Lost, por exemplo?

Exatamente. Lost é um dos exemplos. Mas você pode considerar um cantor, um programa de televisão, um político em particular ou um assunto político. Existem algumas pessoas que estarão passionalmente engajadas em relação a esse show, a essa pessoa ou a essa questão. Se você ajudar as pessoas a terem essa conversa, terá grandes benefícios. Como vimos em Lost e como vimos na eleição de Barack Obama.

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Tem gente que reclama de que há muito lixo na internet. Qual é a sua opinião sobre isso?

É claro que existe muito lixo na internet, mas existem duas coisas a serem entendidas a partir desse fato. Uma é que, mesmo que pessoas façam coisas bobas, ainda estão fazendo.

Você escreveu que fazer um Lolcat é melhor que assistir a um programa de televisão.

Existe um espectro que vai do conteúdo medíocre ao conteúdo de qualidade. Mas existe uma distância grande entre fazer alguma coisa e não fazer nada. Eu acho que essa é a grande surpresa no ambiente atual de mídia. O grande número de pessoas interessadas em fazer algo, quando tem a oportunidade.

Você escreveu no seu livro que a geração Y não é tão diferente das outras, e deu um bom exemplo analisando a geração X.

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O que falam da geração Y é ridículo. A geração X costumava ser considerada uma geração de preguiçosos (slackers). Mas eles se formaram quando os Estados Unidos estavam numa recessão e não saíam atrás de empregos porque não havia bons empregos disponíveis. As pessoas os viam como se eles fossem muito preguiçosos. Mas, quando a economia melhorou, eles se mostraram muito empreendedores. Qualquer explicação que diga que um grupo de pessoas é fundamentalmente diferente de outro, eu acho grosseiramente exagerada. No livro, eu digo que comportamento é motivação filtrada pela oportunidade. E nossa motivação não muda tanto, de uma geração a outra, mas as oportunidades mudam. Se as pessoas mais novas estão se comportando de uma maneira diferente de nós, é possivelmente porque tiveram a oportunidade de fazer isso.

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