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Memória digital

Corremos o risco de perder nossa memória digital por causa do avanço tecnológico?As futuras gerações podem ter poucos registros do século 21, quando o software e as máquinas que usamos se tornarem obsoletos

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Por Renato Cruz
Atualização:
 Foto: Estadão

A revista Blender surgiu em 1994, ano em que a web estourou nos Estados Unidos. Apesar disso, era uma revista em CD-ROM. Muito bem feita, tratava de música e cultura. Além dos textos, trazia trechos de músicas, de entrevistas e de videoclipes. Se você quiser ver um exemplar dessa revista hoje, é preciso instalar um emulador de Macintosh clássico, porque os sistemas operacionais atuais não são capazes de carregá-la. Também daria para ler com um emulador de Windows 95, contanto que ele tivesse uma versão da época do Quicktime, software de vídeos da Apple.

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Nossas memórias digitais correm o risco de se perder por causa do avanço tecnológico. Arquivos digitais em formatos antigos muitas vezes não abrem em sistemas novos. Sempre existe a possibilidade de converter esses arquivos quando há uma transição tecnológica, mas ninguém garante que essa conversão será feita. Quanto mais o tempo passa, mais difícil fica.

Na semana passada, Vint Cerf, um dos pais da internet, disse estar preocupado com a possibilidade de perdermos todos os documentos que gravamos nos nossos computadores. Cerf criou o TCP/IP (sigla em inglês de protocolo de controle de transmissão e protocolo de internet), que conecta redes com tecnologias diferentes para que funcionem como se fosse uma só. Atualmente, Cerf é vice-presidente do Google.

Durante evento da Associação Americana para o Avanço da Ciência, ele alertou que as futuras gerações podem ter poucos registros do século 21, quando o software e as máquinas que usamos se tornarem obsoletos. O engenheiro teme que estejamos entrando numa "Idade das Trevas digital". Em entrevista à BBC, ele disse que corremos o risco de acabar com uma quantidade gigante de dados que não conseguimos acessar.

Cerf propôs que cada sistema existente hoje seja preservado digitalmente, na nuvem, e que possamos rodá-los para acessar arquivos antigos. O conceito foi chamado de "velino digital", referindo-se à pele de animal que era usada para fazer manuscritos de alta durabilidade.

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Mas ainda assim haveria um problema: e se a empresa que armazenar esses sistemas antigos sair do mercado? A solução de Cerf é que esses sistemas sejam padronizados e possam ser copiados de um servidor para outro e até para o computador do usuário. Será um desafio garantir que rodem em novas máquinas. O problema de incompatibilidade reversa (o equipamento novo rodar o software antigo) continua.

Essa consciência da fragilidade da memória digital emerge num momento em que dependemos cada vez mais de máquinas para lembrar. Nunca tiramos tantas fotos, nunca gravamos tantos vídeos, e nunca cuidamos tão mal de nossas fotos e nossos vídeos. É como se o ato de registrar tivesse se tornado mais importante do que o registro em si.

Visão

Uma pesquisa feita pela Microsoft mostrou que os países em desenvolvimento são muito mais otimistas quanto ao impacto da tecnologia que os países desenvolvidos. Dois terços dos pesquisados nos países em desenvolvimento acreditam que a tecnologia tem um impacto positivo nos laços sociais, comparados a um terço nos países desenvolvidos. No Brasil, 63% responderam que os impactos são positivos e 14% que são negativos.

Produtividade

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No Brasil, 70% dos entrevistados acreditam que tecnologias pessoais melhoram a produtividade. Esse número está acima da média mundial (65%) e em linha com a média dos países em desenvolvimento (71%). Nos países desenvolvidos, 54% acham que houve avanço na produtividade. A Índia e a China têm uma visão mais positiva que o Brasil, com 76% e 71%, respectivamente.

No Estado de hoje ("Memória Digital", p. B8).

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