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Microsoft quer cortar os fios

Empresa aposta no Windows 8 para se expandir no mercado de computação móvel, o que mais cresce

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Por Renato Cruz
Atualização:
 Foto: Estadão

Nunca a Microsoft viveu um momento de mercado tão desafiante. Com a ascensão dos tablets e dos smartphones, a empresa tem uma posição pequena no segmento que mais cresce, enquanto enxerga o seu mercado principal, o de PCs, estagnar ou até cair.

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A maior empresa de software do mundo aposta todas as suas fichas no Windows 8, nova versão do sistema operacional presente em mais de 90% dos PCs do mundo, para começar a virar o jogo. Mas não vai ser fácil. Apesar de elogiado, seu sistema operacional para celulares, o Windows Phone, ficou com uma fatia de somente 2% das vendas mundiais de smartphones no primeiro trimestre, segundo a consultoria Gartner. Em tablets, a empresa nem aparece.

"Olhamos estrategicamente para o mercado de celulares", afirmou Kevin Turner, diretor mundial de operações da Microsoft, que visitou o Brasil na semana passada. No prédio em que a empresa inaugurou, em janeiro, seu centro de tecnologia, em São Paulo, Turner contou que costuma vir ao País todo ano. "Esta é minha sétima visita seguida. Atualmente, o Brasil é o que mais cresce entre os grandes mercados do mundo. "

Turner está animado com o lançamento do Windows 8, que ainda não teve sua data anunciada. "Achamos que é o maior lançamento da história da Microsoft", disse o executivo. A expectativa é que ele seja lançado ainda este ano, três anos depois do Windows 7, a versão mais recente, que chegou ao mercado em outubro de 2009.

O Windows 8 incorpora o recurso de tela sensível ao toque, e a interface Metro, em que a tela é dividida em quadrados e retângulos, já adotada no Windows Phone e no videogame Xbox 360. "Pela primeira vez, com o Windows 8, teremos a mesma interface do usuário do smartphone e do tablet ao laptop, ao desktop e à televisão", disse Turner. "Será o único sistema operacional do mercado com uma mesma interface do usuário. Ele permite mudar do consumo para a criação de informação de forma muito simples. Com o aperto de um botão, é possível mudar do ambiente do seu desktop para um ambiente de tela sensível ao toque."

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O sistema operacional também vai rodar em processadores Intel x86 (presentes em computadores de mesa e portáteis) e em chips de arquitetura ARM (que equipam celulares inteligentes e tablets). "A possibilidade de transitar entre essas duas arquiteturas o torna muito especial e muito único", disse o diretor mundial de operações.

Virada

A história da Microsoft tem casos de mudanças radicais. Talvez a mais famosa seja a virada que a empresa fez para a web, logo depois do surgimento meteórico da concorrente Netscape, que lançou o primeiro navegador de sucesso. Em maio de 1996, Bill Gates, que ainda estava à frente da empresa que fundou (hoje ele está aposentado, cuidando de sua fundação), enviou a seus executivos um memorando sobre a "onda gigantesca da internet".

Nesse documento, Gates identificava a Netscape como um "novo competidor nascido na internet" e atribuía à rede mundial o "mais alto grau de importância". O resultado foi o lançamento do Internet Explorer e sua integração ao Windows, a queda da Netscape e um processo movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Apesar da ação antitruste (que acabou num acordo), a estratégia teve um enorme sucesso, e representou uma virada radical da empresa.

Em outros casos, em que a mudança não teve essa magnitude, os resultados não foram tão satisfatórios. O buscador Bing foi criado como uma resposta ao Google. Apesar de ter conseguido uma boa posição (segundo lugar nos Estados Unidos), ainda está longe de ameaçar o líder. O tocador de música digital Zune, da Microsoft, chegou ao mercado para concorrer com o iPod, da Apple, mas nunca conquistou uma fatia representativa do mercado. O Windows Phone, apesar das críticas favoráveis, ainda está bem atrás do iPhone, da Apple, e dos aparelhos com o Android, software do Google.

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Em comum com a estratégia de 1996, a Microsoft aposta na sua maior força, o Windows, para alavancar sua posição em novos mercados. O novo sistema operacional, no entanto, não parece representar uma guinada radical da empresa, como aconteceu há 12 anos na guerra dos browsers (programas que permitem navegar na internet). Ele talvez seja mais uma evolução de produtos anteriores da empresa, com mira em mercados novos.

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Divisões

Se você quiser tirar Kevin Turner do sério, diga a ele que a Microsoft só faz dinheiro com Windows e Office. "Isso não está correto, não senhor. Fazemos muito dinheiro com entretenimento, com o Xbox. E uma de nossas maiores fontes de receita é o software para servidores e infraestrutura. Existem Windows, Office, entretenimento, servidores e ferramentas, todas essas divisões são muito lucrativas", disse o executivo.

E o portal MSN e o buscador Bing? "A nossa área online não faz dinheiro", admitiu Turner. "Estamos investindo no longo prazo. Amamos o negócio de buscas e de publicidade digital. Continuaremos a investir. As perdas estão diminuindo a cada ano e isso deve continuar. É um novo modelo de negócios muito estratégico para nós."

O jornal The New York Times chegou a noticiar que a Microsoft tentou vender, no ano passado, o Bing para o Facebook. "Não é verdade", disse Turner. Mas de onde surge esse tipo de informação? "Queria saber, meu amigo, para fazer alguma coisa a respeito", afirmou o executivo, rindo. "Provavelmente não sou a melhor pessoa para se perguntar como os rumores começam."

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Dilema

Clayton Christensen, professor de Harvard, é autor de um clássico de administração chamado O Dilema da Inovação. No livro, ele argumenta que as características que fazem uma empresa ser forte em determinado mercado atrapalham sua adaptação a uma nova situação, quando o mercado muda.

Esse dilema é enfrentado pela Microsoft todos os dias. Apesar da participação pequena em celulares, sua posição geral é invejável, com o domínio que mantém no mercado de PCs. O Windows, o Office e - como disse Turner - software para servidores são máquinas de fazer dinheiro.

Além da computação móvel, a empresa enfrenta o desafio de crescer em computação em nuvem. Por ser um mercado ainda mais novo, as posições ainda estão bem menos consolidadas. "Abrimos um centro de dados no Brasil porque realmente queremos ser grandes em serviços de nuvem", disse Turner. "Um cliente, Lojas Renner, recentemente adotou a nossa plataforma Office 365, trocou o Google pela Microsoft. Somos muito orgulhosos disso."

No Estado de hoje ("Microsoft enfrenta desafio móvel", p. N3).

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