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Por dentro das inovações em serviços financeiros

A reação dos bancos americanos

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Por Guilherme Horn
Atualização:
 

No mundo todo, temos visto as fintechs ofertarem produtos que solucionam problemas reais do dia a dia dos usuários. Isto acontece porque os grandes bancos se tornaram organizações complexas, que primam pela segurança das informações, pelo compliance com normas internas e regulamentações externas e por sua estrutura de capital, de forma a garantir a solidez da instituição e consequentemente a continuidade dos negócios. Com isso o desenvolvimento de seus produtos e serviços acabou se distanciando dos problemas vividos no dia a dia pelos usuários. Por exemplo, para desbloquear um cartão de crédito que acabou de chegar em seu endereço, o cliente precisa ligar para um call center, quando seria mais fácil, e até mais seguro, desbloqueá-lo usando a sua impressão digital no celular, com o sistema registrando a geo-localização do aparelho e usando-se outros fatores para tentar garantir que é o dono do cartão que está efetuando o desbloqueio. Este método traria uma experiência para o usuário digital muito mais agradável e rápida. Porém, mesmo que um grande banco enxergue valor numa mudança como esta, viabilizá-la não é uma tarefa simples, visto que os processos e sistemas implantados representam uma forte barreira.

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Foi por este motivo que nasceu há alguns anos atrás nos Estados Unidos a Venmo, uma fintech que faz transferência de valores entre pessoas. Como por lá não existe TED (nem SPB), a transferência entre contas de bancos diferentes pode levar alguns dias. E aí se um grupo de amigos vai almoçar, um deles paga a conta e os outros precisam reembolsá-lo, isso passa a ser uma tarefa fácil com o Venmo. Mas a Venmo não é apenas um aplicativo para transferência de dinheiro. Ele é uma espécie de rede social, onde cada usuário tem a sua timeline e suas transferências tornam-se públicas. Então seus amigos ficam sabendo das movimentações financeiras que ele faz. O que pode, para alguns (e me incluo neste grupo) parecer estranho, para a maioria foi a alavanca que viralizou o aplicativo. Existem casos que se tornaram conhecidos como de um usuário que não costumava honrar seus compromissos e os amigos começaram a fazer comentários para que outros não caíssem em suas promessas e ninguém mais na rede emprestou algum dinheiro para ele.

O Venmo, que foi adquirido em 2013 pela PayPal, já tem hoje cerca de 10 milhões de usuários e continua crescendo. A maior parte dos serviços é gratuita e este ano a fintech espera transacionar cerca de 20 bilhões de dólares.

Os bancos norte-americanos resolveram se mexer e iniciaram o desenvolvimento de um sistema, que acabou de entrar em funcionamento, chamado Zelle. Na verdade, o Zelle começou a ser desenvolvido antes do Venmo ser adquirido pela BrainTree (que depois foi adquirida pela PayPal). Mas como o projeto envolveu os principais bancos do país, é natural que tenha demorado.

O Zelle funciona de forma independente (pode ser usado como um aplicativo separado) ou integrado ao aplicativo do banco. O Chase, por exemplo, foi o primeiro grande banco a integrá-lo ao seu aplicativo. E isto é interessante porque o Chase, dentre os bancos, é o maior concorrente do Venmo, com o serviço Chase QuickPay. Isso mostra o quanto os grandes bancos americanos estão preocupados com o avanço das fintechs.

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À primeira vista, o Zelle parece ser correto, do ponto-de-vista técnico, ou seja, executa bem o que se propõe a fazer. Porém, resta saber qual o peso que o componente social exerce hoje nos casos de uso mais comuns para a transferência de dinheiro. É surpreendente como a publicação da transferência financeira alavancou o crescimento do Venmo. Outras fintechs surgiram para resolver problemas similares, como a SplitWise e CostSplitApp e têm crescido significativamente. O que comprova o ponto principal aqui: há um problema real que pessoas comuns enfrentam no seu dia a dia. E é este o primeiro fator chave para o sucesso de um produto.

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