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Por dentro das inovações em serviços financeiros

A vez dos Neobanks

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Por Guilherme Horn
Atualização:
 

"Neobanks" é como são chamados os novos bancos digitais do Reino Unido, onde está se desenvolvendo um dos ecossistemas mais avançados para as Fintechs, com amplo apoio dos órgãos reguladores. Alguns dos principais expoentes desta categoria são Atom, Tandem, Starling e Monzo, todos focados na experiência mobile.

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O Atom começou em 2013 e lançou oficialmente seus aplicativos para iPhone e iPad em abril de 2016. Um primeiro diferencial é o uso de identificação biométrica para o login. Basta o usuário dizer o seu nome ou olhar para a tela, para que o sistema reconheça a sua identidade e entre na área logada. Outra característica é o uso de inteligência artificial para o atendimento ao cliente, tornando as conversas mais assertivas e objetivas. O atual CEO da Atom, Mark Mullen, foi contratado em abril de 2014, após sua experiência no First Direct, o braço digital do HSBC em Londres. Em novembro de 2015, o espanhol BBVA investiu 45 milhões de libras na plataforma, elevado seu valuation para 150 milhões de libras.

O segundo neobank a obter uma licença do órgão regulador foi o Tandem, fundado por Ricky Knox, que tem em sua bagagem duas outras fintechs: SmallWorldFS e Azimo. Ao lado de Knox, um peso pesado em fintech: Matt Cooper, co-fundador do gigante CapitalOne, nos EUA, hoje uma das maiores referências em banco digital, que serve de inspiração para empreendedores em todo o mundo, como é o caso do Nubank no Brasil. O Tandem optou por montar uma equipe heterogênea e, ao lado de desenvolvedores millenials, sentam experientes ex-executivos do Santander, Barclays, GE Capital e Lloyds. O objetivo é focar nos resultados dos clientes. Segundo Knox, enquanto o Atom foca na experiência do aplicativo mobile (tecnologia), o Tandem foca no resultado financeiro que o cliente obterá no seu banco (produto), sem esquecer é claro a experiência do usuário. Entre os produtos que o novo banco vai oferecer, estão: conta corrente, cartão de crédito, investimentos e empréstimos. Para ter a certeza de que os produtos serão desenvolvidos de acordo com o desejo dos clientes, o Tandem partiu para uma iniciativa ousada: ofereceu ações do banco para os usuários dispostos a ajudá-los a desenvolver os produtos, dando feedbacks sobre os protótipos.

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Em julho deste ano, o FCA (Financial Conduct Authority) e o PRA (Prudential Regulation Authority) aprovaram a licença provisória do Starling Bank, que foi fundado em 2014. Em 2013, os órgãos reguladores britânicos mudaram o processo de aprovação da licença bancária, adotando o modelo em dois estágios. No primeiro estágio, o banco começa a operar, com algumas restrições, e sem comprometer o capital necessário para uma operação completa. Após cerca de 6 meses, se o novo banco estiver cumprindo as regras impostas pela regulamentação e internas (compliance), como o processo de Know your Client, prevenção à lavagem de dinheiro e gestão de risco, ele estará apto a obter a licença definitiva, precisando é claro depositar em títulos do governo local uma quantia que garanta a liquidez de seus depósitos, um valor que começa com cerca de 15 milhões de libras.

O mais recente caso de aprovação de licença bancária provisória foi o Monzo, anteriormente chamado de Mondo. A marca original entrou numa disputa com outra empresa e o banco foi obrigado a mudar de nome, contando com a ajuda dos clientes para escolher sua nova marca. O Mondo foi fundado pelo ex-CTO do Starling, Tom Blomfield. Sem recursos para começar o desenvolvimento, Tom recorreu ao CrowdCube, uma plataforma de crowdfunding. Em 96 segundos, arrecadou 1 milhão de libras. O objetivo é criar um banco móvel, que ofereça notificações instantâneas sobre saldo e transações, um extrato num formato timeline, como a do Facebook, e uma detalhada análise de como o cliente está gastando o seu dinheiro. O Mondo começou com a emissão de um cartão pré-pago e em poucos meses imprimiu 50.000 cartões e ainda tem uma lista de espera de 250.000. Neste período seus usuários gastaram cerca de 45 milhões de libras em 150 diferentes países. O próximo passo é obter a licença definitiva, para lançar outros produtos bancários.

Os quatro casos acima têm algumas semelhanças, que são indicadoras do futuro que está-se construindo para a indústria bancária. Todos foram bem sucedidos na captação de recursos. Obtiveram o aval dos órgãos reguladores. E estão evoluindo corretamente ao lançarem um produto de cada vez, testá-lo exaustivamente, e escalá-lo somente após a validação. Se este processo for bem executado, a captação de clientes será uma consequência. O sucesso dos neobanks ajudará a moldar uma indústria mais fragmentada e mais parecida com outras, como a de turismo e entretenimento, onde a experiência digital já é parte do dia a dia dos consumidores.

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