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Por dentro das inovações em serviços financeiros

Como o blockchain revoluciona o sistema financeiro global

Por Guilherme Horn
Atualização:
 

Quando Giovani Medici abriu o seu vigésimo banco na Europa, no século XV, consolidando o poderio da dinastia Medici, ele teve a certeza de que havia criado algo sólido o bastante para perdurar por muitos e muitos anos, pois definitivamente havia conquistado o maior ativo que um banco poderia almejar: a confiança das pessoas.

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Este ativo (confiança) é algo que os bancos carregam até hoje, como uma âncora de seus negócios. Se pesquisarmos nos sites institucionais ou relatórios anuais das instituições financeiras, invariavelmente veremos termos como solidez, credibilidade, robustez; todos estão ali com um único objetivo: remeter à confiança.

Os sistemas financeiros dos países foram construídos em cima de alguns pilares: instituições financeiras, câmaras de compensação, casas de custódia e bancos centrais. O que cada participante agrega neste modelo é, de novo, confiança. E isto ocorre por uma razão muito simples: não há confiança prévia entre as partes.

Em 2008, quando Satoshi Nakamoto criou o Bitcoin, usando como instrumento de registro das operações o Blockchain, ele resolveu em oito páginas, o milenar problema da confiança entre as partes. Na tecnologia Blockchain, não há necessidade de se ter um órgão com a credibilidade necessária para se comprovar a autenticidade da transação. Quem atesta isso é a própria rede e os milhares de participantes que a compõem. Se uma transação não estiver replicada em todos os nós da rede ela é rejeitada, eliminando a possibilidade de fraude. Em termos conceituais, esta talvez seja a maior mudança que o Blockchain está provocando, o questionamento da necessidade de um elemento que confira confiança ao sistema. Isto está fazendo todo o sistema financeiro mundial (para não falar de outros segmentos como música, arte, jóias, cartórios, comércio internacional, etc) repensar o papel de cada um de seus participantes.

Saindo do campo teórico e aterrissando na prática, há várias possíveis aplicações para o sistema bancário. Vejamos alguns exemplos:

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Cadastro de Clientes

Hoje o cliente precisa manter o seu cadastro atualizado em diferentes instituições financeiras. Às vezes, até mesmo dentro da própria instituição, ele precisa atualizar dois cadastros diferentes - no caso, por exemplo, de um banco e de sua corretora. Se desejar abrir uma conta num outro banco, o cliente terá que informar todos os seus dados novamente. Pois estas informações poderiam estar armazenadas de forma segura numa rede Blockchain. O cliente preencheria apenas uma vez e, quando quisesse abrir conta num banco, bastaria autorizar a instituição financeira a acessar os seus dados. Para o banco isto representaria uma redução de custos, pois diminuiria a necessidade de verificação dos dados (processo conhecido como Conheça o Seu Cliente - do inglês Know Your Client) e para o cliente seria proporcionada uma experiência muito superior, pois abrir uma conta seria algo muito mais rápido e simples e ele só precisaria atualizar os dados (uma exigência legal) em apenas um lugar. Quem já passou pela experiência de mudar de endereço sabe bem do que estou falando!

Transferência de recursos entre países

Esta função já está em uso com Blockchain em alguns grandes bancos, especialmente na Europa. Instituições como Santander, UniCredit e CIBC já estão utilizando a tecnologia, diminuindo o prazo de transferência de 3 a 5 dias para cerca de 15 minutos. Além disso, o número de transações com erro caiu significativamente.

Pagamentos de boletos

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Os boletos bancários hoje levam 24 a 48 horas para serem identificados. Quando o cliente paga com boleto numa compra num e-commerce, por exemplo, ao invés do processo de separação e envio do produto ser imediatamente iniciado, ele fica aguardando a confirmação do pagamento que, às vezes, pode levar três dias úteis. Isto, no mundo digital, onde os usuários querem tudo de forma rápida e simples, é uma eternidade e deteriora a experiência de compra. Com o uso de Blockchain, o boleto seria registrado na rede assim que fosse emitido pelo banco e quando ele fosse pago, sua identificação pelo banco recebedor do pagamento seria imediata, assim como a confirmação para o sacado e para o cliente. No caso do e-commerce, o processo seguiria da mesma forma que segue quando o pagamento é feito por cartão de crédito. Ah, e com uma vantagem, uma significativa redução de custos para os bancos.

A esta altura, o caro leitor deve estar se perguntando por que então projetos como estes já não estão sendo implementados e o que os bancos estão esperando. Aí existem alguns pontos a serem ressaltados, mas o principal deles é que as grandes transformações que o Blockchain pode trazer ao sistema bancário dependem da adesão dos principais participantes do sistema. Como uma corrente, em que a força é determinada pelo elo mais fraco, o Blockchain é uma rede que, para funcionar, depende da participação dos principais elementos da cadeia. Em muitos casos estamos falando também da adesão de órgãos reguladores, que não costumam ter a mesma velocidade do mercado. Então, o que deveremos ver nos próximos anos, é a adoção gradativa do Blockchain pelos bancos, começando por projetos menores, internos e, na medida em que estas implementações apresentarem bons resultados, aí sim virão os projetos realmente transformadores, nos quais a rede Blockchain será o responsável por dar confiança às operações.  

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