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Por dentro das inovações em serviços financeiros

Como os Bancos Centrais têm reagido ao Bitcoin

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Por Guilherme Horn
Atualização:
 

No momento em que este artigo for publicado, é possível que o Bitcoin já tenha atingido a cotação de U$20 mil. Num ano em que ele começou valendo U$1 mil, os Bancos Centrais dos principais países do mundo não se furtaram a manifestar suas posições em relação ao que pode ser considerado uma possível nova ordem do sistema financeiro global.

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Em recente artigo no site da Bloomberg, Eric Lam fez um resumo das posições assumidas publicamente por cada Banco Central.

Estados Unidos: Jerome Powell afirmou que governança e gestão do risco serão pontos críticos daqui pra frente. Disse que há desafios significativos para a emissão de uma criptomoeda pelo governo americano e que privacidade é uma das preocupações. E, numa última conversa no Senado americano, afirmou que o tamanho deste mercado ainda não preocupa.

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Europa: o Banco Central Europeu tem sido um dos mais enfáticos nas críticas às criptomoedas, alertando constantemente sobre os riscos de se investir nelas. Em setembro, seu Vice-Presidente Vitor Constancio comparou o bitcoin às tulipas holandesas do século XVII (veja mais aqui: http://braziljournal.com/bitcoin-nao-e-tulipa-4-fatores-que-nos-fazem-resistir-a-inovacao ).

China: a China deixou claro que quer ter total controle sobre as criptomoedas. Reprimiu as exchanges e os ICOs e fala em emitir uma criptomoeda oficial do governo chinês.

Japão: Haruhiko Kahoda, o presidente do Banco Central Japonês declarou em outubro que não há planos iminentes do país lançar uma moeda digital, embora seja importante se aprofundar nos estudos.

Reino Unido: o presidente do Banco Central da Inglaterra Mark Carney afirmou que as criptomoedas são parte de uma potencial revolução do mundo financeiro. A instituição tem discutido o tema de forma não dissociada de Blockchain, que enxerga como uma tecnologia aliada na batalha contra cyber ataques.

Índia: o Banco Central da Índia considerou o uso de criptomoedas uma violação das regras de bolsas estrangeiras, visto que considera um canal para lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo. Entretanto, o Banco Central promove em paralelo estudo que busca avaliar se criptomoedas emitidas por um banco central global poderiam trazer benefícios para a sociedade.

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Brasil: o Banco Central do Brasil tem sido um grande fomentador na inovação, nunca esquecendo de seu papel maior, que é a garantia da estabilidade do sistema. Em comunicado sobre o tema em Novembro, afirmou que não vê risco imediato para o sistema financeiro, mas mantem-se alerta para o desenvolvimento e uso das criptomoedas.

Canadá: a presidente do banco central canadense, Carolyn Wilkins, afirmou recentemente, numa entrevista, que as criptomoedas não são formas de dinheiro; devem ser entendidas como ativos ou títulos e tratadas desta forma. Disse ainda que a tecnologia Blockchain deverá trazer uma eficiência muito maior ao sistema financeiro.

Coreia do Sul: o foco do Banco Central da Coreia tem sido em proteger os consumidores e evitar que as criptomoedas sejam usadas como uma ferramenta para crimes. O presidente do banco central coreano afirmou que são necessários mais pesquisa e monitoramento.

Rússia: a presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, disse que o país não legaliza esquemas de pirâmide e que se opõe a qualquer forma de dinheiro privado, seja ele virtual ou real. O governo está promovendo uma ação para bloquear o acesso a exchanges de criptomoedas.

Austrália: o presidente do Banco Central da Australia, Philip Lowe, declarou recentemente que as criptomoedas parecem ter um apelo maior para criminosos do que para consumidores em geral. Segundo ele, a empolgação com as criptomoedas tem mais a ver com uma bolha especulativa do que com o uso eficiente de um novo meio para pagamentos.

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Turquia: o presidente do Banco Central da Turquia, Murat Cetinkaya, afirmou que moedas digitais devem contribuir para a estabilidade do sistema financeiro, se bem desenhadas e planejadas. Embora imponham novos riscos para os Bancos Centrais, como o controle da demanda e estabilidade de preços, as criptomoedas, em sua visão, podem desempenhar um importante papel numa economia sem o uso de papel moeda, tornando os meios de pagamentos muito mais eficientes.

Holanda: um dos países mais ousados no tema, há dois anos atrás, o Banco Central local criou sua própria criptomoeda, chamada DNBCoin, numa tentativa de entender melhor como o sistema funciona. Numa avaliação após um ano de implementação, o líder do projeto, Ron Berndsen, declarou que Blockchain deverá ser naturalmente aplicado na liquidação de transações financeiras complexas.

Suécia: o Banco Central mais antigo do mundo, o da Suécia, está investigando opções, incluindo a moeda digital e-krona, armazenada em apps em smartphones. Segundo a instituição, a introdução da e-krona não interfere nos desafios de política monetária ao Banco Central.

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Em geral, o que se percebe é um grande desconhecimento sobre o tema. Confunde-se criptomoedas com moedas digitais, criptomoedas com blockchain. E não se vê um debate aberto sobre o potencial de disrupção que as criptomoedas representam. É até natural que seja desta forma, pois tecnologias disruptivas são ameaças a um status quo. E não podemos esperar que os ameaçados tenham a mesma clareza daqueles que estão assistindo de fora a todo o movimento.

Aristóteles disse uma vez: "o ignorante afirma, o sábio duvida e aquele que é sensato reflete." Precisamos neste momento de mais pessoas sábias e sensatas, para que as reações saiam do espaço comum da bolha, da relação com o crime ou com o anonimato, e tantas outras referências que só servem para ofuscar o imenso valor de uma grande revolução em pleno curso.

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