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Por dentro das inovações em serviços financeiros

O exemplo que vem do Tigre

Por Guilherme Horn
Atualização:
 

A semana que passou foi produtiva e enriquecedora, do outro lado do planeta. Tive a oportunidade de conhecer ecossistemas diferentes, com iniciativas incríveis. Dentre elas, uma, em Singapura, que promete no médio e longo prazo mudar o dia a dia das pessoas no que e refere às suas finanças. Singapura é uma cidade-estado com 5 milhões de habitantes, o terceiro maior PIB per capita do mundo e o nono maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Segundo o Banco Mundial, é a melhor cidade do mundo para se fazer negócios.

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Mesmo com todas estas condições favoráveis, o governo entendeu que a regulamentação poderia estar limitando a criatividade de algumas startups de fintech, pois serviços financeiros não é como em outros setores, como entretenimento ou ecommerce, onde a startup tem enorme liberdade para criar novos produtos e serviços. Em serviços financeiros, as empresas estão lidando com o dinheiro das pessoas e com dados sigilosos, que se caem em mãos erradas podem provocar um grande prejuízo. Por isso, entendendo que seria interessante testar como seria se essas restrições não existissem ou fossem mais brandas, a MAS (Monetary Authority of Singapore) abriu no início de junho uma consulta pública sobre o "Regulatory Sandbox". O Sandbox é um ambiente que vai permitir que startups de fintech ou até mesmo instituições financeiras possam oferecer seus produtos e serviços ao público, por um período limitado, sem as restrições impostas pela regulamentação vigente. A ideia é estimular a experimentação, para que o regulador possa acompanhar de perto as inovações e avaliar o impacto que elas terão na experiência do usuário, o quanto isto facilita a vida das pessoas e, em contrapartida, os riscos reais decorrentes de sua implementação.

A ideia não é nova, o Reino Unido já tem uma Sandbox em operação, a Australia divulgou a sua praticamente junto com Singapura e nos EUA há uma organização sem fins lucrativos que também faz o mesmo. O que chama a atenção em Singapura é o fato do país já oferecer facilidades ao empreendedorismo como poucos no mundo, o que sugere que esta iniciativa vai colocá-la numa posição de ainda mais destaque.

O conceito de Sandbox vem da computação. É uma espécie de virtualização do ambiente, feita para se testar sistemas considerados não seguros. Assim, se algo acontecer durante o seu processamento, não afeta o sistema operacional da máquina.

No mundo financeiro, um exemplo poderia ser um banco digital que ofereceria um cadastro em várias etapas. Cadastrar-se num banco digital hoje exige, na melhor das hipóteses, cerca de 10 minutos. O que é uma eternidade para os millennials, que estão acostumados a se cadastrar num Spotify, por exemplo, em 30 segundos. Ao invés do "longo" processo de cadastro, neste novo regime, um banco digital permitiria, por exemplo, que o usuário abrisse sua conta com o login do facebook. Quando fizesse o primeiro depósito seria exigido um selfie, junto com a digital. Se o valor do depósito passasse de um determinado patamar, aí sim seriam exigidos documentos. E, dependendo do produto que o cliente tivesse interesse (cartão de crédito, financiamento, investimentos, etc), também outros dados seriam requisitados. Este é só um exemplo do que poderá ser testado se a regulamentação do Sandbox for aprovada. Será certamente uma experiência interessante, que se der certo, vai gerar uma importante discussão sobre os limites da regulamentação e o que pode ser flexibilizado para que a vida das pessoas fique mais simples, sem que isto represente riscos para as empresas, o governo e para os clientes. Uma iniciativa notável, a ser acompanhada de perto, pois poderá servir de exemplo para muitos outros países.

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