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Por dentro das inovações em serviços financeiros

Os empréstimos na era digital

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Por Guilherme Horn
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No século XVIII, o autor irlandês Johnathan Swift escreveu As Viagens de Gulliver, uma ácida crítica à sociedade inglesa da época. Nas quatro viagens que Gulliver faz no livro, o autor satiriza as futilidades da alta sociedade, o pensamento científico alienado da vida real, a mediocridade da aristocracia e a pobreza da natureza humana. Swift não era apenas um escritor, era um ativista em defesa de seus ideais. Assim, um de seus importantes feitos, foi criar um fundo de 500 libras, que emprestava valores pequenos, de 5 a 10 libras, para pessoas que se comprometessem a pagar o empréstimo em parcelas semanais, que poderiam durar meses, tudo sem juros. O autor irlandês estava criando ali o que hoje conhecemos como Empréstimos P2P (peer to peer - ou pessoa a pessoa).

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Os empréstimos P2P são uma forma de desintermediação do sistema bancário. Emprestar dinheiro é uma das atividades mais fundamentais dos bancos, em séculos de existência. Mas como a era digital, para muitos, é também a era da desintermediação, assim como aconteceu na indústria da música, viagens, transporte, hotéis, etc, não poderia ser diferente com esta atividade. Através destas plataformas, quem tem dinheiro sobrando pode investir suas reservas, que se tornarão empréstimos para aqueles que precisam de dinheiro para seus negócios, reformas, compra de um bem ou pagamento de dívidas. As grandes vantagens desta nova forma de tomar um empréstimo são a taxa de juros (normalmente muito menor do que a de um banco) e a rapidez/falta de burocracia no processo, desde a solicitação do empréstimo até o recebimento do dinheiro na conta.

Assim, em meados dos anos 2000, começaram a surgir as primeiras plataformas de empréstimos P2P. A primeira foi a Zopa, na Inglaterra, em 2005, logo seguida pela Funding Circle, e, posteriormente, por dezenas de outras. Em 2015, as principais plataformas de empréstimos P2P na Inglaterra emprestaram mais de 1 bilhão de libras a cerca de 1 milhão de clientes.

Nos EUA, a primeira plataforma nasceu em 2006, a Prosper. Pouco depois, era criada a Lending Club, hoje a líder do mercado mundial, tendo aberto seu capital na Nasdaq em 2015.

Em vários outros países, estas plataformas têm se popularizado, demonstrando ser uma tendência mundial. No Brasil, elas estão começando a ganhar terreno, no entanto, a regulamentação não permite que seus investidores emprestem diretamente aos seus clientes finais, há a necessidade de se ter um banco no meio do processo. Não é, portanto, uma desintermediação pura, como no exterior. A forma que plataformas como Biva, Geru e Intoo encontraram foi atuar como correspondentes bancários de uma instituição financeira, algumas vezes revelada, outras não. O mercado comenta que há pelo menos dez novos projetos de plataformas de empréstimo online em andamento, algumas vindo de fora do país. Será interessante assistir a este movimento e como ele impactará este segmento no Brasil, especialmente neste cenário de crédito apertado e altas taxas de juros.

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