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Por dentro das inovações em serviços financeiros

Uber: de caçador a caça

Por Guilherme Horn
Atualização:
 

A maioria dos artigos, palestras e discussões sobre Inovação invariavelmente não se furtam a citar alguns casos que já se tornaram clássicos:

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- Kodak, como empresa líder em seu segmento, que não foi capaz de enxergar o potencial da câmera digital, inovação criada dentro da própria organização e rejeitada em sua estratégia. Anos mais tarde a empresa viria seu mercado ruir e migrar para a tecnologia que ela não viu valor;

- Google, Amazon e Alibaba, como empresas nativamente digitais, que usam dados intensamente e colocam-se ao lado dos usuários em toda a sua experiência;

- Uber, Airbnb e Netflix, como empresas que desintermediaram mercados tradicionais, com produtos baseados em tecnologia, uma proposta de valor simples e experiências muito superiores ao convencional.

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Mas mesmo empresas altamente inovadoras, que foram capazes de fazer a disrupção de poderosas indústrias, no mundo todo, não estão imunes a ameaças potencializadas por novas tecnologias. Uma destas tecnologias é a Blockchain, uma base de dados distribuída entre milhares de pontos, que é capaz de se autoadministrar, sem que haja a necessidade de um elemento centralizador. Numa rede blockchain, as regras de negócio, uma vez estabelecidas, são geridas pelo próprio sistema, que se encarrega do seu cumprimento. Esta tecnologia é capaz de desintermediar o Uber, colocando motoristas em contato direto com os usuários.

Pois é exatamente isso que a empresa Arcade City propõe-se a fazer. Fundada por um ex-motorista do Uber, Christopher David, a startup foi lançada há 18 meses atrás em Austin e prepara sua chegada ao Brasil para 1 de dezembro. A motivação para a sua criação foi a decisão do Uber de não mais operar em algumas cidades, onde a empresa considerou que não valeria a pena brigar na justiça pra manter-se em operação. Isto aconteceu em Austin, Texas, em maio de 2016, e deixou cerca de 10.000 motoristas sem trabalho.

Na Arcade City, o motorista é que define o preço da corrida e recebe do passageiro da forma que ambos acordarem. Atualmente, nenhuma comissão é paga para a empresa e o motorista embolsa 100% do valor da corrida. Além disso, a empresa pretende lançar tokens que os motoristas poderão ganhar caso indiquem novos motoristas ou tragam algum novo serviço para a plataforma. Estes tokens poderão ser convertidos em dinheiro ou guardados, caso o seu portador acredite na sua valorização. Os tokens também poderão ser comprados por qualquer pessoa e o dinheiro arrecadado será usado para expansão do serviço para outros países e para a melhoria da plataforma.

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A iniciativa mostra o potencial da tecnologia. Seu propósito, porém, chama a atenção por carregar uma forte revolta contra o Uber, que é acusado de não ouvir o feedback dos motoristas e ter seus gestores muito preocupados com seus lucros. É interessante refletir sobre como uma empresa passou, em tão pouco tempo, de uma imagem de grande disruptor do mercado, que deu oportunidade de trabalho para milhares de pessoas, dando total liberdade para trabalharem o quanto quisessem, para uma imagem de gigante opressora, que impõe regras leoninas e toma decisões de forma unilateral. No mínimo esta reflexão nos mostra a volatilidade de opiniões e condições de mercado para as empresas na era digital.

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