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Inovação e tecnologia no mundo das startups

'Empresas ficarão menores e todos vão trabalhar para startups' diz CTO da AngelList

Em entrevista ao Link após o Case, Joshua Slayton falou sobre empreendedorismo e sua plataforma de investimento pela web

Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

 

Em 2009, dois empreendedores de São Francisco criaram a AngelList, espécie de mailing com o "pitch" (apresentação curta de startups para investidores) de várias empresas dos EUA e que mostrava oportunidades para investidores.

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O negócio tornou-se uma rede social que conecta investidores a empreendedores, usada por startups do mundo inteiro em busca de investimento. O diretor técnico do serviço, Joshua Slayton, participou ontem do Case (Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo),  evento da ABStartups, e conversou comigo logo após a apresentação para falar sobre a AngelList, o mercado de startups e o financiamento coletivo de empresas.

Como é o trabalho da AngelList no Brasil?Nós confiamos no efeito do networking. Nosso modo de trabalhar é desenvolvendo códigos, não empregamos muitas pessoas, por isso não temos ninguém no Brasil. Temos investidores que são ativos na plataforma, investem em empresas do País e trazem esses negócios para a AngelList, como foi o caso da Descomplica.

Qual o modelo de negócio de vocês? Ainda estamos queimando dinheiro (a startup recebeu US$ 24 milhões em investimento), mas estamos testando dois modelos. Temos um ganho de 5% no lucro de startups financiadas pela plataforma em futuros investimentos e lançamos um produto pago para recrutar profissionais.

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Qual o impacto de levar negociações de capital de risco para a web? Facilitou o acesso de startups a capital. Levantar dinheiro era um processo manual, que exigia muitas conversas e gastos. Parte do que fazemos é tornar isso mais rápido e barato pela internet.

Há quem critique a plataforma dizendo que vocês colaboram para criar uma bolha nos EUA...Há muitos investimentos que acontecem sem ter nada a ver com a AngelList. Não acredito que a gente crie um mercado, mas que nos movemos junto com ele. Sim, tem havido muita atividade no mercado e tem sido muito bom para os empreendedores porque eles conseguem mais dinheiro, em condições melhores.

Crowdfunding de startups é algo novo aqui no Brasil e que enfrenta muitos entraves legais. Vocês são pioneiros nesse tipo de investimento. De onde veio a ideia? Nós tivemos que ir até Washington e fazer um pitch no Congresso para mudar as leis sobre investimento em 2012, o que foi crucial para tornar o crowdfunding para investimento legal nos EUA. Ainda não funciona da maneira que a gente quer. É necessário ser um investidor acreditado para investir dessa forma. Nós estamos desenvolvendo nosso produto de uma forma para que, caso se torne legal em algum momento que qualquer pessoa possa investir em startups, a gente possa permitir isso.

Quais os resultados até agora?Acho que estamos estimulando o investimento de muito dinheiro que não teria sido investido em outra situação. O que talvez seja a razão para dizerem que criamos uma bolha. Mas da maneira como vemos a situação, não deveria ser só investidores do Vale do Silício que ganham dinheiro investindo no próximo Facebook, mas todo mundo que gostaria de investir em startups deveria ter essa oportunidade. O crowdfunding funciona bem. Todo mês nós dobramos o valor investido em startups pela plataforma syndicate.

Os dados coletados pela plataforma ajudaram a gerar algum tipo de inteligência sobre fatores para o sucesso de startups?Nós não conseguimos prever o sucesso de um negócio ou seríamos milionários. Mas criamos uma API aberta para que as pessoas possam usar nossos dados para criar diferentes soluções. O que podemos dizer é que tudo que sabemos são os fatores que tornam uma empresa bem-sucedida na busca por capital. E são coisas óbvias como ter tração. Se a empresa gera receita e tem usuários, as chances de sucesso são maiores. Outro dado é que quando uma startup tem muitos investidores a seguindo na plataforma, as chances de sucesso são maiores porque os investidores são muito sociais e copiam uns aos outros.

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Ter uma startup no Brasil agora é como ter banda de rock. Muita gente sonha em empreender, mas sabemos que não é tão fácil. Você daria algum conselho para as startups brasileiras?Nos EUA nós chamamos essas pessoas de "wantrepreneurs". Normalmente é fácil identificar essas pessoas e creio que o mais importante para elas é começar a empreender criando um produto com o qual elas sinceramente se importem e para um público pronto para consumir esse produto. Para os "wantrepreneurs" que só querem ter um negócio pela alegria de ter um negócio, porque acham que é glamouroso ter uma startup, eu digo que é algo muito, muito difícil empreender. E se você não se importar com o que faz, não vai fazer sua empresa dar certo.

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Há muitas startups criando plataformas parecidas com a AngelList no Brasil. Vocês têm planos de investir no mercado brasileiro?Parece ser um mercado muito ativo e crescente, mas há muito trabalho legal envolvido para entender a legislação de cada país. Levou anos para a gente entender o mercado americano e agora estamos fazendo um programa-piloto no Reino Unido, que é um grande mercado para startups. Depois, vamos expandir na Europa e talvez só depois disso a gente olhe para mercados imaturos que estão emergindo, como o Brasil.

Talvez até lá seja mais vantajosa uma parceria... É possível, mas tentamos muito não fazer parcerias, porque nós preferimos fazer esse tipo de colaboração por meio de códigos e APIs.

Você defendeu na sua apresentação a flexibilidade no ambiente de trabalho e a troca de cargos gerenciais por profissionais comprometidos, que sejam capazes de se auto-gerenciar. Como uma startup pode manter essa flexibilidade quando a empresa cresce?Grandes empresas têm muita burocracia. Mas muitas vezes você vê acontecer como na Microsoft, onde o CEO demitiu um monte de gerentes medianos. Qualquer empresa que quiser sobreviver contra startups precisa fazer isso. Creio que as empresas ficarão menores com o passar do tempo e, em em vez de ter grandes corporações, todos estarão trabalhando para startups. Há uma tendência muito interessante. Se antes as empresas ficam mais consolidadas e maiores, agora estamos vendo o oposto disso. Recentemente, por exemplo, eBay anunciou que vai se separar do PayPal e eu creio que essa ideia vai se espalhar. Empresas tentarão manter seus negócios o mais simples possível.

No Brasil não há uma cultura de trabalhar em startups como nos EUA. Como as startups daqui podem atrair talentos? Ha duas maneiras: a mais óbvia é financeiramente, o que muitos não conseguirão fazer. Outra é oferecendo um ambiente cool de trabalho. Uma grande empresa pode ser muito limitante para a personalidade e estilo de vida de uma pessoa. A vantagem das startups é que você trabalha mais focado no que você produz e não em como produz .

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Mas há inúmeras críticas de que esse ambiente cool do Vale do Silicio é quase uma forma das empresas comprarem a vida pessoal do funcionário, porque na maioria das companhias de tecnologia trabalha-se muito... É verdade. Creio que é só uma questão de repensar o que é uma carreira. Tipicamente as pessoas pensam nas carreiras como algo no qual você gasta anos. E agora a ideia é que você pode criar muito valor rapidamente e, especialmente no Vale, há tantas criações milionárias que as pessoas estão praticamente apostando, como em um cassino. Todo mundo trabalha muito porque imagina que possa se aposentar cedo. A ideia é trabalhar muito por quatro ou cinco anos, depois sair, dar um tempo, para só então voltar. Essa opção para mim é mais interessante do que ter uma carreira de décadas. Mas eu creio que é uma crítica válida que as startups meio que paparicam as pessoas e do lado de fora parece que elas são livres, mas na verdade acabam gastando a sua vida inteira pensando no trabalho. Creio que haverá alguma correção em algum momento ou isso vai desaparecer, porque eu não acredito que é sustentável. Há muito trabalho e falta equilíbrio de vida.

Você acredita que há uma bolha no mercado americano? Eu creio que tudo está muito amarrado. Eu me preocupo em uma bolha maior no mercado financeiro, por causa de todos os problemas que aconteceram nos Estados Unidos. Mas em termos de tecnologia o valor de mercado das empresas está alto, as startups estão recebendo muito mais dinheiro e queimando mais dinheiro também. Mas eu não estou pronto para chamar isso de bolha. Em 1990, 150 milhões de pessoas tinham acesso à internet. Agora são bilhões de pessoas em todo o mundo com acesso a um smartphone, então há muito mais oportunidades.

Vi pelo seu Twitter que você é muito interessado no mercado de bitcoins. Acredita que no futuro poderemos ter investimento em empresas por meio de Bitcoin? Eu me tornei investidor-anjo recentemente e invisto em algumas startups de Bitcoin. Ainda há muito risco, mas tem muita gente inteligente trabalhando no ecossistema. É possível que tenhamos investimentos, mas o problema é o pagamento de impostos e taxas, que não é possível ainda ser feito por Bitcoin. Falta muita regulamentação.Mas empreendedores estão trabalhando nisso e creio que nos próximos cinco anos vai surgir algo do tipo.

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