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Inovação e tecnologia no mundo das startups

O que aprendi sobre o mercado de startups do Canadá

País quer atrair startups brasileiras para o seu território e abrir mercado para suas startups no Brasil

Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

Depois de um breve recesso de fim de ano, o Start está de volta para acompanhar o mercado de startups em 2015. E antes de entrar de vez nos assuntos deste ano, gostaria de voltar um pouco ao finzinho de 2014.No início de dezembro, passei uma semana fora da redação do Link e fui conhecer o mercado de startups do Canadá.

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Visitei à convite do governo local a província de Ontário, onde fica a capital do país, Ottawa, e os principais polos de startups canadenses(embora exista uma cena também em Vancouver e Montreal). O motivo da visita? O Canadá está interessadíssimo em levar startups brasileiras para lá. Já havia falado sobre um programa de intercâmbio entre startups brasileiras e canadenses aqui no Start, em meados do ano passado. Dessa vez, fui lá pessoalmente conferir o que o país tem a oferecer e entender o mercado local.

Para quem ainda não viu a reportagem especial que foi publicada no Link sobre a visita, confira os links abaixo:

Cidades do Canadá criam incentivos para atrair startups brasileirasToronto, terra de grandes empresas, atrai novos negóciosUniversidade cria clima empreendedor em WaterlooOttawa busca atrair empreendedor nacional 

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Foi uma semana tão intensa de visitas a empresas, conversas com empreendedores locais, aceleradoras e membros do governo, que gostaria de compartilhar aqui alguns aprendizados e impressões sobre o mercado canadense:

Somos mais parecidos do que pensamos Apesar de estar coladinho com os EUA, das trocas comerciais entre os dois países superarem US$ 700 bilhões por ano, e do Canadá ser o lar de grandes empresas como a Blackberry e Open Text, o país tem problemas semelhantes aos do Brasil quando se trata de startups. O principal deles é a falta de investidores para fazerem aportes intermediários nas empresas.

Há muita gente investindo em startups em estágio inicial, mas após o investimento-anjo a situação se complica, dizem os empreendedores. As diferenças entre as províncias do Canadá são imensas, o que também dificulta a vida de quem tem uma startup. A começar pelo fato do país ter dois idiomas oficiais diferentes...

Por outro lado, é da união que os empreendedores estão tentando extrair uma cultura vencedora. Essa característica pode ser percebida principalmente na cidade de Waterloo, onde a comunidade local faz questão de manter proximidade entre si e trocar experiências. Tudo acontece em torno de dois polos principais: a Universidade de Waterloo, de onde saem os funcionários e empreendedores das startups da região, e do hub de inovação Communitech.

Um dos empreendedores mais bem-sucedidos da nova geração de startups canadenses é John Baker, ex-aluno da Universidade de Waterloo e fundador da Desire 2 Learn, que já levantou US$ 165 milhões em investimentos com sua plataforma de ensino na nuvem presente em diversos países (incluindo o Brasil). Ele é o chairman da Communitech e uma das principais lideranças da região. Um cenário parecido com o que vemos aqui no Brasil em "San Pedro Valley", em Minas Gerais, e no Recife, em torno do Porto Digital.

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O governo está injetando muito dinheiro no mercado de tecnologia Há anos o Canadá vê suas melhores empresas e profissionais da área de tecnologia migrarem para os EUA, especialmente para o Vale do Silício. Cansado de perder mão de obra para o país vizinho, resolveu que daria motivos para esses canadenses permanecerem ou voltarem para o país. A aposta é que o país vai crescer em torno de uma economia baseada no conhecimento e tecnologia.

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Além de facilidades como a possibilidade de abrir uma empresa facilmente pela internet e ter tudo funcionando em menos de uma semana, um dos principais incentivos para empresas no mercado canadense é o SR&ED (sigla para "programa de incentivo fiscal à pesquisa científica e desenvolvimento experimental", em tradução literal), pelo qual empresas de qualquer tamanho que invistam em pesquisa e desenvolvimento recebem entre 25% e 35% dos seus gastos de volta em um cheque. Esse dinheiro pode ser aplicado no seu negócio como bem entender.

Há uma série de outros incentivos financeiros, além de várias aceleradoras e incubadoras locais receberem também dinheiro do governo. Mas para empresas de fora há um detalhe importante: para acessar benefícios mais generosos, é necessário que parte da liderança da startup seja formada por residentes do Canadá.

Eles buscam a diversidadeUma das coisas que mais ouvi dos moradores locais ao chegar ao Canadá é que o país abriga grande diversidade, mas de um modo diferente de outros países. "Você vai perceber que aqui é normal ser diferente. Ninguém vai ficar te olhando se você andar de burca ou moicano na rua. Todo mundo encara isso com naturalidade", me disse um empreendedor.

A diversidade é incentivada no Canadá. Por ano, o país concede 250 mil novos vistos de residência permanente no país para estrangeiros. Além disso, o Canadá é altamente dependente de outros mercados para que suas empresas cresçam e tenham sucesso. Por isso, têm interesse em levar empresas de fora para lá, de modo que essa troca de experiências facilite esse processo de migração para novos mercados. Ao se abrir para uma mistura de culturas, ideologias e ideias, o país cria um cenário favorável para o surgimento de inovação.

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As universidades são peças fundamentais na vida das startups

 

As universidades das cidades de Ottawa, Toronto e Waterloo são reconhecidas por seus cursos de qualidade nas áreas de engenharia e ciências da computação, e formam a mão de obra que alimenta as empresas de tecnologia do país e dos EUA. Mas essas instituições querem também que os seus alunos empreendam e incentivam o desenvolvimento de ideias dentro do campus. É em torno delas que estão algumas das principais aceleradoras do país. Aqui, mais uma vez, o dinheiro do governo entra em cena financiando muitas dessas aceleradoras universitárias.

Ciente de que são as pessoas que fazem a diferença na criação de um ecossistema inovador, o país investe pesado na formação de profissionais de ponta e na sua preparação para empreender e criar conexões que permitirão a esses alunos serem replicadores desses conceitos no futuro e, quem sabe, criar um mercado tão colaborativo quanto o Vale do Silício. É só pensar nas milhares de empresas fundadas no Vale por alunos de Stanford para entender o motivo pelo qual esse investimento faz sentido.

Os empreendedores pensam no mercado global Ao contrário do Brasil, a maioria das empresas canadenses já nasce mirando o mercado global. O motivo é que o país tem um mercado interno pequeno e complexo, por isso a expansão para outros mercados é uma questão de sobrevivência.

Não e à toa que o país já criou startups bastante reconhecidas internacionalmente, como a desenvolvedora do relógio inteligente Pebble, o app de mensagens Kik, além das tradicionais Blackberry e Open Text. Claro que todos os outros incentivos citados anteriormente para criação de negócios fazem a diferença, mas os brasileiros certamente poderiam tirar alguma vantagem de adotar igualmente um mindset global. É justamente nas dificuldades internas do país que os empreendedores encontram incentivo para buscar novas oportunidades.

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As empresas bem-sucedidas dão origem a milhares de startups A Blackberry vem passando por tempos difíceis, embora já tenha demonstrado recuperação nos últimos meses. A Nortel, um dos maiores expoentes do mercado de tecnologia canadense, não sobreviveu à crise de 2008 e pediu concordata em 2010, sendo posteriormente comprada pela Avaya. Essas empresas precisaram cortar milhares de vagas de trabalho, mas apesar do impacto inicial dessas demissões, os funcionários demitidos de ambas as empresas não duraram muito tempo no mercado.

Por se tratar de uma mão de obra extremamente qualificada, ou essas pessoas foram rapidamente absorvidos por outras companhias locais ou abriram seus próprios negócios. Mais uma vez, a qualificação da mão de obra e a criação de uma rede de conhecimento desempenhou um papel importante no país. Waterloo é o maior exemplo dessa realidade pelo alto número de startups. Ao lado de Kirchner e Cambridge, a cidade forma o chamado "triângulo da tecnologia" no Canadá. O número de startups por habitante é alto: são 1 mil startups que faturam juntas US$ 22 bilhões, em uma região onde as três cidades somam cerca de 500 mil habitantes.

Como faço para levar minha startup ao Canadá?Recebi diversos e-mails e mensagens com pedidos de contatos com profissionais do Canadá e mais informações sobre como levar uma startup para o mercado local. Seguem algumas dicas:

Aqui no Brasil, a principal ponte de contato com o Canadá é o Consulado Geral do Canadá em São Paulo.O cônsul comercial de Ontário, Todd Barrett, tem participado ativamente de eventos do mercado de startup brasileiro e conversado com empreendedores locais. A lista de contatos está disponível no site do consulado.

Já a Project-1 é a empresa brasileira que recebe as startups canadenses no Brasil e que seleciona os brasileiros que vão participar do programa de intercâmbio de startups no Canadá. Ricardo Sodré, que passa a maior parte do ano em solo canadense, é quem cuida dessa seleção. Mais informações e contato estão disponíveis no site da Project-1.

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Em Ottawa, a agência do governo Invest Ottawa é o contato principal. O brasileiro Ricardo Pereira faz parte do timeda agência do governo e é um dos contatos para as empresas brasileiras. Mais informações e contatos estão no site da Invest Ottawa.

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P.S. Junto com a nossa reestreia em 2015, o Start agora tem uma página no Facebook para vocês não perderem nenhuma atualização do blog.

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