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Inovação e tecnologia no mundo das startups

A invasão brasileira a São Francisco (ou como SF se tornou a terra da coxinha)

Após participação recorde no TechCrunch Disrupt, startups brasileiras participaram de diversos eventos em São Francisco e no Vale do Silício

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Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

Eu conversava com Felipe Matos, o diretor executivo do Programa Start-­Up Brasil, quando surgiu de brincadeira o título deste post. Na semana passada, estive em São Francisco, na Califórnia, onde acompanhei o TechCrunch Disrupt, um dos principais eventos de startups do mundo, quando me vi pela terceira ou quarta vez participando de um coquetel no eixo São Francisco -Vale do Silício no qual o quitute brasileiro era atração para cativar os estrangeiros. Nem a Universidade de Stanford passou em branco. Convenhamos, ver um grupo que misturava brasileiros e americanos degustando amigavelmente coxinhas dentro de uma das mais importantes universidades americanas é uma cena inusitada.

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Mas esse texto, é claro, não trata sobre comida. A presença constante do nosso salgado é um símbolo da invasão brasileira na cidade de São Francisco e no Vale do Silício na semana que passou. Brasileiros tiveram participação maciça no TechCrunch Disrupt (veja a cobertura do Link aquiaqui e aqui), compareceram em grande número a eventos, lançaram novos negócios em São Francisco e fizeram infinitas visitas a empresas e investidores americanos. Um claro sinal dapresença que a cena de startups brasileira começa a ganhar no Vale do Silício e arredores e também do grau de articulação desses empreendedores.

Até dois anos atrás, o Brasil não tinha um espaço exclusivo no TechCrunch Disrupt e quem participava do evento ia por contra própria. Este ano, pela primeira vez o Brasil teve também uma "caravana" de startups brasileiras participando do South By Southwest (SXSW), com uma série de eventos paralelos promovendo o País. Como bem lembrou Felipe Matos ao Link, há poucos anos era difícil reunir 200 pessoas em um evento de empreendedorismo no Brasil. Na semana passada, cada um dos eventos em São Francisco tinha uma média de 100 brasileiros participando.

É claro que ainda são "early days" e o Brasil tem um longo caminho a trilhar para alcançar uma posição de destaque no mundo da tecnologia.Mas o que aconteceu em São Francisco na semana passada foi novo e significativo.

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Significativo porque teve uma alta participação de empreendedores iniciantes, ainda pouco experientes, que foram treinados para falar com investidores, viram de perto como funcionam as principais empresas de tecnologia dos EUA e puderam apresentar seus negócios em um grande evento internacional. De volta ao Brasil, eles têm estímulos para tentar replicar por aqui um pouco da cultura empreendedora do Vale do Silício e mais preparo para enfrentar o mercado.

Significativo também porque todos os nomes mais importantes do ecossistema de startups brasileiro estavam reunidos em São Francisco ao mesmo tempo, fossem empreendedores, investidores, representantes de aceleradoras ou governo. A melhor rede de contatos e mentores possível.

Gustavo Caetano, do Samba Group e presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups); e Marco Gomes, da Boo-Box, dois dos mais reconhecidos empreendedores brasileiros da nova geração, estavam lá organizando eventos em parceria com agências do governo brasileiro, trocando experiências e, claro, fazendo negócios.

Brasileiros que há anos estão nos EUA, como Pedro Sorrentino, que trabalha na Sendgrid e é vice-presidente da ABStartups, e Margarise Correa, que criou a organização Bay Brasil para conectar negócios brasileiros com o Vale do Silício,articularam contatos nos EUA,ajudando a organizar eventos que pudessem explicar melhor o que significa estar no Vale do Silício para as empresas brasileiras e o que está acontecendo no mercado brasileiro de startups para os estrangeiros.

Felipe Matos estava lá dando suporte e acompanhando as empresas beneficiadas pelo programa Start-Up Brasil e que participaram do TechCrunch.Investidores como Anderson Thees, da Redpoint Ventures, Carlos Kokron, da Qualcomm Ventures, e Pedro Sirotsky Melzer, da eBricks, tentaram explicar melhor o mercado de venture capital no Brasil, ao mesmo tempo em que se conectaram a novos negócios do País.

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Houve, sem dúvidas, um avanço no grau de articulação das startups brasileiras. Se ainda há desafios imensos a serem vencidos no campo educacional e de preparo dos empreendedores, os integrantes desse mercado atualmente demonstraram ter entendido que só se cria um ambiente de negócios poderoso como o Vale do Silício à base de muita cooperação e integração. Claro que não basta só isso.Mas é um passo importante para outros avanços.

Rede de contatos

 

Há quatro anos cobrindo o mercado de startups brasileiro, essa foi a primeira vez que visiteiSão Francisco e o Vale do Silício. Depois dessa experiência, acredito que tudo que se fala sobre o maior mercado de empresas de tecnologia do mundo só pode ser compreendido de fato quando se está no local. O clima de cooperação é absurdo. No Vale não há medo de expor ideias, trocar experiências ou contatos. Tampouco é um lugar que dá bola para títulos ou formalidade em um primeiro momento. Não é à toa que o conceito de "pitch elevator" se popularizou por lá.

Para quem não conhece o termo, pitch é o nome que se dá as apresentações curtas que startups fazem a um investidores. Elas surgiram dentro de um contexto no qual ao encontrar um investidor em um elevador, o empreendedor fosse capaz de apresentar sua empresa e conquistar um potencial apoiador ao seu negócio em poucos instantes.

Estar preparado para isso no Vale do Silício faz todo o sentido. Todo mundo esta conectado com o mercado de tecnologia de alguma forma.É nesse contexto que surge o networking poderoso que todos aprendem a cultivar em São Francisco. A regra é falar com todo mundo, se apresentar e trocar cartões o tempo todo. Os meus acabaram no segundo dia do TechCrunch Disrupt.

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Não há evento em que fique alguém sobrando. Em todos os lugares onde passei durante minha estadia no Vale e em São Francisco fui abordada repetidamente por pessoas de diversas áreas e nacionalidades. Isso é importante porque a ideia no Vale é que nunca se sabe quando um contato pode se tornar interessante ou útil para você. E antes de pedir algo, é você quem se dispõe a ajudar o outro. Até porque não há vergonha em falar sobre ideias e planos de negócios no Vale. Empreendedorismo por lá é coisa séria. E toda essa conexão rende inovação, novos negócios, parcerias e afins.

Diante de tantos entraves legais e burocráticos no País, se há algo que os empreendedores brasileiros podem fazer por conta própria para tentar melhorar a qualidade do ecossistema brasileiro de startups e conseguir mais poder de negociação no mercado de venture capital é tentar replicar a atmosfera de cooperação do Vale do Silício.

Além de contribuir com a parte educacional, a inovação e a formação de novos empreendedores e negócios, articular um grupo forte de startups é requisito também para que esse empreendedores possam buscar melhorias em esferas mais complexas do mercado empresarial. E o grupo de brasileiros que esteve na semana passada no Vale do Silício pareceu bem ciente disso. Resta torcer para que consigam cumprir o papel de disseminar essa cultura para que o mercado se profissionalize e a tecnologia e a inovação possam se tornar assuntos levados cada vez mais a sérios no País.

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