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P2P e cultura digital livre

2012 passou sem revoluções, mas a mudança vem aos poucos

Durante este Natal, quis assistir a Esqueceram de mim, o primeiro, versão dublada - aquele clássico. Não o encontrei nem no YouTube, nem na TV a cabo e nem em serviços de aluguel online (que me pediram um cadastro só para acessar o catálogo). Pelos sites de compartilhamento, só encontrei páginas bizarras, links para arquivos executáveis e propagandas impróprias. Passei pelo submundo da internet procurando justamente por um clássico mainstream. Por que ainda é tão difícil?

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Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

2012 começou com estardalhaço. As leis Sopa e a Pipa, que estabeleceriam penas para piratas nos EUA, movimentaram a internet. O inimigo ganhou um rosto e uma legião disposta a combatê-lo. Deu certo: a Sopa foi engavetada. Mas nada mudaria.

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No mesmo mês, uma megaoperação do FBI foi até a Nova Zelândia para prender Kim Dotcom, fundador do Megaupload, site de hospedagem usado largamente para a troca de arquivos piratas. O fim do Megaupload mudou a dinâmica dos cyberlockers. Com medo de terem o mesmo destino, 4Shared, Rapidshare e outros passaram a endurecer contra piratas, deletando sem dó tudo o que pudesse causar problemas. Resultado: muita gente perdeu arquivos - mesmo legais. Blogs de pesquisa musical, como Um que tenha e BrNuggets, perderam seus acervos digitais, hospedados em serviços do tipo. A corda arrebenta do lado mais fraco: o nicho e a inovação.

Uma startup chamada Boxopus lançou uma ferramenta para fazer o download de torrents direto para o Dropbox, serviço de hospedagem que não tem fama de pirata. A ideia foi aprovada, o app foi desenvolvido com US$ 30 mil de investimento, mas quando o negócio pegou, o Dropbox recuou. Temeu que o serviço fosse usado para pirataria.

Neste mesmo 2012, porém, uma das leis mais duras do mundo - a francesa Hadopi, que estabelece penas crescentes para piratas - foi considerada inútil.Os índices de pirataria até chegaram a cair 66%, mas a medida foi ineficiente para proteger a indústria musical, que teve 3,9% de prejuízo em 2011.

No Brasil a discussão paralisou. Ana de Hollanda, a ex-ministra que afirmou que a "internet poderia matar a cultura", foi substituída no Ministério da Cultura por Marta Suplicy. A nova ministra anunciou que vai rever a Reforma da Lei de Direitos Autorais, mudança que atualizará a lei brasileira aos tempos pós-Napster, mas também já declarou que incluirá um mecanismo de 'notificação e retirada' de conteúdos piratas.

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O ano acabou e eu não consegui assistir a um clássico do mainstream na minha casa, no horário conveniente, nem pagando e nem pirateando - porque nenhuma das opções atendeu a critérios simples de conveniência, rapidez e preço. 2012 ainda não foi o ano. Mas a mudança está em curso - surgem modelos para viabilizar financeiramente a independência. Serviços inovadores amadureceram. Pode ser frustrante esperar por uma revolução na indústria tradicional - em 2013 é melhor olhar para os lados. A mudança será pela margem.

É tudo free (mas só a partir de amanhã) O primeiro dia do ano é tradicionalmente o "Dia do Domínio Público". É quando entram em domínio público as obras de autores que morreram há mais de 70 anos. Em 2013 estão livres filmes, livros e músicas de pessoas que faleceram em 1942, como o antropólogo Franz Boas e a escritora Neel Doff. A partir de agora seus trabalhos poderão ser copiados e publicados livremente.

Governo e gravadoras também pirateiam Ninguém escapa. O TorrentFreak fez um levantamento e constatou que até mesmo quem combate a pirataria pode ser flagrado baixando arquivos via BitTorrent. Uma empresa detectou tráfego de downloads ilegais nas redes da Universal, Sony e Warner. E até o governo dos EUA foi pego: o BitTorrent foi acessado por funcionários do Departamento de Justiça e do Congresso.

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