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P2P e cultura digital livre

A cultura sob a ótica do copyright

Documentário ouve artistas, ativistas e advogados para discutir cultura e direitos autorais

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

O que o multimídia DJ Spooky, o crítico de cinema Jonathan Rosenbaum, o pintor ultrarrealista Damian Loeb e o músico punk Ian McKaye têm em comum? São artistas que querem conseguir viver de seu trabalho criativo. E têm uma relação própria e conflitante com o copyright.

Eles são alguns dos personagens do documentário Citizen 3.0, ou "Cidadão 3.0", que busca discutir a cultura 'sob a lente do copyright'. O filme, lançado no mês passado, tem quase uma hora e meia e é dividido em dez partes. Elas abordam questões como domínio público, 'fair use' (uso amigável), cultura livre, criação, viabilidade econômica e os vários pontos de encontro entre a lei e a criação de cultura.

 Foto: Estadão

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"Nós tivemos a ideia de um filme sobre copyright na cabeça por um tempo", disse ao Link Leigh Morfoot, diretora do documentário. "Conforme nossos interesses foram ficando mais focados, chegou a hora em que sentimos que precisávamos fazer esse filme".

O documentário ouviu vários especialistas de instituições importantes que discutem o tema - como a Electronic Frontier Foundation, Duke Law School, Universidade de Harvard, Wikimedia, entre outros. Além disso, há dezenas de trechos de filmes clássicos - uns mais conhecidos, outros menos - e músicas que tornam a discussão mais divertida e palpável. Todos esses recortes utilizados são protegidos e foram utilizados sem nenhuma autorização - na base, segundo Leigh, do 'fair use'.

A entrevista com ela foi publicada na edição de segunda-feira (12) do Link. Aqui vai a versão completa:

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Por que explorar a cultura 'através das lentes do copyright'? O copyright é fundamental para a produção e disseminação dos produtos culturais. Quando você está no cinema assistindo Avatar ou ouvindo ao disco Ok Computer no seu iPod, você está pensando sobre copyright? Quantas pessoas levam em consideração essa lei que governa nossa criação e expressão artística? Por que deveríamos pensar nela? Nós queremos colocar em primeiro plano como a cultura se torna parte de nós.

O copyright hoje barra a criação? Depende de como você enxerga o copyright. Em equilíbrio, não. Nós achamos que os benefícios compensam as limitações. O que aconteceu no século 20 foi que o copyright se tornou a chave: para serem bem sucedidos, os artistas primeiro tinham que abrir mão do copyright e perder o controle de seus trabalhos. Isso teve o efeito de limitar os artistas através da legislação. Hoje, como a tecnologia está mudando rapidamente a distribuição, a indústria está sendo forçada a mudar. Os artistas não têm apenas uma maneira de serem bem sucedidos.

 Foto: Estadão

A cultura livre multiplica a criatividade? As pessoas são inerentemente criativas e a cultura livre certamente ajudou a liberar essa qualidade para muitos e multiplicar a criatividade. Isso também nos encoraja a pensar na cultura como algo que nós nos relacionamos e que vai bem além do mero consumo. Nesse sentido, a cultura livre está multiplicando a participação na criação, crítica e na comunicação de cultura: expandindo a idéia central de como nós pensamos a cultura. Isso é muito empolgante.

O filme usa trechos de músicas e outros filmes na base do 'fair use', uso amigável. As pessoas estão aptas a isso? O 'fair use' dá às pessoas que querem trabalhar com materiais protegidos a oportunidade de se engajar no exercício de pensar sobre as leis de direitos autorais e tomar suas próprias decisões sobre os limites disso e o que, realmente, é honesto. Mas é verdade que o 'fair use' é um pouco obscuro e, se você for processado, provar que o uso foi amigável pode consumir tempo e dinheiro. As indústrias do copyright gostam de enfatizar a incerteza do 'fair use' e promovem ativamente uma 'cultura da liberação', que requer uma permissão segura ou pagamento para cada uso do trabalho de outra pessoa.

Você entrevistou artistas, músicos, cineastas. Eles têm o mesmo pensamento sobre copyright? Todos com que conversamos abordaram um ângulo diferente, por isso é tão interessante. Alguns são mais proprietários do que os outros. Todos têm um desejo em comum: conseguir viver de seus trabalhos criativos. Citizen 3.0 tenta contrapor essas visões divergentes para estimular o debate, permitindo que o espectador formule suas próprias idéias sobre a lei e sua relação com elas.

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"Nós todos somos políticos, somos todos criadores", diz a frase de Stephen Fry citada no filme. Como a era digital está fazendo essa revolução? A revolução digital interrompeu a relação tradicional de uma via que tínhamos com a mídia. Por causa disso, abarcamos uma variedade de vozes, perspectivas e formas de expressão nunca vistas antes. A tecnologia permite comunicar pensamentos e idéias pelo mundo em um instante.

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O que significa o termo 'Cidadão 3.0'? Significa que estamos usando todas essas novas tecnologias de criação, comunicação e interatividade como indivíduos dentro da sociedade e precisamos explorar as novas liberdades que foram oferecidas com responsabilidade e consciência.

Há várias cenas de filmes clássicos e obscuros. Vocês pagaram direitos autorais? Todos os trechos de filmes e samplers de música do filmes estão sob a proteção de direitos autorais e foram usados sob o nosso entendimento de 'fair use exception', sem permissão ou pagamento de nenhuma taxa.

O filme é livre? Nós tentamos alcançar a maior audiência que pudemos. Para esse filme, lançar dessa maneira teve o maior sentido para nós.

Nota: O filme, porém, não está disponível para download. Ele pode ser assistido em streaming aqui (em inglês): www.kinobserver.com

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