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P2P e cultura digital livre

Aaron Swartz (1986-2013)

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Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Poucas pessoas traduziram tão bem a época em que nós estamos vivendo quanto Aaron Swartz. Você pode nunca ter ouvido falar nele, mas provavelmente usa RSS, conhece as licenças Creative Commons e todo o conceito de copyleft e já ouviu falar - ou frequenta - o Reddit. Provavelmente também já usou o FriendFeed - ou sabe que se trata de uma rede social pioneira, que inspirou outras e depois foi comprada pelo Facebook.

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Aaron Swartz esteve envolvido em tudo isso. E ele cometeu um suicídio na sexta-feira passada. Ele só tinha 26 anos.

Eu ouvi falar pela primeira vez de Aaron em 2011. Além de ter uma carreira tecnicamente brilhante como programador, Aaron era também uma mente inquieta politicamente. Ele queria o acesso livre e aberto. Queria que o conhecimento fosse compartilhado. Queria que a informação circulasse sem restrições. Fundou tanto empresas quanto organizações que colocam seus pensamentos em prática, como a Open Library e a Demand Progress. Colocou na prática o que pensava tanto disponibilizando um conjunto de ferramentas que facilita a vida de quem programa em Python quanto compartilhando seus pensamentos com o mundo (ele estava escrevendo um livro).

E essa trajetória culminou em um processo kafkiano que o levou à prisão em 2011 e poderia levá-lo a pagar uma multa milionária ou passar um tempo na prisão por invadir um sistema, baixar artigos acadêmicos e disponibilizá-los na internet de graça. Falaram em "roubo". Aaron não falava do tema por orientação de seu advogado.

Eu não o conheci. Eu enviei a ele um pedido de entrevista pela primeira vez em 2011. Ele topou, mas não me respondeu mais. Tentei contato novamente no ano passado e ele me retornou rapidamente. Topou responder as perguntas por e-mail. Respondeu todas, exceto as que tratavam do processo.

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Disse que havia deixado o projeto do livro um pouco de lado para se dedicar a projetos políticos, sobre os quais ainda não poderia falar.

Ele era um hacker clássico, daqueles que aprendem sozinhos e constroem e desconstroem. Que montam e desmontam. Aaron trabalhou desenvolvendo o RSS aos 13 anos. Trabalhou com Lawrence Lessig aos 14 anos. Fundou uma empresa, depois o Reddit. Entrou para o ativismo com o mesmo espírito que o levava a escrever códigos e tentar burlar o sistema - ele realmente queria subverter o sistema, mas em um sentido mais amplo.

Eu fiquei o dia todo pensando. Foi uma das mortes distantes que mais me tocou nos últimos tempos. Eu li um monte de coisas sobre isso. Li um comentário de que pessoas como Aaron, inquietas e que vivem em luta para melhorar o mundo, não conseguem aguentar muito tempo no planeta. Li que Aaron nunca trabalhou para fazer dinheiro. Também li que agora as leis de crimes na internet precisariam ser revistas. Li que Aaron não gostava muito de conversar. Era um cara solitário que preferia ler os livros a conversar com os autores, embora tivesse acesso a eles. Li que Aaron foi libertário até o fim, assumindo as rédeas para controlar a hora da própria morte.

Eu não consigo tirar nenhuma conclusão. A única coisa que eu posso afirmar é que o mundo - não só o da tecnologia, mas em todas as áreas - precisa de mais almas e mentes inquietas como a dele. Se o sistema está errado, é preciso tentar transformá-lo - e não mudar para se adequar a ele. Aaron sintetizou esse espírito tão necessário nos dias de hoje. Eu acho que a trajetória curta e intensa dele ainda vai render frutos. Nem que seja o livro. Não foi em vão.

Se você quer saber mais sobre Aaron, eu recomendo a reportagem de capa que nós demos para ele em abril do ano passado. Eu conto toda a trajetória dele - os feitos e alguns detalhes do processo. Leia aqui. A família dele também organizou um memorial (em inglês).

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