Foto do(a) blog

P2P e cultura digital livre

"O cerco começou a fechar", diz criador do OPS

Penho Pinhel, do Original Pinheiros Style, fala sobre a caça à pirataria e os planos para o futuro

PUBLICIDADE

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

O Original Pinheiros Style era um blog de música como tantos outros, focado em distribuir novos sons para um público fiel. Criado em 2008, ele tinha um acervo de 1,5 mil posts com discos e resenhas que foram subitamente apagados pelo Google sob a alegação de pirataria. "Era uma forma de manifestar minhas ideias sobre esses discos de forma bem humorada e passional, sempre deixando claras as minhas preferências pessoais. Sempre foquei muito mais no conteúdo do que nos links em si", explica seu criador, o diretor de arte Pedro Pinhel. (eu falei dele na última edição do Link)

PUBLICIDADE

Para ele, o cerco está se fechando aos blogs de música. "A queda do Megaupload e a entrada da iTunes Store no Brasil foram os divisores de água", avalia. Só que o OPS, como era conhecido, não acabou ali. Pinhel pretende manter o blog, mas desta vez de maneira diferente para evitar outra remoção de conteúdo como a que foi submetido.

Conversei com ele para saber sobre seu trabalho de pesquisa e os planos para o futuro. O OPS permanece vivo no Facebook, mas vem aí um novo projeto - desta vez .com.

Onde você achava as referências para os posts? Acho que a paixão por hip-hop desde a adolescência, e a curiosidade por saber de onde vinham aqueles sons tão geniais dos foram estímulos, assim como a paixão por CDs e LPs, o consumo desenfreado de revistas gringas por anos a fio e o interesse por velharias e novidades. O universo dos blogs, que conheci por volta de 2006 através do blog do Daniel Tamenpi, Só Pedrada Musical - que sempre considerei um passo acima dos outros - enriqueceu muito o meu esquema de pesquisa, e me inspirou bastante.

Você também fazia upload dos álbuns? Grande parte do material que eu disponibilizava era gerado a partir de uploads meus, mesmo quando o disco era baixado de outro site/blog. Fazia um controle rigoroso, até pra ter noção do número exato de downloads e tal. Já usei vários "hospedeiros"; o Rapidshare, o Zshare e nos últimos dois anos usei o Mediafire, o melhor deles em termos de armazenamento, organização, informações pro usuário e praticidade. Parece que estão fechando o cerco ao Mediafire ultimamente. Acho que essa é a tendência. Isso obriga o universo da música a se organizar rapidamente.

Publicidade

 Foto: Estadão

Como foi a remoção do blog? Você havia recebido algum aviso prévio? No dia da queda, cerca de 10 pessoas me aletraram, pelo Facebook ou por mensagens, que vários links estavam fora do ar.  Fiz um teste e entendi que tinham fechado o cerco. Rastrearam meus 2 IPs. Ali comecei a achar que iam derrubar o blog. E honestamente, não tinha muito o que fazer. A queda foi importante pra eu entender que esse esquema sempre foi, na verdade, paliativo. A solução pro conceito de free sharing não pode estar na mão de uma centena de blogueiros. O free sharing é um conceito mais amplo, que ainda precisa ser discutido e entendido por todos.

Você já havia recebido alguma notificação sobre o conteúdo postado? Sempre recebi notificações esporádicas para posts específicos. E sempre soube, até por acompanhar o que estava acontecendo com os blogs "grandes" e similares por volta de 2010, que um link de um artista como o Tupac Shakur era infinitamente mais "perigoso" que um link de uma banda peruana de funk dos anos 70. Mas eram notificações esporádicas, até que o cerco começou a fechar. Cito a queda do Megaupload e a entrada da iTunes Store no Brasil como os divisores de água, meio que o fim da linha pra blogs com essa proposta. Ainda assim, não me sentia um infrator. Pra mim estava claro que o blog fazia muito mais um trabalho de resgate do que qualquer outra coisa. 90% dos discos disponibilizados no OPS não estão comercialmente disponíveis no país, digitalmente ou em lojas. Se esses discos fossem disponibilizados "legalmente" para download a preços justos (por volta de 10 dólares, como nos EUA) eu seria um grande incentivador.

De quem partiu o pedido de remoção de conteúdo? Essa resposta é bastante complicada. Brinco que foi o Big Brother, o olho que tudo vê na internet. Uma combinação de DMCA (uma entidade de proteção do copyright dos artistas nos EUA), blogger (que hospedava o blog), Darth Vader e Godzilla, acho.

 Foto: Estadão

O que você perdeu? Perdi por volta de 1500 posts. A grande maioria deles continha textos, alguns deles mais "técnicos", quase todos bem-humorados, todos eles absolutamente pessoais e feitos com muita dedicação. O grande vacilo? Nunca tive a preocupação de fazer um backup, mesmo sabendo que esse dia poderia chegar.

Você tentou recuperar o conteúdo? Respondi um email ao próprio blogger, em cima da notificação de remoção, e ainda sob efeito do choque, pedindo, em inglês, para que pudesse ter "pelo menos as minhas palavras de volta." Obviamente não surtiu efeito, mas ainda estou vendo o que pode ser feito legalmente a respeito. Não tenho intenção de recuperar os links perdidos, acho que esse capítulo ficou pra trás. Mas gostaria muito de poder ter os textos de volta. É a velha questão da liberdade de expressão.

Publicidade

Acho que isso levanta uma questão. Onde termina o combate à pirataria e onde começa a censura? Não gosto de falar em pirataria, porque não considero que o OPS fazia pirataria. Nunca ganhei um real para manter o blog funcionando, e essa nunca foi a intenção. Para muitos dos artistas mencionados pelo blog os posts eram uma espécie de homenagem, uma redescoberta. Vários artistas brasileiros citados por lá interagiam, gostavam, acreditavam no sistema de distribuição e até mesmo incentivavam a prática. É claro que para um artista da nova geração o blog é muito mais interessante do que para um medalhão que vive de direitos autorais. O lance da censura também é complicado, porque de certa forma eu infringi as leis do DMCA, então vira uma espécie de fogo contra fogo. Mas é claro que deletar um blog com 1500 posts armazenados, média de quase 2000 visitas diárias e uma base legal de seguidores é um tipo de censura.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Então, como proteger a liberdade de expressão? Não tenho muito conhecimento da legislação internacional em relação a isso, tudo é muito novo, as coisas vão se definindo em função dos acontecimentos. Vejo que os EUA tem tentado se organizar, e esse "cerco" pra cima dos blogs e sites de compartilhamento faz parte desta ação. Blogs com IPs de fora dos EUA conseguem ou conseguiram sobreviver a várias "fases" dessa varredura, mas é claro que uma hora isso aconteceria. Claro que a compreensão da legislação é fundamental, mas existe uma óbvia diferença entre se disponibilizar um disco novo da Madonna e um disco do (obscuro grupo colombiano de cumbia dos anos setenta) Tipica 70. Claro que não tem como eu tentar explicar isso aos responsáveis do blogger, mas nós estamos fundamentalmente discutindo cultura, e até que ponto é crime divulgar coisas fantásticas e esquecidas.

Como seria um modelo satisfatório de combate ao intercâmbio ilegal de arquivos? Não posso nem quero falar a respeito de um modelo satisfatório, porque acho que ainda estamos em um momento bastante embrionário do processo. Mas a ideia de uma loja virtual que disponibilize TUDO em formato digital satisfatório e a preços justos (os tais dez dólares por disco) me parece a solução a médio e longo prazo.

Você já avisou que o OPS vai voltar. O que vai mudar? Certamente não disponibilizarei mais os tais arquivos para download, mesmo sabendo que os arquivos são responsáveis por grande parte dos acessos. Farei isso quando o artista solicitar, ou autorizar. Pretendo voltar nos mesmos moldes, mas como um site (.com.br), com a ideia de ser uma espécie de fórum pra direcionar quem gosta dos gêneros explorados pelo OPS a continuar conhecendo as novidades, procurando os LPs, etc.

Uma vez um entrevistado me disse: os melhores blogs de música não são os piratas. Você concorda? Quais são os melhores, na sua opinião? Mais do que isso, acho que os melhores blogs (e sites) são os feitos com paixão, independente de como. Vejo nos blogs e afins uma paixão que há muito tempo deixei de ver nas tais mídias especializadas, mais preocupadas com o universo dos artistas do que com a própria música. Acho que já citei essa frase aqui anteriormente, mas a música vai ser sempre maior do que tudo isso. E é por isso que o OPS vai voltar. Quero continuar contribuindo para a música, da forma que puder. Os meus blogs e sites favoritos, além do Só Pedrada, são o Tapates Sírios, o Rappamelo, os finados Oufar Khan, CTI e Loronix. Tem muita gente legal.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.