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P2P e cultura digital livre

Um aviso para a indústria: não processe. Seduza os clientes

Um em cada quatro holandeses com mais de 16 anos baixou músicas, filmes ou games ilegalmente no último ano. Os produtores de cultura deveriam se preocupar? Não. O mesmo estudo mostra que os piratas gastam mais dinheiro com entretenimento.

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Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Em todas as categorias (música, filmes e programas de TV, games e livros) o resultado foi o mesmo: quem baixa compra. Quem pirateia música consome até quatro vezes mais; quem pirateia games, compra até oito vezes mais.

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O curioso é que o relatório, feito pela faculdade de direito da Universidade de Amsterdã, foi divulgado apenas dois dias depois que uma outra pesquisa apontou exatamente o mesmo resultado. O instituto de pesquisas American Assembly, filiado à Universidade Columbia, entrevistou mais de dois mil americanos e alemães para constatar que quem baixa músicas ilegalmente - e tem uma coleção musical maior - gasta, em média, 30% a mais com música.

A explicação é a mesma: quem baixa conteúdo é, antes de tudo, um entusiasta e um consumidor de entretenimento. "Nosso estudo indica que essas pessoas tendem a fazer um uso intensivo de todos os canais disponíveis, sejam eles legais ou ilegais", disse ao site TorrentFreak o responsável pelo estudo holandês, Joost Poort. Para esses consumidores, não há uma barreira entre o legal e o ilegal. As pessoas optam pelos caminhos conforme as suas necessidades.

O estudo da Universidade de Amsterdã também comprova, em números, o que boa parte das pessoas (e dos próprios artistas) já sabe: quem baixa arquivos ilegalmente gasta dinheiro com eventos. Quem baixou um filme no último ano, por exemplo, tem 50% de chance a mais de ir ao cinema. Quem baixa músicas vai até três vezes mais a shows do que os outros.

E é por isso que as indústrias que tanto lutam pelo endurecimento da lei ou pela punição severa aos piratas deveriam prestar atenção nestes números. (Vale lembrar: outros estudos já mostraram que medidas repressivas não funcionam. Basta lembrar dos resultados pífios da lei Hadopi na França, que reprimiu os usuários, mas não protegeu a indústria cultural, ou seguir adiante no próprio estudo de Poort, que constatou que apenas 5,5% dos usuários afetados pelo bloqueio ao Pirate Bay na Holanda pararam de baixar conteúdo pirata.)

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As indústrias culturais costumam repetir que a pirataria está matando a cultura, que os downloads ilegais estão gerando desemprego e que o impacto desse comportamento para os músicos é "desvastador". Os números em queda das grandes indústrias comprovam a tese de que as pessoas estão deixando de comprar CDs, sim, mas elas também estão dispostas a pagar. E bem. Só precisam ser convencidas disso - ou, como prefere Poort, "seduzidas". "A correlação serve como alerta para que as indústrias não alienem seus clientes mais importantes, criminalizando seus comportamentos. Meu slogan é: não processe os seus clientes, seduza-os", diz.

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