24 horas sem WhatsApp

Brasileiros que usam aplicativo para se comunicar – mas principalmente para fazer negócios – relatam como ‘sobreviveram’ a um dia com o serviço fora do ar

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Por Redação
Atualização:
Francisco Vieira, gerente de uma loja na 25 de Março, registrou prejuízo durante bloqueio do aplicativo Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Nas primeiras horas depois que o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp foi bloqueado pela segunda vez no Brasil, a reação de parte dos 100 milhões de usuários do serviço no País foi de medo. Além da sensação de isolamento, uma vez que o aplicativo é hoje a principal forma de contato com família e amigos, quem usa o WhatsApp para fazer negócios já calculava os prejuízos que teria nas 72 horas de ‘apagão’. No fim das contas, a suspensão “só” durou 24 horas: o desembargador Ricardo Múcio Santana de Abreu Lima, do Tribunal de Justiça de Sergipe, aceitou o recurso do WhatsApp (leia mais abaixo) e colocou fim ao bloqueio.

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Tanto receio do que poderia acontecer tem fundamento. Muitas pessoas recordaram o primeiro bloqueio ao aplicativo de mensagens, em dezembro do ano passado. Na ocasião, o WhatsApp ficou cerca de 13 horas fora do ar – a maior parte do tempo de madrugada –, mas ainda assim fez muita gente perder dinheiro. “Assim que li sobre o bloqueio, já tremi na base”, disse Rafael Soares, dono do restaurante Leve Grill, localizado em Bauru, no interior de São Paulo. “Já sabia que ia ter problemas.” Ontem, os pedidos de refeições no Leve Grill caíram 60% por causa da indisponibilidade do serviço, apesar de ele ter usado mensagens de texto (SMS), telefone e o aplicativo de mensagens Telegram para atender clientes.

Na 25 de Março, tradicional centro de compras de São Paulo, o gerente de vendas Fábio da Silva também deixou de fechar negócios na loja de bijuterias Karisma Bijou. Ele estima que perdeu R$ 1,5 mil em encomendas. “Usar o WhatsApp para fazer compras se tornou uma maneira mais barata, pois nossos clientes não precisam gastar com a passagem para vir a São Paulo”, afirmou. Segundo ele, 5% das vendas da Karisma Bijou são fechadas por meio do WhatsApp. “A tendência é de crescimento”, diz Silva.

O impacto do bloqueio para a dona da loja de roupas virtual BDress, Mariana Arantes, também foi forte. Ela atende cerca de 20 pessoas diariamente e conclui até 15 vendas pelo app. “Tive uma queda de quase 90% nas vendas em apenas um dia”, disse ela. “Como é um problema transitório, as pessoas têm a reação de esperar. Ninguém liga o computador para conversar por e-mail.” Susto. “Graças a Deus voltou”, comemorou a desempregada Gláucia Camargo, que usa o aplicativo para receber as encomendas de doces da Quitutes da Vovó, preparados pela sua mãe. Felizmente, a empresa familiar não registrou prejuízos significativos durante o bloqueio. “Às segundas, não recebemos muitos pedidos pelo aplicativo, mas o movimento se intensifica na metade da semana.”

Com ou sem prejuízo material, porém, a maior parte dos usuários do WhatsApp no Brasil não quer passar pela experiência de se ver sem a ferramenta outra vez. A suspensão do aplicativo parece evidenciar que boa parte das pessoas nem se lembra mais que, há sete anos, o WhatsApp nem existia e era preciso recorrer a outras tecnologias, como o telefone ou a mensagem de texto (SMS) para se comunicar ou fazer negócios. “Os clientes estão mudando de postura”, diz Silva. /ALEXANDRE NOVAIS, FLÁVIA NOSRALLA, RODRIGO AZEVEDO (ESPECIAIS PARA O ESTADO) E CLAUDIA TOZETTO

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