Após redes de Wi-Fi públicas, cubanos querem mais acesso à internet

Para usar a rede por uma hora em Cuba, é preciso pagar US$ 1,50; com 432 pontos espalhados em praças e parques de todo o país, cubanos pedem por velocidade e privacidade no uso da web

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Por Agências
Atualização:
A introdução de pontos públicos de Wi-Fi em praças de Cuba, há dois anos, transformou o dia a dia da ilha comunista. Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

No final da tarde, quando o calor do Caribe dá uma trégua, os parques de Cuba se enchem de família fazendo chamadas de vídeo com seus entes queridos ou navegando pelas redes sociais, e suas caras animadas se iluminam com ajuda das telas de celulares e tablets. A introdução de pontos públicos de Wi-Fi em praças de Cuba, há dois anos, transformou o dia a dia da ilha comunista. 

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Antes offline, agora pelo menos metade dos 11 milhões de cubanos se conectaram à internet pelo menos uma vez no último ano. O Wi-Fi público abriu o apetite dos cubanos para um acesso melhor e mais barato pela internet. "Muita coisa mudou", disse Maribel Sosa, de 54 anos, depois de ficar por uma hora com sua filha em um parque de Havana, conversando com a família nos Estados Unidos. "É muito diferente de ficar na fila para ter alguns minutos no telefone", lembrou Maribel, cujo irmão migrou para a Flórida nos anos 1980. 

Dado o custo de se conectar a internet, a maioria dos cubanos usa a rede para conversar com parentes e amigos. Embora os preços tenham caído, a tarifa de US$ 1,50 por hora de conexão ainda representa 5% do salário médio mensal de um cubano, avaliado em US$ 30. Para usar a rede, é preciso comprar um cartão, que tem um código de usuário e uma senha – que deve ser revelada, como uma raspadinha de loteria. "Muita coisa ainda pode mudar, disse Maribel. "Por que não podemos ter internet em casa?"

Para usar a rede, é preciso comprar um cartão, que tem um código de usuário e uma senha – que deve ser revelada, como uma raspadinha de loteria. Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

Hoje, apenas uma pequena fração dos lares cubanos tem acesso à internet, sujeito à permissão do governo. Apenas alguns profissionais, como pesquisadores acadêmicos e jornalistas, podem fazê-lo. A empresa estatal de telecomunicações prometeu conectar diversas casas de Havana no final de 2016, como parte de um projeto piloto. Em setembro, a empresa disse que pretende estender o serviço pelo país até o final de 2017. 

Os cubanos dizem que as promessas anteriores para tal acesso ainda não foram cumpridas, o que aumenta as expectativas na ilha. Além disso, o custo é proibitivo: a assinatura mais barata custa US$ 15. O governo se defende dizendo que não conseguiu desenvolver a infraestrutura, considerada cara, por conta do embargo comercial imposto pelos EUA. Já os críticos dizem que o governo teme perder o controle da população. 

Cubanos usam carros para fazer chamadas de vídeo com privacidade; acesso à internet fora de praças públicas é muito raro no País Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

Privacidade. Quem consegue pagar por uma hora de uso ainda tem outros obstáculos a enfrentar nos 432 pontos espalhados pelo país – como formigas, mosquitos e as ações da natureza, uma vez que a vasta maioria dos locais de acesso fica em praças públicas. Nelas, os cubanos riem, chora, gritam e sussurram, em meio a vendedores ambulantes que tentam enganar os incautos vendendo cartões já raspados. O som das mensagens que chegam e das chamadas preenche o ar. 

"Não há privacidade nenhuma aqui", disse Daniel Hernandez, um guia de turismo de 26 anos, depois de conversar com sua namorada na Inglaterra. "Quando tenho assuntos sensíveis para falar, tento me fechar no carro e falar baixo." 

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Além disso, a qualidade da conexão só é boa em alguns lugares, e quando poucos usuários estão conectados. De outra forma, a conversa tende a travar constantemente. Hernandez diz que usa a internet também para procurar por notícias – em Cuba, o governo tem monopólio dos jornais, rádios e TVs. 

Um poucos metros distante de Hernandez, Rene Almeida, 62, senta em seu táxi checando seu email. Ele se diz sortudo por ter dois filhos que se mudaram para os Estados Unidos, onde as comunicações "estão melhores do que nunca". Em 2008, o governo local permitiu que os cubanos tivessem seus primeiros celulares. Almeida também reclamou da falta de privacidade e dos altos custos para acessar a rede. "É melhor que nada", disse ele. "Mas vai melhorar. Tem de melhorar." / TRADUÇÃO DE BRUNO CAPELAS

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