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Depois do Uber, aplicativos apostam em carona compartilhada no Brasil

Aplicativos globais como Moovit e Waze apostam que a alternativa de transporte deve crescer nos próximos anos em países como o Brasil; para especialistas, empresas precisam ajudar brasileiros a se acostumar a compartilhar carro com estranhos

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Por Matheus Mans
Atualização:
Waze é um dos aplicativos que vão lançar carona compartilhada no Brasil Foto: Fabio Motta/Estadão

Até pouco tempo atrás, quando as pessoas iam para o trabalho, era preciso escolher entre ônibus, metrô, carro particular ou táxi como meio de transporte. Depois, chegaram os aplicativos de carona paga, como o Uber. Nos próximos meses, os brasileiros devem ter acesso a mais uma alternativa: os aplicativos de carona compartilhada. Eles querem promover encontros entre motoristas e pedestres que vão para um mesmo lugar, para que eles possam “rachar” os gastos com o transporte.

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Ao contrário do Uber, do Cabify e do 99POP, os aplicativos de carona compartilhada não querem atrair motoristas em busca de lucro. Nessa modalidade, o motorista usa o aplicativo para traçar sua rota para o trabalho. Em seguida, um algoritmo identifica potenciais passageiros que vão para o mesmo lugar. Se houver combinação, a carona é efetivada e o aplicativo calcula o preço da viagem, baseado em gastos com combustível e manutenção, além de uma fatia que fica com o serviço.

“A carona colaborativa, ao contrário do Uber, é um complemento ao transporte urbano”, explica o professor de administração da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Durval dos Santos. “Nesse tipo de transporte, não existe profissionalização. É carona para ajudar.” Duas grandes empresas estão de olho em intermediar as caronas compartilhadas em grandes cidades, como São Paulo. Ambos com origem em Israel e muito populares no País, o aplicativo de navegação em mapas Waze – de propriedade do Google – e o serviço de rotas de transporte público Moovit vão lançar seus serviços no País até o final de 2017.

Eles não são os únicos de olho nesse mercado. A principal empresa do segmento no País é a francesa BlaBlaCar, que foca em caronas entre cidades. Há um ano e meio no Brasil, ela já intermediou mais de 1 milhão de caronas. Há também a brasileira Bynd, que combina caronas entre pessoas que trabalham na mesma empresa. Ela tem 20 mil usuários de grandes empresas, como Mercado Livre e Avon.

Apostas. O Moovit, que indica rotas de transporte público e tem mais de 60 milhões de usuários no mundo, confirmou ao Estado os testes do Moovit Carpool em julho do ano passado. Depois de fazer testes em Roma, na Itália, a empresa confirma que vai lançar a plataforma em São Paulo ainda este ano.

“A plataforma vai conectar pessoas que querem uma carona com motoristas que passam perto do destino final”, explica o diretor-geral do Moovit para o Brasil, Pedro Palhares. Segundo ele, o objetivo não é substituir ônibus ou metrô. “Você pode pegar uma carona até uma estação mais perto do trabalho”, diz. Para o serviço funcionar, o Moovit vai liberar uma versão do app para motoristas.

O Waze Carpool vai funcionar da mesma forma – a diferença é que o serviço agora terá um app para passageiros. A empresa afirma que São Paulo será a primeira cidade brasileira a receber o serviço neste ano.

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Desafios. Apesar do ânimo das empresas, vários desafios ainda precisam ser superados para a carona compartilhada emplacar no País. Apesar de o brasileiro já ter o costume de combinar caronas de maneira informal, há quem resista em compartilhar o carro.“O mais difícil é convencer a pessoa a dar a primeira carona”, explica o presidente executivo da Bynd, Gustavo Gracitelli.

Além disso, é preciso ter um grande número de motoristas percorrendo a cidade. Caso contrário, o passageiro corre o risco de ficar na mão. A BlaBlaCar, por exemplo, tem 25 mil rotas cadastradas no Brasil. Parece muito, mas não é. “A França, que tem o tamanho da Bahia, já tem 100 mil rotas traçadas”, conta o diretor-geral da BlaBlaCar para o Brasil, Ricardo Leite.

Não é fácil ter sucesso nesse mercado. O serviço brasileiro Tripda que o diga. Criado em 2014, ele chegou a 13 países e recebeu US$ 11 milhões. Mas demorou a crescer em usuários. Os investidores não quiseram esperar e a empresa encerrou as atividades em 2016.

“Precisávamos de mais tempo”, explica o ex-diretor-geral do Tripda e atual diretor do Cabify para o Brasil, Daniel Bedoya. “É um modelo que está amadurecendo muito no País e só precisa ter fôlego para crescer com naturalidade.”

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