Era do Big Data aumenta preocupação sobre privacidade

Operadoras garantem uso de dados agregadose sem identificação, mas falta de lei de proteção gera insegurança

PUBLICIDADE

Por Claudia Tozzeto e Bruno Capelas
Atualização:
Para Brito Cruz, do Internet Lab, há risco de discriminação de dados. Foto:

Com a coleta de dados cada vez mais frequente e o aumento do uso de tecnologias avançadas de análise, as pessoas podem se perguntar: onde fica a privacidade? As operadoras de telecomunicações sabem que isso pode ser um entrave à sua estratégia nos próximos anos e avançam com cuidado. “Podemos entregar a oferta de uma roupa para quem está num desfile de moda e isso vale muito”, diz o chefe de operações da Nextel, Jorge Braga. “Mas sabemos que precisamos ter permissão dos consumidores.”

PUBLICIDADE

Em geral, as operadoras consultadas pelo Estado afirmaram que, ao usarem informações de consumidores de seus serviços em análises de Big Data, estas são agregadas e “anonimizadas”. Na prática, isso significa que, ainda que a empresa consiga identificar padrões de comportamento de um grupo de consumidores, ela não consegue identificar quem são as pessoas que o compõem.

Na avaliação do diretor do instituto de pesquisa em direito digital Internet Lab, Francisco Carvalho de Brito Cruz, ainda assim a era do Big Data pode trazer uma série de riscos. “Há uma gama enorme de problemas que vão da violação da intimidade até a discriminação de pessoas”, diz ele. “É preciso garantir que as pessoas tenham controle sobre seus dados.”

O Brasil ainda não aprovou uma lei para garantir a proteção dos dados pessoais, mas há projetos em andamento. O principal deles, o PL 5276/2016, foi recentemente anexado ao PL 4060/2012, do deputado Milton Monti (PR-SP). Segundo apurou o Estado, ainda está em formação uma comissão especial que vai avaliar esses projetos, mas ainda não há previsão de quando ela será iniciada. O projeto terá, ainda, de passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de ser enviado ao plenário para votação.

“É preciso ter uma autoridade que faça com que as regras para proteção de dados sejam cumpridas”, diz Cruz.

Consentimento. Para o consultor em Big Data, Christopher Surdak, as pessoas temem por sua privacidade, mas também querem ter serviços melhores. “É o que eu chamo de paradoxo da privacidade”, diz o especialista. “Os usuários entregam os dados ao Facebook, porque veem utilidade no serviço prestado.” Para ele, as operadoras devem criar serviços úteis que justifiquem o uso dos dados. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.