Fotolog chega ao fim após marcar época

Precursor das redes sociais, serviço de compartilhamento de fotos influenciou geração de internautas sedentos por troca de experiências na web

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Por Claudia Tozzeto
Atualização:

Divulgação

 Foto: Estadão

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Qualquer brasileiro na faixa de 30 anos é capaz de relembrar um tempo em que compartilhar momentos importantes da vida na internet era uma missão um tanto complicada. Depois de arranjar uma câmera digital – na época, um objeto de desejo inacessível à maioria das pessoas – para tirar fotos com os amigos, era preciso baixar as imagens no PC. Mesmo com resolução baixíssima, as fotos demoravam para viajar pela internet e terminavam, quase sempre, em uma página do Fotolog. Mais de uma década depois, o site de compartilhamento de fotos, que marcou época para os adolescentes dos anos 2000, chegará ao fim: o serviço sairá do ar, definitivamente, em 20 de fevereiro.

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Apesar de ainda restarem alguns dias de vida para o Fotolog, os sinais da morte iminente estão presentes há algum tempo. Em diversas páginas pessoais no site, imagens aparecem corrompidas. Na página inicial do serviço, que se tornou célebre por exibir os usuários mais populares, os sinais da falta de cuidado são evidentes: há uma mensagem antiga que celebra que o Fotolog alcançou 32 milhões de usuários, logo abaixo de um contador que parou de funcionar. Um aviso em cinco idiomas no topo pede aos usuários que baixem todas as suas fotos hospedadas no serviço o quanto antes. “Por favor, façam circular essa informação a todos os demais membros dessa comunidade.”

História. O Fotolog foi criado em maio de 2002 em Nova York, nos Estados Unidos, pelo empreendedor Scott Heiferman, também criador do serviço de comunidades online Meetup. Na época, a empresa levantou mais de US$ 12 milhões em investimentos. O site ganhou força depois do lançamento da rede social Orkut, em janeiro de 2004. “No primeiro ano, houve uma explosão do uso do Orkut, mas o Google limitava a publicação de fotos em sua plataforma, o que aumentou o interesse das pessoas pelo fotologs”, diz o analista da consultoria Nielsen, José Calazans. Em suas biografias nos perfis do Orkut, brasileiros divulgavam links para suas páginas do Fotolog. Segundo a Nielsen, em janeiro de 2006, os sites de fotos chegaram a ser visitados por 26% das pessoas com conexão de internet no País ou 3,1 milhões de pessoas.

O sucesso do Fotolog o levou a se tornar o 20º site mais acessado em todo o mundo, o que chamou a atenção de empresas dispostas a explorar a audiência por meio de publicidade. Em agosto de 2007, o site foi vendido para a companhia francesa Hi-Media, em uma transação no valor de US$ 90 milhões. “Acreditamos que as redes sociais são um dos pilares da internet e continuarão sendo importantes nos próximos anos”, disse Cyril Zimmermann, presidente executivo da Hi-Media à época, após a compra. Procurada pelo Estado na última semana, a Hi-Media não respondeu aos pedidos de entrevista sobre o Fotolog. A empresa não possui representação no Brasil.

Lembranças. Apesar das dificuldades tecnológicas inerentes ao início da popularização da internet no Brasil, o Fotolog era o “queridinho” da maioria dos jovens e, de muitas maneiras, antecipou várias tendências, como o compartilhamento de autorretratos, os chamados selfies, e o surgimento de celebridades na web.

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A apresentadora de TV e ex-VJ da MTV MariMoon é prova do poder do Fotolog. Uma das usuárias mais populares do serviço no País, ela criou sua página pessoal para compartilhar fotos de si mesma – uma forma de aumentar a autoestima. “Acabei me tornando a primeira celebridade da internet no Brasil”, diz MariMoon. Hoje com 33 anos e adepta de outras redes sociais, como Instagram e YouTube, ela lembra que usava uma câmera de 1.3 megapixel para publicar uma foto diária em sua página pessoal. “Comecei a interagir com pessoas que tinham visual e interesses parecidos com os meus e acabei ganhando fãs”, conta ela, que chamava a atenção pelos cabelos na cor azul. A fama do seu Fotolog lhe abriu as portas na TV: ela foi convidada a fazer uma série na MTV Brasil chamada Vidalog e, em 2008, ganhou seu próprio programa, o Scrap MTV. “Só parei de atualizar o Fotolog quando o Instagram surgiu”, diz.

Mesmo quem não ganhou dinheiro por causa do Fotolog guarda boas lembranças. É o caso da paulistana Clarissa Gelly, 39 anos, que mantinha uma página para compartilhar fotos com os amigos. “Eu colocava uma foto por dia, mas acessava muitas outras vezes para ver quem tinha comentado. Como tinha uma limitação de número de comentários, havia uma competição entre os amigos para ver quem conseguiria deixar uma mensagem primeiro”, conta Clarissa. Ela excluiu a página a cerca de sete anos. A popularização de redes sociais mais modernas, como Facebook e Instagram, está por trás da decisão. Ela costuma usar esses apps para compartilhar fotos do filho.

Embora redes sociais mais modernas tenham deixado o Fotolog para trás, o hábito de compartilhar fotos na web – democratizado pelo serviço – deve continuar em alta nos próximos anos. “As redes sociais sempre vão ser o motor da internet”, diz Calazans.

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