Futuro do serviço de backup em nuvem Dropbox é incerto

Companhia, que alcançou valor de mercado de US$ 10 bilhões, demora para mostrar resultados aos acionistas

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Por Redação Link
Atualização:

Reuters

 

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Por Farhad ManjooTHE NEW YORK TIMES

Não existem sinais claros de dificuldades na sede, em San Francisco, da empresa de armazenamento na nuvem Dropbox onde, todos os dias, seus corredores estão cheios de trabalhadores de tecnologia otimistas e com bons salários, desfrutando as armadilhas comuns da vida em uma startup. Ela não está demitindo funcionários ou diminuindo de tamanho; contratou cerca de 500 pessoas no ano passado e 75 desde o começo deste, e planeja se mudar em breve para um prédio de escritório de design personalizado para o qual assinou um contrato de longo prazo.

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Mas essa não é a imagem da Dropbox que você encontra nos noticiários. Dois anos atrás, a empresa fez uma rodada para conseguir financiamento que a avaliou em US$ 10 bilhões, tornando-a uma das startups mais valorizadas no boom tecnológico. Agora, enfrenta um mercado de ações que se tornou hostil para ofertas de empresas de tecnologia, sem mencionar a competição de companhias de capital aberto como a Microsoft, o Google e a Box, que tem nome parecido e linha de negócios similar.

Como resultado, a valorização da Dropbox foi atingida por uma série de “descontos” de grandes investidores que parecem ter se tornado céticos em relação ao seu futuro. Por exemplo, o gestor de fundos mútuos T. Rowe Price hoje considera que as ações da startup valem metade do preço da última rodada de captação de recursos. Então, o que realmente acontece com a Dropbox? Está prosperando ou morrendo?

Nenhuma das duas, ainda. Quando você olha para a empresa, encontra algo que desafia as típicas narrativas de crescimento ou morte do Vale do Silício: uma história complicada de sucesso incrementado e potencialmente acelerado, mas nublado por sonhos gigantes do passado. É um destino que outras startups do Vale do Silício podem ter que encarar, especialmente com o mergulho em mercados públicos e privados em busca de financiamentos para empreendimentos em tecnologia.

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Os problemas da Dropbox têm menos a ver com a força de seu negócio atual do que com uma demora, até agora, em corresponder às expectativas imensas que antes cercavam a empresa. A startup é como aquela estrela de basquete do colégio, o menino que vira profissional, mas ainda é visto com dúvidas, porque todos agora perceberam que talvez ele nunca seja o próximo LeBron James. O que acontece com uma empresa que já foi avaliada em US$10 bilhões quando descobrem que ela agora vale apenas US$5 bilhões ou US$2 bilhões?

De acordo com seus executivos, nada tão terrível – pode apenas esperar que o congelamento do mercado acabe e talvez volte à sua avaliação de US$10 bilhões. Em outras palavras, a Dropbox pode continuar trabalhando e ainda tem a capacidade para se tornar LeBron. “Os sentimentos sobre as empresas acontecem em ciclos”, contou-me por e-mail o cofundador e executivo chefe da Dropbox, Drew Houston. “O Google, a Apple, o Facebook, todos passaram por várias fases disso. Primeiro, você não faz nada errado; depois, você não faz nada certo. Então, as pessoas começam, ‘Na verdade, essa é uma empresa muito boa’, e assim vai. Você tem que ignorar o barulho, focar em construir grandes produtos e deixar os clientes felizes. O resto vai se ajeitar.”

No momento, dizem executivos, a Dropbox não corre nenhum perigo urgente. Se estivesse ficando sem dinheiro, talvez fosse forçada a levantar mais fundos a um valor mais baixo do que da última vez – a temida “arredondada para baixo” – mas executivos e membros do conselho dizem que a empresa tem dinheiro o suficiente no banco e está gerando o bastante com suas operações para financiar uma expansão com novos produtos e serviços.

Outros números também são promissores, afirmam eles. Mais de 400 milhões de pessoas usam o serviço da empresa – um local para manter documentos online, para que possam ser compartilhados e sincronizados de maneira fácil entre pessoas e computadores diferentes – e o serviço ganha 10 milhões de usuários por mês. A Dropbox também tem 150 mil clientes corporativos, que pagam taxas anuais de cerca de US$150 para cada funcionário, e esses números estão crescendo em cerca de 25 mil negócios a cada trimestre.

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Pessoas de dentro não quiseram especificar a receita e a taxa de crescimento da Dropbox, além de dizer que houve aumentos desde a última rodada de financiamento, quando a receita anual da companhia foi anunciada em US$ 400 milhões.

Executivos também afirmam que a retenção e a contratação de funcionários não foram atingidas pelas notícias recentes. Perguntei a vários recrutadores se eles perceberam que o interesse em trabalhar na Dropbox havia diminuído; a resposta foi não. No ano passado, a empresa contratou gente do Facebook, do Google, da Microsoft e do Twitter.

“A Dropbox está crescendo na mesma trajetória que as melhores empresas de software de serviço – como o LinkedIn ou a Salesforce. Não sei como não poderíamos não estar felizes com esse tipo de performance”, afirma Bryan Schreier, membro do conselho da startup e sócio da firma de investimentos Sequoia Capital, que colocou dinheiro na empresa.

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Desafios. Mas, se a Dropbox ainda pode encantar seus investidores, também vem reunindo um coro de céticos. A empresa é uma das muitas que procuram surfar em duas ondas que hoje varrem o mundo dos negócios – a tendência de softwares voltados para negócios que funcionam, conhecidos como de “consumerização da tecnologia de informação”, e a vontade crescente das empresas de guardar seus dados mais preciosos em serviços on-line ou nas nuvens.

A questão da Dropbox é que seu produto para clientes corporativos é relativamente novo se comparado ao de seus rivais como a Box, que foi fundada antes e começou a focar em clientes corporativos mais cedo. A Dropbox está atrás da Box quando se trata de atrair o segmento mais lucrativo do mercado – as grandes empresas que pagam mais para colocar seus dados on-line.

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Além disso há a questão de que a Box, que teve que gastar centenas de milhões de dólares para montar um time de vendas para ir atrás de grandes empresas, tem sido atacada por seus investidores por causa das perdas persistentes. O mercado de ações agora avalia a Box em cerca de US$1,3 bilhão, cerca de metade do valor de quando abriu o capital em janeiro de 2015.

Isso estabelece comparações pouco favoráveis: se a Dropbox está atrás da Box na melhor parte do mercado, e se a própria Box perde dinheiro, como a primeira pode valer dez vezes mais do que a segunda?

A Dropbox argumenta que a comparação com a Box não leva em conta as diferenças entre os modelos de negócio das duas companhias. Claro, a Dropbox está desenvolvendo uma equipe de vendas e expandindo a oferta de produtos para clientes corporativos. Mas Dennis Woodside, chefe de operações da Dropbox, afirma que o reconhecimento mais amplo da marca faz com que o processo de vendas seja mais eficiente – e assim mais barato – do que o da Box.

Como uma empresa tem capital aberto e a outra é privada, e como elas operam de maneira diferente, é difícil dizer se a Box ou se a Dropbox – sem mencionar o Google ou a Microsoft – vão ficar com a melhor parte do negócio corporativo de serviços na nuvem. Os analistas dizem que, no momento, o mercado é grande o suficiente, e bastante aberto, para que todas essas empresas prosperem.

A questão mais sombria não é se a Dropbox pode construir um bom negócio, mas se pode se tornar a galinha de ovos de ouro de US$ 10 bilhões que os investidores um dia acreditaram que seria. Relatos de sua morte são prematuros. Mas os de seu retorno à prosperidade também.

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