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‘O cinema parou de inovar como negócio’, diz ex-executivo da Netflix

Principal nome da Campus Party em 2017, Lowe tenta emplacar na ‘telona’ o modelo que consagrou o Netflix

Por Bruno Capelas
Atualização:
Para Mitch Lowe, ter foco é o fator que fez o Netflix ser o sucesso que é hoje Foto: Divulgação

Já imaginou poder assistir a um filme no cinema todos os dias pelo custo de uma assinatura mensal, sem precisar pagar o preço cheio do ingresso toda vez? Essa é a nova aposta de Mitch Lowe, um dos primeiros executivos do Netflix, serviço de streaming de vídeo que se transformou em sinônimo da própria categoria. “O cinema parou de inovar como negócio”, diz o empreendedor, que foi vice-presidente de desenvolvimento de negócios e alianças estratégicas do Netflix entre 1998 e 2003. Lowe é uma das principais atrações da 10.ª edição da Campus Party Brasil, que começa na terça-feira, em São Paulo.

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Na apresentação, Lowe vai falar sobre o MoviePass, empresa que lidera desde junho de 2016, e também sobre sua experiência no Netflix, onde ajudou a criar o sistema de assinaturas – na época, a empresa só enviava DVDs pelo correio e estava longe de ser a gigante do streaming que é hoje. “Eles mudaram de rumo”, diz o executivo, que sonha em ver o cinema apostando em novas ideias. Confira a entrevista exclusiva concedida ao Estado.

O que é o MoviePass?  Somos o Netflix do cinema: você paga uma assinatura mensal de US$ 50 e pode ver um filme por dia, todos os dias, em 90% das salas de cinema dos Estados Unidos. Queremos tornar a ida ao cinema mais fácil e frequente. Hoje, o cinema fatura cada vez mais, mas o número de ingressos vendidos nos Estados Unidos está caindo. Um ingresso de US$ 12 é caro para o americano. Com o MoviePass, se você vê um filme por semana, o sistema já se pagou e você se sente mais à vontade para ver um filme diferente. 

Um ingresso custa US$ 12 e a assinatura do MoviePass, US$ 50. Se o usuário for seis vezes ao cinema, o serviço têm prejuízo. Como ganham dinheiro?  Você tem razão. Hoje, temos uma pequena fatia de usuários que conseguem ir ao cinema todos os dias. A parte boa é que eles fazem propaganda do produto. A maior parte dos nossos usuários, porém, é lucrativa: eles usam o serviço bastante dois meses, depois passam alguns meses abaixo de cinco sessões de cinema. 

Não são poucos os usuários que deixaram de ir ao cinema depois do Netflix, que permite assistir filmes no conforto de casa. Ele é um rival do MoviePass?  Sou fã de cinema. Adoro ver filmes em uma tela grande e com ótimo som. Mas devo reconhecer: o cinema parou de inovar como negócio. Hoje, você entra e sai do cinema, sem que ninguém armazene seus dados, sabe o que você viu ou quem é você. O Netflix, a Amazon e outros serviços sabem quem você é, e usam as informações sobre o seu comportamento para produzir conteúdo. Com o MoviePass, estamos tentando conhecer o gosto das pessoas. 

O Netflix mudou muito desde que o sr. deixou a empresa?  Eles mudaram de rumo. Quando eu estava lá, nós queríamos ter o maior catálogo de filmes do mundo. Hoje, o modelo deles é parecido com o da HBO, de conteúdo exclusivo. Você assina porque quer muito ver uma série deles. Além disso, se tornaram especialistas em análise de dados. É por isso que eles têm ressuscitado séries e criado as próprias, baseado nas referências do que as pessoas querem ver.

O sr. se arrepende de ter saído do Netflix?  Eu me arrependo de ter saído de todas as empresas em que trabalhei. É como mandar um filho para a faculdade. Mas sou empreendedor e, em 2003, o Netflix tinha acabado de abrir capital e se tornou mais corporativo e organizado. Me senti desconfortável. 

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Qual a decisão mais difícil que o sr. acompanhou no Netflix?  Em 1998, começamos o negócio alugando DVDs pela internet, a US$ 2,99 por título. Não deu certo: muita gente preferia usar a locadora do bairro. Um dia, entramos no armazém e tínhamos 1 milhão de DVDs. “Por que isso está aqui e não com os usuários? Voltem amanhã com uma ideia para resolver isso!”, disse Reed Hastings (fundador e presidente executivo do Netflix). Assim surgiu o serviço de assinatura, com um preço mensal para receber quantos filmes os clientes conseguissem ver. Outra decisão difícil foi em relação aos anúncios de grandes estúdios nos envelopes em que os filmes eram entregues. Tínhamos um negócio que podia faturar US$ 25 milhões por ano. Uma vez, um estúdio demorou para aprovar o anúncio e atrasamos a entrega de filmes. Hastings não teve dúvida: parou de vender propagandas, pois nosso negócio era mandar filmes de forma rápida. Isso é o que fez o Netflix ser o que é hoje: foco.

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