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O espelho de dois lados do Facebook

Empresa revela pouco de seus métodos, mas usa cada vez mais dados dos usuários

Por Jim Rutenberg
Atualização:
Ao demorar para explicar Trending Topics, Zuckerberg mostrou que não está disposto a compartilhar políticas Foto: AP

Se as pessoas se preocupassem em ler as frases em letras pequenas ao criar sua conta no Facebook, veriam o quanto estão entregando a Mark Zuckerberg e a sua rede social de US$ 340 bilhões. Em troca de se conectar com os amigos, as pessoas entregam sua vida em forma de conteúdo – o direito de divulgar anúncios a partir do jogo de basquete de sua filha; fotos de sua festa de aniversário; ou uma emotiva nota sobre sua volta à saúde após uma doença grave. Também dá a eles o direito de usar as informações para ajudar anunciantes a oferecer produtos, com base em seu estado de gravidez ou fim de seu casamento.

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Há proteções da privacidade. O Facebook diz que não compartilhará sua identidade com anunciantes sem sua permissão. E as pessoas podem estabelecer limites sobre o que eles podem saber. Mas, na base desse relacionamento está um grau de abertura que o Facebook exige dos usuários para cumprir sua missão de “tornar o mundo mais aberto e conectado”.

Mas quão aberto o Facebook pode ser em troca disso? O modo como ele inicialmente administrou as explosivas acusações de preconceito político em sua seção de assuntos mais comentados, conhecida como Trending Topics, só pode levar a uma resposta: não muito.

O Facebook continua a ganhar influência sobre o que as pessoas conversam. Isso e perceptível pelo espantoso crescimento no número de usuários, que já chegou a 1,6 bilhão de pessoas. Cada vez mais, essas pessoas gastam tempo no Facebook não apenas para compartilhar amenidades pessoais com amigos, mas – para mais de 40% dos americanos adultos, segundo o Pew Research Center – ficar por dentro das notícias que entram e saem no seu feed na rede social. Assim, o Facebook tem agora o poder de controlar boa parte da discussão nacional se decidir fazer isso, papel que divide com rivais do Vale do Silício como o Google e o Twitter.

Polêmica. O Facebook se envolveu numa grande crise no início desse mês, para a qual a sinceridade é sempre a melhor saída. A notícia de que o Facebook teria uma equipe de editores terceirizados que manipulavam a lista de Trending Topics – e estariam suprimindo “novas histórias de interesse para leitores conservadores” – ficou sem resposta da companhia.

Algum tempo depois, chegou a demorada e incômoda resposta. O Facebook afirmou que não encontrou “evidências” corroborando tais alegações e que não “incorporava histórias artificialmente” na lista de tópicos. A empresa disse, ainda, que adotava “diretrizes rigorosas” para assegurar a neutralidade. Mas quando jornalistas pediram mais detalhes sobre as diretrizes editoriais, a empresa não quis abordar o assunto.

Foi somente depois que o jornal britânico The Guardian obteve um antigo exemplar das diretrizes dos Trending Topics que o Facebook forneceu mais informações e atualizou o manual (leia box acima). Eles mostraram que os humanos trabalham com algoritmos para formar as listas e poderiam criar títulos em determinadas circunstâncias, contradizendo comunicado inicial do Facebook. Foi uma revelação equivalente a um tiro no próprio pé.

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Quando sua equipe preparou as respostas para perguntas do senador John Thune, da Dakota do Sul, Mark Zuckerberg deu mais um passo para a luz ao manter uma reunião no campus do Facebook com comentaristas e executivos de mídia conservadores, incluindo a apresentadora da Fox, Dana Perino e o editor do Daily Caller, Tucker Carlson.

Muitos dos visitantes pareceram pelo menos temporariamente satisfeitos com suas explicações: de que o Facebook não havia encontrado até agora nenhuma tentativa sistêmica para remover qualquer notícia conservadora da lista de tópicos do momento e que tal medida prejudicaria o imperativo principal do Facebook. Em termos mais leigos, o objetivo da rede social é conseguir que qualquer pessoa na face da Terra gaste cada momento desperto conectado ao site.

Mas um tema mais importante, embora subjacente, acabou surgindo durante a reunião: o poder dos algoritmos, que determinam o que entra no feed de notícias do Facebook.

“O que eles têm é um poder desproporcional concentrado de maneira nunca antes vista”, disse Carlson, após o encontro. /TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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