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O homem que parou o WhatsApp no Brasil

Comparado ao juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, juiz Marcel Maia Montalvão também esteve por trás da prisão de executivo do Facebook em março

Por Antônio Carlos Garcia
Atualização:

Aracaju – O juiz Marcel Maia Montalvão, 55 anos, que derrubou o WhatsApp por pouco mais de 24 horas e que, em março passado, mandou prender o vice-presidente do Facebook na América Latina, Diego Dzodan, é um homem recluso, anda em carro blindado, oferecido pelo Tribunal de Justiça de Sergipe, e tem segurança do Estado durante 24 horas. É firme nas decisões e honesto e investiga uma quadrilha internacional de drogas em Lagarto, daí a insistente busca dos diálogos no WhatsApp. Em Sergipe, chega a ser comparado por alguns advogados, como um Sérgio Moro – o juiz federal da Operação Lava Jato.

O perfil de Marcel e a informação da investigação sobre a quadrilha internacional que está sendo investigada são do também juiz e amigo pessoa, Manoel Costa Neto, da Comarca de São Cristóvão, região metropolitana de Aracaju. Eles se conhecem desde os 11 anos de idade. “Por Marcel ser diligente e rigoroso, a Polícia Federal sempre lhe busca como apoio na investigações”,  afirmou Costa Neto, ao lembrar que ele e Marcel passaram no vestibular para Engenharia Química. Manoel nem chegou a cursar e foi fazer Direito, mas Marcel prosseguiu.

Marcel Maia Montalvão Foto: Divulgação

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Segundo Manoel Costa Neto, Marcel foi um aluno tão exemplar que saiu da faculdade para o emprego, na Exxon e se tornou o maior especialista na América Latina em lama de petróleo. “Ele ganhava, na época, o equivalente a R$ 100 mil por mês, até que um acidente numa plataforma no Rio de Janeiro, começou a por fim à sua carreira”, lembrou Costa Neto.

“Ele recebeu um vultosa indenização da empresa, num acordo de demissão, mas o Plano Collor confiscou o dinheiro. Ele passou três anos afastado do setor petrolífero e quando voltou ninguém o quis mais. Resultado, Marcel ficou vivendo com uma mesada do pai, de R$ 50 por mês. Se fosse um desequilibrado teria bebido veneno ou dado um tiro na cabeça” contou.

“Marcel é tão rígido que chega a ser chato. Eu estou dizendo isso porque sou amigo de muitos anos dele”, afirmou Costa Neto. “Mas é um criatura simples demais. Quando ele entrou para magistratura, foi para Estância e lá desbaratou uma quadrilha do PCC (Primeiro Comando da Capital) e a polícia descobriu um esquema para matá-lo. Em virtude disso, pegou uma licença do Tribunal de Justiça e passou quatro meses no exterior. Hoje vive recluso em casa, porque não quer sair escoltado pela polícia. Faz audiência armado e com colete a prova de balas. Ele sempre pede desculpas aos advogados por trabalhar  armado”, narrou  Costa Neto.

Postura – “Ele fala direto, não gosta de arrodeios, como se diz aqui no Nordeste, mas isso não lhe tira a educação”, disse o presidente da Associação dos Magistrados de Sergipe (Amase), Antônio Henrique de Almeida Santos. Marcel entrou na magistratura em 2004, “é um excelente profissional e batalhador e vem de outra profissão e mudou completamente o rumo”. O juiz era engenheiro químico e depois resolveu enveredar pelo Direito e passou no concurso para juiz.

Para o presidente da Ordem dos Advogados em Sergipe (OAB-SE),  Henri Clay Andrade, Marcel é um juiz sério e diligente. “Não conheço  nenhum ato de reprovação profissional dele. As decisões são muito rigorosas e ele leva muito sério o combate ao crime organizado, ao  tráfico de entorpecentes”, afirmou. Henri Clay considerou desproporcional a  decisão de bloquear o WhatsApp, prejudicando 100 milhões de pessoas no País.

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O presidente da Associação Sergipana dos Advogados Criminalistas, Emanuel Cacho, disse que Marcel é bastante rígido nas posições, mas é um homem sério e equilibrado. “A rigidez dele é dentro da legalidade. É um juiz ativo que não deixa de decidir. Assim como Moro (Sérgio Moro) revolucionou  a capacidade que o juiz tem de fazer investigação criminal, naturalmente como Ministério Público Federal e Polícia Federal,  Marcel é o que podemos chamar de um excelente juiz. Simplesmente, ele não lava as mãos, não para diante das dificuldades e tem tentado buscar soluções jurídicas, embora surpreendentes, mas dentro do campo da legalidade”, completou Cacho.