Tirar fotos não desvia a atenção do momento, diz estudo

Pesquisadores concluíram que tirar fotos ajuda as pessoas se lembrarem mais detalhadamente do que viram, mesmo sem rever as imagens

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Por Steph Yin
Atualização:
Tirar fotos não tira pessoa do momento, diz estudo Foto: Reuters

Nesta segunda-feira, serei um dos milhões a observar a Lua abrir um buraco no Sol durante o Grande Eclipse Americano de 2017. Penso em como vou gastar os dois minutos de êxtase, quando o dia se renderá à noite. Devo capturar a experiência em fotos? Ou apenas mergulhar no momento, tão fundo quanto possa?

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Na verdade, as duas coisas não precisam se opor, segundo estudo divulgado neste mês no jornal Psychological Science. Por meio de vários testes, pesquisadores concluíram que tirar fotos durante um evento ajuda as pessoas se lembrarem mais detalhadamente do que viram, mesmo sem rever posteriormente as fotos. No entanto, ficar clicando sem parar pode também diminuir a quantidade de informações orais retidas.

Os resultados confirmam as conclusões de outra pesquisa, publicada no ano passado pelo mesmo grupo, de que tirar fotos deixa as pessoas mais engajadas no que estão fazendo, permitindo-lhes apreciar melhor os pontos positivos de um evento.

Prevê-se que neste ano a população mundial tirará 1,3 trilhão de fotos. “É algo que está dominando nossas vidas”, disse Alix Barasch, professora na Stern School of Business, da Universidade de Nova York, e coautora das pesquisas, ressaltando que “ninguém ainda estudou de verdade os efeitos psicológicos de se tirar fotos.”

Numa experiência recente, Barasch e colegas pediram a um grupo que percorresse uma exposição num museu enquanto ouviam o áudio da mostra. Os participantes podiam fotografar livremente ou deixar celulares e câmeras do lado de fora.

Em seguida, foi feito um teste de memorização. Os que tiraram fotos lembraram-se de mais de informações do áudio que os que não haviam fotografado. Segundo Barasch, a concentração  apenas no visual reduz o uso de outros sentidos, como a audição. 

Em experiências correlatas, participantes visitaram galerias de arte virtuais com a opção de fotografar os monitores em que eram exibidas as obras. Também ali os pesquisadores constataram mais memorização entre os participantes que fotografaram do  que entre os que evocaram apenas imagens mentais.    

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As descobertas sugerem que o processo de olhar em torno em buscado que fotografar “leva na verdade a pessoa a codificar conteúdos visuais e recordar-se deles”, disse Barasch. 

Michael C. Hout, professor de psicologia na Universidade Estadual do Novo México, questionou a importância prática das descobertas. Para ele, embora os efeitos de se tirar fotos observados na memorização possam ser estatisticamente significativos, a melhora seria “de apenas 2% ou 3%”.  

Linda Henkel, professora de psicologia na Universidade Fairfield, achou o estudo importante por desafiar a crença popular de que tirar fotos quase sempre desvia a atenção do conjunto. 

Também Alix Barasch disse que no início suspeitava que a fotografia casual desviasse as pessoas do momento vivido. “Mas, à medida que fomos coletando mais e mais dados durante os últimos cinco ou seis anos, passamos a entender que tirar votos na verdade envolve mais as pessoas nas experiências.”

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Um alerta importante: numa pesquisa ainda não publicada,grupo de Alix concluiu que tirar fotos com o objetivo básico de compartilhá-las na mídia social pode neutralizar os efeitos positivos na memorização.

“Se você está concentrado em tirar a foto perfeita para conseguir likes e comentários, a ansiedade pode aumentar”, disse Barasch. Concluindo, tiro ou não tiro fotos durante o eclipse? Barasch me encorajou a tirar – desde que seja para minha satisfação e não para desencadear reações no Instagram ou no Snapchat.

Suspeito que minha decisão só será tomada nos momentos finais. Caçadores de eclipses veteranos advertem que tirar fotos pode prejudicar a fruição do fenômeno. Além disso, sei que meus recursos fotográficos de amador não farão justiça aos céus. Mas, como não tirar umas poucas fotos daquele momento em que o horizonte vira um pôr do sol de 360°, as pessoas não respiram, o vento dá um tempo e até os pássaros emudecem?/ TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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