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Uma breve história da arte do Emoji até Hollywood

Entenda o movimento artístico por trás dos símbolos de smartphones, que acabam de ganhar um filme

Por Amanda Hess
Atualização:
'Emoji, o Filme' é inspirado nos símbolos dos celulares Foto: Sony Pictures Animation/Sony Pictures Animation, via Associated Press

Emoji: o Filme é a apoteose da tendência consumista dos filmes de grande sucesso de Hollywood. Neste momento, o smartphone é um playground e as empresas de tecnologia recriam seus produtos como enfeites de Natal cintilantes para vender para as crianças. No filme, três emojis perseguem seus sonhos enquanto navegam pelo Spotify, escalam um nível do jogo Candy Crush e sobem na nuvem pelo aplicativo mais conhecido do meio, o Dropbox.

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O filme consolida o lugar dos emojis como símbolos definidores do capitalismo global – uma forma de expressão que transcende as barreiras da língua e confere um toque de afeto aos smartphones, esses aparelhos frios e insensíveis. Mas antes do emoji chegar a Hollywood, artistas ligados na mídia eletrônica já o utilizavam em seu trabalho para evocar as maravilhas e os riscos da era digital. Eis alguns momentos emblemáticos da arte da “emojificação”.

‘Emoji Dick’

Livro doMoby Dickfoi escrito com linguagem de emojis Foto: Fred Benenson

Em 2010, o emoji ainda não havia chegado aos smartphones americanos, mas Fred Benenson já trabalhava na tradução do livro Moby Dick para a linguagem dos emojis. O Emoji Dick foi objeto de um financiamento coletivo e teve participação coletiva na sua produção – as traduções foram feitas por centenas de pessoas recrutadas pelo Mechanical Turk, plataforma de empregos online da Amazon.

Podemos afirmar com segurança que o Emoji Dick não rivaliza com o original. “Pode me chamar de Ishmael” aparece traduzido como um emoji de telefone, um emoji de homem, um barco e, finalmente, um emoji de mão. Mas a tradução deixou sua marca como um experimento no campo do trabalho e da linguagem digital. A Livraria do Congresso o adquiriu em 2013.

‘A Book from the Ground’

Livro escrito com linguagem parecida com o de emojis Foto: Xu Bing Studio

“Há 20 anos, eu concebi A Book from the Sky, composto de caracteres chineses ilegíveis que ninguém conseguia ler”, escreveu o artista chinês Xu Bing em 2012. “Agora criei The Book from the Ground, que qualquer pessoa consegue decifrar”. Sua produção durou uma década e o livro constrói um dia na vida de um trabalhador de colarinho branco moderno em pictogramas. É escrito num emoji rudimentar, mas também tem mapas, logomarcas de empresas e partituras musicais.

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Em parte ele é um projeto artístico, em parte um romance literário: abrir este livro é um exercício mental transformador, em termos de leitura e de visual. E ao contrário de Emoji Dick, com seu estilo de tradução mecânico e literal, The Book from the Ground consegue fazer poesia usando símbolos que é instantaneamente assimilada pelas pessoas em todo o mundo.

‘Boring Angel’

Boring Angel, música composta em 2013 pelo artista de música eletrônica Oneohtrix Point Never, conjuga os sons do computador e a ressonância comovente da música. O vídeo, criado pelo artista John Michael Bowling, tem um efeito similar, utilizando imagens efêmeras digitais para compor uma narrativa atemporal.

Bowling apresenta uma tela vazia mostrando somente um pequeno personagem em emoji em movimento constante e rápido pelo teclado para expressar uma vida inteira em apenas quatro minutos. Vivenciamos a tristeza (um emoji de coração partido) ou com ar de choro; ou a dependência (uma sequência mostrando uma pílula ou uma seringa), a morte (emoji esqueleto) e finalmente a esperança de uma vida após a morte (tudo acaba com uma figura de mãos unidas em oração).

‘Garden of Emoji Delights’

O Jardim das Delícias Terrenas, famosa obra do pintor Hieronymus Bosch Foto: Garden of Emoji Delights

O Jardim das Delícias Terrenas, famosa obra do pintor Hieronymus Bosch, descreve a história do universo a partir da criação, da civilização e do inferno. As centenas de sobreposições animadas de emojis baseadas no quadro de Bosch atualizam a narrativa para nossa era digital (e nuclear). Os já surreais símbolos de Bosch são levados ao auge do excesso consumista.

As figuras nuas de Adão e Eva são imagens gráficas e sorridentes; Jesus é um emoji sinalizando paz; e no final um Éden com uma grande explosão de ogivas nucleares, enviando a civilização de volta para a natureza (emoji em forma de árvore) e um inferno no gelo (emoji em flocos de neve). Essa peça está à mostra em Bunker, uma exposição de arte digital na Sotheby’s.

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The Original Emoji

Os próprios emojis são objetos de design fascinantes, orientados para a cultura em que são criados e compartilhados. No ano passado o Museu de Arte Moderna adquiriu o primeiro grupo de personagens. Desenhados por Shigetaka Kurita para uma provedora de celulares japonesa, o conjunto de 176 emojis, cada um deles produzido em um quadro de 12x12 pixels, inicialmente em branco e preto, chegou aos celulares em 1999. Seus desenhos são uma mescla de criatividade e consumismo, inspirados nos livros cômicos e gráficos japoneses e na publicidade corporativa.

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