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Voluntários se unem ao aplicativo Moovit para mapear transporte público

Inspirado pela Wikipédia, app que auxilia passageiros a planejarem seus trajetos recorre à ajuda de pessoas comuns para organizar informações sobre linhas, horários e pontos de ônibus; atualmente, 65% dos dados da plataforma vêm de colaboradores

Por Thiago Sawada
Atualização:
Escritório da startup Moovit, em Israel Foto:

Cinco horas e meia era o tempo que o jornalista Cristiano Martins, 32 anos, gastava todos os dias no trânsito durante os três anos que morou em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre. Ele deslocava-se 40 quilômetros para estudar em São Leopoldo e outros 40 quilômetros para trabalhar na capital. As viagens, sempre realizadas em transporte público, até poderiam ser mais rápidas, mas não havia informações sobre a rede de transporte público no Estado que permitissem que ele planejasse seus trajetos com mais eficiência.

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A rotina difícil começou a mudar quando o aplicativo de transporte público Moovit chegou à cidade, em 2014. Ele permitiu que Martins e outras pessoas que dependem de ônibus e metrô pudessem traçar rotas para se deslocar pela cidade, considerando o caminho mais rápido. O problema é que o aplicativo ainda tinha poucas informações. Martins se dispôs a ajudar: ele passou a pedir dados de trajetos e pontos de ônibus à prefeitura de Porto Alegre e adicioná-las aos mapas do Moovit. “Queria contribuir não só com a minha rotina, mas com a de milhões de pessoas que dependem de transporte público.”

Martins é um dos integrantes da rede de global de editores de mapas do Moovit, que hoje reúne uma comunidade de 75 mil pessoas em todo o mundo. Esse grupo é formado por pessoas como Martins, que se dispõem a trabalhar de graça para a empresa israelense. Essas pessoas têm o objetivo comum de melhorar a mobilidade urbana em vários países. 

Peso brasileiro. O aplicativo é considerado o “Waze do transporte público”, em referência ao aplicativo de mapas que ajuda motoristas de carros a escaparem do trânsito em grandes cidades. O Moovit oferece em tempo real informações sobre rotas e horários de ônibus, trem e metrô. De acordo com a startup israelense, mais de 40 milhões de pessoas utilizam o aplicativo – 13 milhões só no Brasil. O serviço está presente em mais de cem cidades do País.

“É difícil manter dados atualizados sobre o organismo vivo que são as cidades”, diz Pedro Palhares, diretor de operações do Moovit no Brasil. “Elas mudam o tempo todo.” É por isso que, pouco depois da fundação, a empresa resolveu recorrer aos usuários, numa estratégia similar à da Wikipédia, maior enciclopédia online do mundo.

Deu resultado. Hoje, os editores são responsáveis por 65% dos dados usados pelo Moovit. Além disso, em cerca de 66% da cidades onde o serviço atua, todos os dados sobre a malha de transporte local são administrados por editores, sem intervenção da empresa. O assistente administrativo Vitor Rodrigo Dias, 31 anos, é um dos dez editores da Moovit na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Desde criança, Dias sempre se interessou por mobilidade urbana. “Eu gostava de ler catálogos telefônicos antigos que mostravam as linhas de ônibus”, conta. Nas redes sociais, ele viu um anúncio da Moovit recrutando novos editores. Desde 2014, ajudou a levar o serviço da Moovit para 44 municípios e, atualmente, está prestes a concluir mapas de outras quatro cidades em Minas Gerais. Todos os dias ele dedica entre duas e três horas para ligar para as secretarias de transporte da região e vasculhar sites do governo em busca de dados.

Motivação. Para o diretor executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio), Fabro Steibel, modelos de negócios colaborativos funcionam a partir de uma lógica quase altruísta. “O que a pessoa ganha ao participar deste sistema não é dinheiro, mas um coletivo melhor”, explica.

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Na avaliação de Steibel, o Moovit, ainda que seja uma empresa privada, mobilizou uma comunidade ativa, porque as pessoas veem nos mapas um bem coletivo, não um produto. O aplicativo – que é gratuito e não exibe anúncios – ainda testa modalidades para gerar receita. No total, a startup já levantou US$ 83 milhões em investimentos.

Engajar uma comunidade em torno de uma causa não é fácil. “A empresa que consegue fazer rodar essa engrenagem tem um poder absurdo”, diz o professor de comunicação digital da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Eduardo Pellanda. 

É o caso da Wikipédia, que só se tornou a maior enciclopédia online do mundo por causa do poder de sua comunidade global de editores. No total, mais de 300 mil pessoas em todo o mundo dedicam algumas horas de seu tempo livre todo mês para ajudar a construir a base de conhecimento, sem receber nada em troca. “O que fortalece a Wikipédia é a abertura e o poder na mão da comunidade de editores”, diz o coordenador de projetos do Grupo Wikimedia no Brasil, Rodrigo Padula.

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