Como o fraco desempenho da Dell pode afetar seu acordo de US$ 67 bilhões com a EMC

Receita da empresa é menor que em anos anteriores, mesmo após fechar o capital

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Por Agências
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por Peter Eavis, do The New York Times

O plano da Dell para levar a cabo um dos maiores acordos da história da tecnologia – com a compra da gigante de armazenamento de dados e software EMC por US$ 67 bilhões – pareceria legitimar a decisão, tomada há dois anos, de abandonar o mercado de ações e “fechar o capital”.

Longe dos holofotes e daquilo que alguns consideram as insistentes demandas dos mercados públicos, a esperança era de que a empresa pudesse dar vida nova aos negócios enfraquecidos. E o fato de a empresa agora pensar em comprar a EMC indica que fechar o capital valeu a pena.

Mas a Dell não está fazendo essa audaciosa oferta de uma posição muito forte. O desempenho financeiro da empresa enfraqueceu nos meses mais recentes, de acordo com documentos financeiros confidenciais analisados pelo New York Times. Na primeira metade do ano fiscal mais recente, a receita da Dell, sua renda líquida e fluxo de caixa provenientes das operações estavam mais baixos que no mesmo período do ano anterior. Além disso, mudanças financeiras que podem ser difíceis de sustentar pareceram ajudar os fluxos de caixa da Dell.

Em tese, o desempenho sofrível da Dell aumenta os riscos ligados à aquisição da EMC. Se a fusão com a EMC provocar grandes perturbações e distrações, isso poderia ser um peso para Dell e EMC nos anos vindouros. Não parece que havia outras partes seriamente interessadas na EMC. E, num momento menos amistoso nos mercados, com o crédito mais caro e difícil, a Dell talvez enfrentasse problemas para fazer a proposta vingar.

Um porta-voz da Dell não quis comentar os números.

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O acordo tem seus defensores. Estes afirmam que a compra da EMC permitirá à Dell investir além dos computadores pessoais, e a entidade combinada será uma gigante melhor preparada para concorrer num setor de tecnologia em mudança cada vez mais acelerada.

“Acreditamos que a empresa resultante estaria melhor posicionada para oferecer o tipo de solução de TI para infraestrutura que o mercado agora demanda”, disse o analista Richard J. Lane, do Moody’s Investor Service. Na segunda-feira, a Moody’s disse que está analisando se a classificação de crédito da Dell teria a nota aumentada (atualmente a empresa tem nota ruim).

Os defensores da decisão de fechar o capital podem fazer pouco caso do desempenho enfraquecido da Dell, dizendo que às vezes uma empresa em transição precisa aceitar alguns golpes financeiros para poder se reposicionar. Poderiam acrescentar que as empresas fecham seu capital justamente para evitar o pessimismo e os palpites que vemos quando uma empresa apresenta resultados financeiros abaixo da expectativa por alguns trimestres.

Ainda assim, faz dois anos que a Dell fechou o capital, o que deveria bastar para apresentar alguns sinais de boa saúde.

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A Dell envia informes financeiros trimestrais somente aos detentores de valores mobiliários de sua dívida. Como esses papéis foram vendidos de acordo com regras especiais a investidores institucionais, a empresa não precisa divulgá-los publicamente à Comissão de Valores Mobiliários (SEC em inglês). (Um porta-voz da Dell disse que a divulgação dos resultados agregados da empresa será realizada como resultado da fusão com a EMC).

O documento financeiro de 44 páginas analisado pelo NYT corresponde ao segundo trimestre fiscal da Dell, encerrado em 31 de julho de 2015.

Nos seis meses que antecederam a data, a Dell teve prejuízo líquido de US$ 768 milhões, ante prejuízo de US$ 570 milhões no mesmo período do ano anterior. A receita também estava em queda, recuando para US$ 27,5 bilhões nos seis meses mais recentes, ante US$ 29,5 bilhões no mesmo período do ano anterior. A margem bruta da empresa – ou a receita menos os custos ligados à fabricação dos produtos e prestação dos serviços, expressada como percentual da receita – caiu para 17,1% nos primeiros seis meses do ano fiscal mais recente, ante 18% no mesmo período do ano fiscal anterior.

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Um declínio na margem bruta pode mostrar que a receita da empresa está caindo mais rápido que seu custo. E, ao debater a margem bruta, os documentos da Dell apontaram para alguns dos desafios enfrentados pela empresa na divisão voltada para a venda de computadores. Os papéis dizem que o encolhimento da margem foi “decorrente principalmente de um declínio geral no mercado, resultando numa redução nas vendas de unidades laptop e desktop, somado a uma desafiadora dinâmica de preço”. O lucro bruto para este segmento chegou a US$ 2,5 bilhões nos primeiros seis meses do ano fiscal mais recente, uma queda ante os US$ 3,4 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior.

Os documentos também mostram que o braço financeiro da Dell está emprestando um pouco mais aos clientes para o financiamento da compra de seus equipamentos e serviços. No final de julho, a empresa tinha oferecido US$ 5,17 bilhões em crédito, ante os US$ 5,03 bilhões observados em 30 de janeiro de 2015, encerramento do ano fiscal mais recente.

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Nas empresas mais endividadas, os fluxos de caixa são considerados particularmente importantes. Embora a Dell apresente prejuízo em seu demonstrativo de renda, a empresa gera fluxo de caixa positivo em suas operações. Ainda assim, os US$ 733 milhões gerados nos primeiros seis meses do ano fiscal mais recente estão bem abaixo do US$ 1,16 bilhão registrado no mesmo período do ano anterior. E, no período mais recente, a Dell parece ter extraído de suas fontes mais recursos do que seria habitualmente possível, pressionando os clientes a pagar mais rapidamente, por exemplo. Os fluxos de caixa também foram beneficiados por uma grande mudança positiva numa linha chamada “outros ativos”.

Mas alguns analistas destacam que a EMC apresenta atualmente fluxos de caixa robustos, algo que poderia ajudar a empresa resultante da fusão e facilitar o pagamento dos juros e da dívida que a Dell terá de assumir para financiar a compra. “Teremos uma entidade com significativo fluxo de caixa livre, que poderá ser empregado para pagar parte da dívida”, disse Lane, da Moody’s. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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